Resenha: “Turn On The Bright Lights” – Interpol (2002)

Interpol
Divulgação

O início dos anos 2000 foi uma explosão musical inigualável para todos que o experienciaram e, para aqueles que infelizmente não tiveram a oportunidade, a sensação da época pode ser revivida através dos projetos que foram lançados, como é o caso de “Turn On The Bright Lights”, álbum de estreia do Interpol.

Lançado no dia 20 de agosto de 2002, o disco quase foi nomeado “Celebrated Basslines of the Future”, conforme sugestão do então baixista do grupo, Carlos Dengler. “Parte da piada é sobre o quanto essa constatação é auto-centrada, mas permaneceu comigo porque eu sou um grande fã do trabalho dele [Dengler] e, mais tarde me fez pensar que, sim, linhas de baixo deveriam ser celebradas, e são o futuro”, declarou Paul Banks em entrevista à Pitchfork.

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Na época, a banda nova-iorquina era formada pelo vocalista Paul Banks, o guitarrista Daniel Kessler, o baixista Carlos Dengler e Sam Fogarino, na bateria; as composições são creditadas a todos os membros e esse trabalho foi produzido por Peter Katis e Gareth Jones, conhecidos por trabalharem (separadamente), com bandas como The National, Grizzly Bear e Depeche Mode.

Em relação à recepção da crítica especializada, é possível dizer que esse foi um projeto muito bem recebido no meio fonográfico, apesar de não ter alcançado o topo de tabelas famosas, como da Billboard, o que, de forma alguma, quer dizer qualquer coisa negativa sobre, visto que ele é citado como influente por nomes como The Killers, She Wants Revenge, Editors, The XX, entre outros.

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“Turn On The Bright Lights” foi um dos responsáveis pelo ressurgimento da era pós-punk, que também ajudou a trazer reconhecimento para Kings of Leon, The Black Keys, The Libertines, Kaiser Chiefs e muitos mais! Ele é citado como um dos discos mais importantes da década pela Rolling Stone, NME e Consequence of Sound, também ganhou certificados de Ouro nos Estados Unidos e Reino Unido.

Em sua versão padrão, sobre a qual falaremos aqui, ele é composto por 11 faixas. Porém, outras foram comercializadas no México, Japão e Austrália, incluindo gravações extraídas de sessões ao vivo ou demos descartadas por eles, como é o caso da cópia vendida em celebração ao aniversário de 10 anos. Nelas, os fãs foram apresentados à “Specialist”, a minha preferida e que, sem dúvidas, merece uma menção honrosa.

Em uma história, a abertura é responsável por prender a atenção do espectador e “Untitled” segura essa responsabilidade da melhor forma possível. Criada para ser o ato de abertura dos shows, “anteriormente a vontade de fazer um disco”, segundo Kessler, ela faz o ouvinte adentrar nesse jogo de palavras e melodias obscuras criado por eles.

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Contrapondo-se ao inicialmente proposto, “Obstacle 1” mostra uma outra face deles, mais agitada, podemos dizer animada, até. Segundo o Genius, Banks revelou em entrevista concedida à Pitchfork que “Obstacle 2” foi escrita, na verdade, antes dessa parte um e os nomes foram sugeridos por Daniel. “Nós não havíamos escrito nada bom em alguns meses e, de repente, nós formulamos várias. Então, de certa forma, foi relacionado a isso”, revelou.

Existe uma forte presença, tanto liricamente quanto nas composições musicais, evocando sentimentos relacionados à depressão, introversão, desejos e os mais profundos sentimentos humanos. Tudo se mescla da melhor forma possível, apesar de relatos dos membros sobre tensões ao longo das gravações. Na entrevista citada no início dessa resenha, Fogarino declarou que nem sempre compreendia as letras de Paul, mas que ao ouvi-lo cantar, de certa forma, “funcionava”.

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A atmosfera de Nova Iorque foi completamente alterada após o ataque terrorista de 9 de setembro e, por ter sido escrita antes desse acontecimento, “NYC” acaba fazendo um retrato do que a cidade era, mantendo os tons sombrios e absortos dos músicos. Não há comprovação de uma relação, porém, a frase “got to be some more change in my life” pode ser a maneira de Banks dizer que ele está depositando suas fichas nesse lugar que pouco o impressiona, no final do dia.

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Além disso, o título do álbum foi extraído do trecho “it’s up to me now, turn on the bright lights”. Em seguida, ouvimos “PDA”, o single promocional desse debut. É impossível não se sentir mobilizado pela bateria na introdução ou o quanto a guitarra e o baixo crescem juntamente com os pensamentos do narrador. Importante mencionar que esta é a canção mais antiga deles e está presente em três EPs; “Fukd ID #3”, “Precipitate” e o homônimo, “Interpol”.

