Após um registro ousado, explosivo, enérgico e visceral (“Letrux Em Noite De Climão”, de 2017), a carioca Letícia Novaes retorna reflexiva, introspectiva e mais vulnerável do que nunca, agora imersa em um oceano emocional profundo. Em seu novo álbum “Letrux Aos Prantos”, lançado em março desse ano, a artista busca compreender suas emoções em uma extensa jornada de busca interior, refletindo sobre relacionamentos e se conectando com as partículas fluidas de nossa natureza: mares, lágrimas, suor e sangue.
A faixa de abertura, “Déjà-Vu Frenesi”, é um ótimo pontapé introdutório para situar o ouvinte ao universo em que a cantora se encontra. Intensa como a instrumentação orquestrada e rock ‘n roll, Letrux constrói, no conteúdo lírico, uma relação análoga entre emoções e líquidos (Todo corpo tem água / Lágrima, suor e gozo), passando uma mensagem da seca sendo representada por sentimentos negativos e/ou forçadamente reprimidos internamente (Não deixa secar / Nem deixa derramar / Não deixa / Não deixa sangrar). A atmosfera onírica e surrealista de “Dorme Com Essa” reflete os delírios de um eu-lírico com o coração partido (Delirei, achei que te vi em Copa / Bacana, não era você / Melhor assim, não quero engasgar / Tô me preparando pra quando você passar). Aqui, começamos a ver as melancólicas reações emocionais da personagem ao confrontar a realidade de relacionamentos amorosos malsucedidos.
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Experimentando o groove oitentista e relaxado do synth-pop, “Fora da Foda” é uma parceria com Lovefoxxx da banda Cansei de Ser Sexy (CSS). A música dá um tom debochado, sexual e ironiza a situação apresentada na faixa anterior (It’s so hard to find the right people to fuck / Threesome is hard, an orgy is harder / Threesome is hard, a bacanal is harder). “Eu Estou Aos Prantos” condensa assertivamente a temática lírica e sonora do álbum: Psicodélico, experimental, surreal e complicadamente intenso, como seu turbilhão de sentimentos melodramáticos.
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A narrativa prossegue acompanhando os passos de Letrux, mostrando como ela reage frente à rejeição. Raiva ao se deparar com a traição (“Contando Até Que”: Eu vim pra botar fogo no teu bairro / eu vim pra botar fogo no teu quarto), decepção pelo amor não correspondido (“Cuidado, Paixão”: Me confundi quando ‘cê disse tchau / Eu entendi te amo), esforço em tentar manter um relacionamento tedioso e cansativo (“Sente O Drama (feat. Liniker)”: Vê se chama / Uma boa amiga pra ir lá em casa / Te dar um sacode e ainda por cima / Nos satisfazer […] Eu prefiro sonhar e chorar / Do que esse papo mole / Sobre seu gato ou seu cachorro).
Reforçando a ideia do mal que seu relacionamento ainda lhe causa (Acordei bem mas o país não colabora e nem você), em “Abalos Sísmicos”, Letrux conta como a indiferença, as mentiras e o orgulho acabaram com o casal e a prejudica até hoje com as marcas que ficaram após o fim (Mente que nem meme, gargalha, dá teu showzinho na sala / Faz tua mala / Bota pra fora os demônios pendurados na tua orelha dizendo / Vai lá, vai / Você não pediu desculpa / E seguiu sua vida achando tudo ok). A faixa mais positivas do álbum, “Salve Poseidom” fala sobre o acaso e coincidências do destino (Na hora das coincidências todas as pessoas estão mais conectadas).
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Finalizando a obra, a artista, ainda discorrendo sobre encontros casuais apresentados em “Salve Poseidom”, recita um curto texto em “Cry Something Akward”, ironizando o curioso fato quando duas pessoas tiveram uma conexão intensa no passado, mas quando casualmente se encontram no presente, toda a história, vivência e conexão é reduzida a um indiferente “oi, tudo bom?” (There’s something awkward between two people / That once were inside each other / And now is just hi, hello, how are you, I’m fine, thanks and you?). Observando precisamente o ser humano e suas relações sociais, Letrux debocha em afiadas críticas que permeiam o álbum todo. Críticas que expõe de maneira escrachada as fragilidades e vulnerabilidades do amor.
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