Resenha: “The Gods We Can Touch” – AURORA (2022)

AURORA
Foto: Divulgação / Capa de “The Gods We Can Touch”

Feérico, ritualístico, sentimental e cinematográfico, estas quatro palavras descrevem as complexidades e movimentações do quarto álbum de estúdio da norueguesa AURORA, nome artístico de Aurora Aksnes. O disco foi lançado na última sexta-feira (21), como você pôde acompanhar aqui na Nação da Música, e conta com 15 faixas, com seis destas músicas já divulgadas anteriormente.

Até mesmo a estética vermelha utilizada em diversas etapas desta nova era se encaixa com as músicas, que muitas vezes tocam em aspectos como sangue, vinho e, o tema principal deste projeto, o amor. Claramente um disco pensado do começo ao fim e, mesmo que não perfeito, reflete sobre inúmeras facetas desta temática.

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Começando com uma aura ritualística, a intro “The Forbidden Fruits of Eden” é não verbal, com somente a voz de AURORA para guiar-nos para dentro deste novo universo. Os vocais da artista ecoam e envolvem o ouvinte com seu tom característico, quase como o canto de uma sirena, fazendo-nos começarmos o projeto já grudados nela.

A primeira faixa oficial do álbum é “Everything Matters”, com participação da cantora francesa Pomme. Além de ser a primeira colaboração em um álbum de Aurora, a canção mostra um lado novo da artista, com instrumentos eletrônicos sendo ouvidos por baixo das letras, nas quais a música foca-se.

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Direcionando-se a um interesse amoroso, AURORA canta sobre como todos os aspectos, mesmo os menores, importam em suas experiências – utilizando de metáforas como a comparação entre um átomo e uma estrela para englobar o universo em sua completude dentro de seu sentimento de amor.

Com uma batida já inovadora dentro da discografia da artista, AURORA distancia-se de sua imagem de fada ou anjo em “Giving In To The Love”, cravando suas garras em sua encantadora humanidade. Aceitando o amor do mundo, a cantora cria uma faixa cinematográfica, encaixando-se perfeitamente como a trilha sonora de uma cena de aceitação completa, atingindo um ponto em que até seus defeitos são passíveis de amor.

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Um dos primeiros singles do álbum segue-se, “Cure For Me” continua a temática de aceitação e amor – especialmente conectando-se à uma experiência LGBTQ+ nas letras desta música, comunidade da qual a artista faz parte. No entanto, o foco da canção está na produção, quase brincalhona, combinando com a estética selecionada para seu vídeo.

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É importante reforçar que esta é uma das primeiras faixas em que AURORA aventura-se pelo pop, logo a produção soa quase repetitiva e aleatória, como se a pessoa por trás do ritmo estivesse tentando utilizar todas as ferramentas que os sintetizadores oferecem.

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You Keep Me Crawling” também tem como característica a utilização de instrumentos eletrônicos, porém, a voz de Aurora toma a posição de protagonista, enquanto ela conta a história de um relacionamento desequilibrado sob a lente de idolatração de seu parceiro, mesmo no momento de questioná-lo, chamando-o de “Senhor” durante o refrão.

A sexta faixa do disco é “Exist For Love”, que foi o primeiro single desta nova era de Aurora. Voltando aos instrumentos orgânicos e aos ecos vocais, e utilizando sua voz feérica ao máximo, a cantora narra um momento de paixão completa, amando sem qualquer questionamento. AURORA poetiza esta relação, na qual o seu parceiro a faz sentir como se o mundo girasse em torno deles e ambos existissem só por este amor.

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Transportando-nos para um universo florestal e medieval, usando de instrumentos de corda para nos fazer sentir como se ela estivesse cantando em uma mágica clareira, “Heathens” é um dos maiores destaques do disco e é um exemplo de uma faixa tradicionalmente AURORA. No entanto, além disto, as letras são um momento diferente no álbum.

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Narrando o amor como um sentimento mais comunal e compartilhado por uma divindade ou ponto central, a cantora utiliza inúmeras figuras cristãs, como o Éden, pecados e até o verso “Caímos do céu com graça”, para criar este grupo de pessoas que vivem em pura liberdade e conexão com a Terra, ou com esta figura feminina que ela descreve.

Outro momento predominante pop, “The Innocent” mescla melhor esta nova faceta de Aurora com seu aspecto feérico característico, usando de instrumentos eletrônicos, mas ainda mantendo as movimentações quase ritualísticas de suas faixas animadas. Em suas letras, a canção é mais uma vez mais geral, narrando AURORA quase como uma força da natureza, construindo ela como uma figura que usa o amor contra a inocência completa.