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A finalização ajuda a trilhar os acordes iniciais de “Say Hello To The Angels” e a completa obsessão do interlocutor com a pessoa à qual essas letras são dedicadas, independente de ser uma fixação sexual ou não, as interpretações são múltiplas. Como sempre, existe uma harmonia entre todos os instrumentos presentes aqui, assim como o vocal; nenhum sobrepõe-se ou elimina a existência do outro. Pelo contrário, criam crescem em perfeita combinação e somem da mesma forma, fazendo com que o ouvinte aprecie todas as partes de forma igualitária.

“Hands Away” puxa um pouco o freio, sendo o momento no qual embarcamos de maneira mais introvertida, musicalmente falando. Liricamente, Paul revelou à Q Magazine, a conotação homossexual presente aqui, voltada especificamente para uma pessoa que também curte bondage, algo que, segundo ele, sentiu ser “um contexto muito radical para uma canção de rock”. O músico também admitiu que a parte musical foi apresentada aos outros membros por ele, ao contrário de outras criações.

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A oitava canção de “Turn On” é “Stella Was a Diver and She Was Always Down”, responsável por uma introdução bastante conhecida pelos fãs, enunciada por Banks, segundo Peter Katis, enquanto ele brincava pelo estúdio com a boca cheia de gelo. “Acrescenta um certo charme [a ela]”, comentou Peter Katis à Pitchfork. Essa pequena introdução faz com que tenhamos a impressão de que esse espetáculo está sendo realizado ao vivo.

O previamente mencionado jogo de palavras faz com que as letras presentes aqui tenham diversas interpretações e ele acontece graças à formação em Inglês e literatura comparativa de Banks. Ou seja, “Stella” pode ser relacionada às drogas, bem como ao estado mental depressivo de uma mulher que a leva a cometer suícidio.

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“Roland” talvez seja uma das composições mais cinematográficas presentes aqui, por relatar a história de um assassino em série que decepou suas vítimas. Conforme a narrativa cresce e é revelada ao receptor, o mesmo acontece com os instrumentos, trazendo novamente a sensação de uma espécie de apresentação ao vivo em um ambiente sombrio e com um holofote posicionado no locutor.

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Revistando o álbum, o produtor Katis comentou que não gostou de “The New” inicialmente, por não ser um cara sentimental, porém, eventualmente, ela conseguiu extrair dele algumas lágrimas enquanto ele ouvia um dos mixes finais. Sinto que essa relação se dá pelo fato de que existem inúmeras outras faixas mais pesadas e marcantes ao longo desses quase 50 minutos então, essa provavelmente passaria despercebida àqueles que não conseguiram se envolver ou não estão no clima dessa obra ainda.

Ao meu ver, ela é dividida em duas partes que podem ser divididas e são evidenciadas pela pausa instrumental após o narrador questionar à audiência como ele está se saindo. A partir daí, a bateria se torna mais marcada e a tonalidade dos sons da guitarra e do baixo também tomam um rumo mais acelerado, com acordes que já introduzem o ato final.

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“Leif Erikson” foi um explorador nórdico, o primeiro a visitar a América do norte, segundo relatos históricos, esse fato correlaciona-se às conotações marítimas, às análises acerca do outro, feitas pela pessoa amada. Nessa conversa, nota-se o quanto ambas as pessoas envolvidas nesse relacionamento estão se comunicando de maneira distinta, e o quanto essa dinâmica está funcionando nessa troca diária: “I’ll bring you when my lifeboat sails through the night/ That is supposing that you don’t sleep tonight”.

Na estrada desde 1997, “Turn On The Bright Lights” é o resultado do crescimento artístico e musical do Interpol, onde Banks, Fogarino, Kessler e Dengler demonstram o seu potencial ao público e foram correspondidos a altura, visto que a banda tornou-se uma das favoritas daqueles que ouvem sons alternativos.

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Stephanie Hora
Stephanie Hora
Jornalista, apaixonada por música, livros e cultura em geral.
Na estrada desde 1997, a banda nova-iorquina Interpol alcançou sucesso com o bem produzido, composto e escrito "Turn On The Bright Lights", responsável por recriar a sua própria maneira a experiência artística e musical do Joy Division e no qual ouvimos singles como "NYC", "Stella Was a Diver and She Was Always Down" e "Obstacle 1". Resenha: "Turn On The Bright Lights" – Interpol (2002)