Após sete anos sem lançar um novo disco, finalmente o “Comedown Machine”, de 2013, ganha seu sucessor. “The New Abnormal” veio ao mundo nesta sexta-feira (10) e é o mais novo álbum de inéditas do The Strokes. A última vez que os caras tinham aparecido com faixas nunca antes ouvidas foi em 2016, em seu EP “Future, Present, Past”.
A nostalgia sempre esteve presente no som dos nova-iorquinos. Se em “Is This It”, de 2001, eles resgatavam a atitude, a agressividade e a sujeira dos anos 70, influenciados pelo garage rock, punk e pós punk da época, não demorou muito (nem foi tão difícil) para que a new wave da década de 80 aparecesse, ainda que timidamente, logo em seu segundo registro “Room on Fire”, de 2003, e a partir daí, foi ganhando cada vez mais destaque na sonoridade da banda, até chegarmos ao mais recente CD, que tem referências oitentistas espalhadas por todas as nove faixas.
Quem assina a produção do novo trabalho do The Strokes é Rick Rubin, renomado produtor conhecido por colaborar com grades nomes como Red Hot Chilli Peppers, Linkin Park, Metallica, Kayne West e mais. Sendo esta, a primeira vez que se junta com o grupo de Julian Casablancas.
Falando em colaboração, o autor da arte de capa do “The New Abnormal” é outro nova-iorquino, o artista Jean-Michel Basquiat. A pintura é chamada de “Bird on Money” (‘’Pássaro no dinheiro’’, em livre tradução) de acordo com um post feito no perfil oficial do quinteto no Instagram.
Diferente de seu antecessor, “Comedown Machine”, que foi gravado com os músicos separados, indo às sessões sozinhos para fazerem os takes de seus respectivos instrumentos, o novo disco, produzido na Califórnia, contou com a banda completa em estúdio, o que, certamente, deu ao novo registro a potência sonora que ele transmite aos ouvintes. Entretanto, as diferenças acabam por aí, já que o quinto CD do grupo também soa bem oitentista. Essa característica é mais forte, principalmente, nas produções solo de Julian Casablancas, mas também aparecem nos trabalhos independentes de Albert Hammond Jr e Nick Valensi (em seu projeto paralelo CRX), ambos guitarristas dos Strokes.
As influências dos anos 80 vêm devido ao fato dos caras, agora quarentões, terem tido sua infância exatamente nessa década, onde os sintetizadores dominavam a sonoridade das músicas daquele período, com timbres muito característicos que são reproduzidos nas faixas de “The New Abnormal”.
Contudo, os tiozões do indie rock não estão apenas nostálgicos, olham para o futuro da música e assimilam tendências contemporâneas aos seus novos sons. O experimentalismo, traço marcante em The Voidz (projeto paralelo de Casablancas), está presente também no The Strokes, ainda que de maneira mais sutil, especialmente neste novo álbum. Mas a vontade de experimentar não é recente e isso fica claro se olharmos para a canção “Ask Me Anything” do terceiro CD, “First Impressions of Earth”, de 2006, onde o vocalista canta sobre uma base feita em um sintetizador, muito semelhante ao que acontece em “At The Door”, primeiro single do novo trabalho.
Para os fãs mais apegados ao que o quinteto produziu nos anos 2000, e que não conseguem gostar tanto da sonoridade buscada a partir do “Angles”, de 2011, talvez falte ouvir para além dos hits, assim, a compreensão do que Julian e seus amigos tem feito em 2020 seja mais acessível. O que se ouve em “The New Abnormal” já vem sendo prometido desde “Comedown Machine” e do EP “Future, Present, Past” que traz o que os fãs que não superaram a década de 2000 querem, em “Threat of Joy”. O experimentalismo, semelhante ao The Voidz, em “Drag Queen”. E o som que a banda pretende entregar, como de fato entregou no mais recente disco, em “Oblivius”. Olhar para o EP de 2016 nos dá boas pistas para compreender melhor o álbum de 2020.