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Invertendo as expectativas de faixas mais ‘para cima’ criadas com as duas músicas anteriores, e a seguinte também, “Exhale Inhale” é mais sombria, mantendo-se em um tom estável ao longo de toda a canção. Narrando sobre a destruição do mundo e os ataques à natureza, AURORA conecta-se de novo com este universo natural e coloca-se na posição desta divindade encantadora, expondo os choros da Terra.

A Temporary High” é a música mais inesperada do disco. Com um sintetizador característico do synthpop dos anos 80, engatado junto a um som mais orgânico de violão, a artista entra neste transe em que ela fala por uma autoridade feminina, etérea e mágica. A canção cresce como se esta personagem estivesse correndo atrás dos ouvintes, tornando-a interessante ao mesmo tempo que extremamente divertida.

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Na posição 11 em “The Gods We Can Touch”, a faixa “A Dangerous Thing” nos leva novamente a este universo mais sombrio de Aurora. Abrindo seu coração e cantando sobre uma relação abusiva, que a faz sentir como se não houvesse mais amor, a artista cria uma narrativa crescente na qual ela percebe o quão este interesse amoroso a faz mal.

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Retornando à personificação de deusas e poderes completos, “Artemis” questiona a audiência sobre sua reação em relação aos atos desta divindade grega, que até mesmo a cantora chama de selvagem.

A produção tem um toque latino, como o tango, e é cinemática na questão de que nos engolfa e apresenta-nos à essa persona de liberdade feminina.

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Sangue e vinho, substâncias vermelhas conectadas à estética deste projeto e aos sentimentos fortes que guiam Aurora, estão presentes em “Blood in the Wine”. Utilizando de metáforas anti-racionalização, a artista prega a vitória das emoções sobre o cérebro, além de introduzir a figura da “Mãe” libertária.

A produção da faixa também se encaixa perfeitamente nos sentimentos narrados em suas letras. A batida que é subitamente cortada em certas seções se trança à hesitação anterior à libertação completa, e o soar ritualístico, unido às ferramentas vocais de AURORA, forçam-nos a quebrar nossas próprias correntes.

Chegando ao final de “The Gods We Can Touch”, a penúltima canção “This Could Be A Dream” chega quase como um episódio de paz entre as músicas mais intensas do disco, mas, de forma alguma Aurora perde sua magia. Descrevendo um relacionamento em que o amor é tão puro que parece um sonho, a artista é um farol no escuro.

A Little Place Called the Moon” é o final absoluto do disco e realmente funciona melhor como um fechamento do que como uma canção solta. Quase completamente instrumental, a faixa de mais de quatro minutos usa os instrumentos orgânicos pelos quais AURORA é conhecida e inclui seus vocais feéricos como somente outro destes instrumentos. No verso cantado, a artista segura em nossa mão e nos leva da Terra, onde este disco inteiro se passa, acompanhando-nos para a Lua, seu universo etéreo.

“The Gods We Can Touch” é uma evolução de AURORA, isto é inegável. Aberta para maiores experimentações, ritmos e produções, a cantora quase consegue remover qualquer temporalidade de sua obra, mesclando a aura medieval e mágica de sua música com diversos momentos de sons mais atuais.

No entanto, os vales e picos do disco poderiam ter sido organizados de uma maneira mais linear, de forma que a rapidez de algumas faixas e a lentidão de outras não ficasse tão evidente e até caótico.

Porém, AURORA sempre foi uma força da natureza e sempre conseguiu puxar todos para dentro de seu universo característico, algo que ela faz com maestria neste álbum. Junto às faixas experimentais e pessoais, o disco é sentimental e honesto, além de carregado de mensagens importantes, marcando-se como uma ótima experiência.

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RESUMO DA RESENHA
AURORA - "The Gods We Can Touch"
Estudante de jornalismo, não-binárie e apaixonade por música. Sempre aberte para ouvir qualquer gênero, artista ou década. O universo do pop, principalmente hyperpop, k-pop e synthpop, é onde eu vivo e sobrevivo.
resenha-the-gods-we-can-touch-aurora-2022Trazendo-nos mais uma vez ao seu mundo mágico e feérico, AURORA consegue criar, em “The Gods We Can Touch”, um disco que ainda soa como ela, mas ao mesmo tempo é um marco evolucional em sua carreira, aventurando-se em outros gêneros e sons.