Agora vamos para uma análise faixa-a-faixa de “The New Abnormal”
Abrindo com “The Adults Are Talking”, a faixa foi primeiro indício de que um novo álbum do The Strokes estaria por vir. Tocada nos shows da turnê de 2019, antes de qualquer anúncio oficial, a música começa com baixo e bateria eletrônica e logo entra um riff de guitarra em palm mute, técnica de tocar as cordas abafadas, e em seguida, a voz num tom sussurrado. Essa vibe se estende por boa parte da música, até uma virada de bateria, que prepara para o refrão, onde temos um novo riff, que na verdade soa como algo que já ouvimos do próprio grupo. Termina com agudos de Casablancas e uma guitarra com um delay leve, enquanto a outra faz uma frase com um timbre que lembra um ringtone de telefone.
Logo na sequência, toca “Selfless”, a canção segue uma constante na maior parte do tempo, tendo dois pontos altos: Primeiro, pouco depois do começo, onde entra um solo de guitarra com um timbre que se confunde com o de um sintetizador. Segundo, mais para o final, conforme a música vai crescendo, ela ganha um peso. Encerra com um riff meio solto no contexto da música, só para acabar mesmo, característica comum nas finalizações das faixas da banda.
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“Brooklyn Bridge to Chorus” é a mais dançante do disco. A que promete ser a queridinha das baladas alternativas. Com seu refrão empolgante e bem pop, no sentido de ser chiclete, tem um riff no sintetizador que segue durante a música toda, além do solo de guitarra depois do segundo verso. Tudo isso em timbres bem oitentistas.
Após esse momento, temos o cover deles mesmos. “Bad Decisions” é aquela que agrada os fãs que esperam a banda que conheceram em 2001. A música se sustenta num riff de guitarra e tem um refrão que faz referência à icônica “Dance With Myself” de Billy Idol, que é creditado na canção.
“Eternal Summer” conta com os clássicos falsetes de Julian, que soam muito mais maduros e bem feitos neste novo trabalho. A composição segue numa vibe constante até entrar um vocal mais rasgado e aí começam as pirações, uma guitarra faz um barulho meio noise, mas nada demais e logo volta ao normal. Mais pro final a faixa ganha uns filters, técnica de mixagem, que deixa o som “abafado” e ela acaba do nada depois disso.
Vindo de um estranho encerramento da música anterior, o ouvinte se depara com “At The Door”, o primeiro single do novo CD. A faixa mais experimental é um convite a uma viagem por camadas de sintetizadores que se sobrepõe em timbres misteriosos e etéreos enquanto a voz de Casablancas nos guia por todo esse ambiente.
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“Why Are Sunday’s So Depressing?” Quem nunca se fez essa pergunta? Com uma vibe mais pop desde o começo, graças a uma levada de bateria que faz a música sempre ir para frente, é aquele tipo de canção boa para ouvir caminhando num dia de sol e quem sabe fazer os domingos serem menos deprimentes. No meio da música entra um sintetizador com um timbre no mínimo diferente e quebra um pouco esse clima, mas é apenas um preparativo para um solo, que funciona no contexto da música.
Depois do passeio ao ar livre, temos “Not The Same Anymore”, com um ar mais melancólico. A letra, sobretudo o título, soam como um recado a quem insiste em não aceitar que as coisas mudam.
Fazendo referência ao New York Mets, time de baseball do Queens, bairro da cidade em que The Strokes nasceu, “Ode To The Mets” trás um sentimento de despedida e funciona muito bem como encerramento do disco. Ela conclui o conceito do álbum, mas ainda deixa pontas soltas propositalmente. É nessa faixa que temos o já clássico “drums, please, Fab“, pedido que Casablancas faz para o baterista brasileiro, Fabrizio Moretti, para que ele comece a tocar. Entretanto, curiosamente, quem é creditado na bateria durante a gravação de estúdio é o guitarrista Nick Valensi.
Com o lançamento de “The New Abnormal” podemos perceber que o quinteto nova-iorquino está de bem uns com os outros novamente e, principalmente, estão se encontrando numa nova sonoridade que vem sendo buscada a muito tempo, entre erros e acertos. O novo trabalho entrega tudo de melhor que o The Strokes sabem fazer, funciona bem enquanto álbum, mas as músicas separadamente tem potencial para agradar todos os tipos de fãs da banda e eventuais ouvintes que estão chegando agora e entrar em suas respectivas playlists. Agora as expectativas para o show do Lollapalooza Brasil só aumentaram e a apresentação promete ser bem diferente de tudo que já vimos. Lembrando que devido à crise de COVID-19, o festival foi adiado para dezembro de 2019, nos dias 4, 5 e 6, os caras mostram “The New Abormal” ao vivo para a gente na segunda noite do evento.
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