Resenha: “positions” – Ariana Grande (2020)

Ariana Grande
Reprodução

A cantora Ariana Grande divulgou, na última sexta-feira (30), seu mais novo álbum de trabalho. Intitulado de “positions”, nome também do primeiro single do projeto que chegou ao conhecimento do grande público uma sexta-feira antes (23), o projeto tem a difícil missão de dar seguimento na discografia bem sucedida da cantora que havia lançado seu último álbum, o multi-platinado “thank u, next”, no primeiro trimestre de 2019. Agora você confere uma análise faixa a faixa do novo material da estrela pop. Podemos?!

O álbum é introduzido com a irreverente “shut up”, uma faixa que fala claramente sobre a relação de Ariana com seus haters. Além da letra bastante honesta que faz referência a todas as questões pessoais pelas quais a cantora passou, como o atentado terrorista em seu show na cidade de Manchester em 2017 ou a morte de seu ex-namorado, Mac Miller, e em como ela conseguiu mudar sua perspectiva de ver a vida, a produção orquestral traz um tema bastante convidativo. O final da faixa, com ênfase nesses instrumentos mais clássicos, assenta a canção numa decrescente construção harmônica cujo único defeito é não ter uma transição conectada com a música seguinte.

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E então temos “34+35”, a segunda faixa do álbum, que abre os trabalhos das canções com referências sexuais, tema que será bastante explorado no projeto. Essa, em particular, fala sobre uma das posições sexuais mais famosas numa escala global (não entendeu? faça as contas). A produção do single é bastante R&B e é possível ouvir alguns violinos ao fundo, mistura bastante utilizada por Grande que, inclusive rememora “Honeymoon Avenue”, faixa de seu álbum de estreia que usa dos mesmos artifícios de produção.

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“motive” é a primeira participação do álbum, e conta com os versos da rapper Doja Cat. A letra tem um “Q” de tensão sexual mas o maior objetivo fica a cargo de entender quais são as intenções de seu parceiro antes de se entregar. A vibe da música consegue ser atual com elementos do trap ao mesmo tempo que tem uma sonoridade retrô que se assemelha em partes com “Say So”, single de Doja que inclusive dá um show de energia nesta participação com sua voz de timbre metalizado e, por vezes, agudo de maneira que chega a se assemelhar a uma criança. Inocente, mas nem tanto.

“just like magic” é um dos pontos altos do álbum. Com uma vibe solar e uma letra que fala justamente sobre positividade e sobre o conceito de manifestar abundância em diversas áreas da vida através da lei da atração e dos pensamentos positivos, Ariana parece fazer menção a duas situações em sua vida, a morte de Mac Miller (“pego minha caneta e escrevo algumas cartas de amor para o paraíso”) e o rompimento na amizade com Alexa e Njomza, duas amigas integrantes do grupo citado em “7 rings” (“perdendo amigos aqui e ali mas eu apenas os envio amor e luz”). A produção da música acompanha a letra e é bastante contagiante contando com estalos, pausas abruptas e sintetizadores bastante originais perceptíveis desde o início da canção. É realmente mágica.

Chegamos então à segunda colaboração do álbum, “off the table”, que conta com os vocais de The Weeknd, sendo também a segunda participação do cantor em um álbum da Ariana, já que a primeira foi no hit “Love Me Harder” do álbum “My Everything”. A faixa é um verdadeiro show de produção vocal com muitas camadas tanto da cantora harmonizando consigo mesma, como nos dois combinados entre si e entrelaçados com maestria. A letra da música também é bastante interessante pois faz menção a primeira parceria deles e a produção sonora entrega uma das melhores baladas do álbum, daquelas que são assinatura na carreira de Grande. Muda completamente a atmosfera do álbum, o que é bastante interessante já que até aqui os temas foram mais diretos e/ou despretensiosos. O instrumental é literalmente minimalista deixando claro que o peso da faixa fica a cargo dos vocais.

Após a pausa dramática que temos na faixa anterior, seguimos direto na rota menos densa do álbum com “six thirty” que tem um começo relativamente morno mas que, em seguida, embala e empolga no refrão com um beat bastante radiofônico e uma repetição bastante chiclete. Na segunda parte, a música volta a perder alguns elementos conquistados no refrão mas que não interferem tanto na experiência já que ela já nos envolveu. O ponto alto vem na ponte com uma mudança significativa na faixa que nos leva rapidamente de volta ao álbum debut da cantora com orquestras e vocais. Em suma, a letra é fofinha com direito a uma pitada de atrevimento, nada demais perto do que já ouvimos por aqui ou que ainda iremos ouvir.

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A terceira e última colaboração do álbum chega com Ty Dolla $ign em “safety net”, uma balada romântica que, arrisco dizer, é o mais próximo do que estamos acostumados a ouvir de Ariana. Tanto letra quanto produção são envolventes e mostram um eu lírico bastante honesto e fragilizado pelas dúvidas e questões da relação. As aberturas vocais entre os dois também envolvem, especialmente quando Ariana duplica seus vocais atingindo uma oitava elevada. Como já pudemos presenciar nesse e em outros álbuns, a ponte faz a canção crescer muito e dá uma outra visão da faixa que carrega sozinha seus ouvintes sem muitos esforços. Pega pelo coração e seria uma aposta segura para single no inverno americano.

“my hair”, ainda que dentro da coesão apresentada pelo álbum, é uma curva significativa na sonoridade do mesmo. Com elementos jazzísticos, temos uma letra que fala, nas entrelinhas, sobre apimentar a relação. O grande momento da música, e talvez até mesmo do álbum, seja o controle vocal apresentado pela exímia vocalista que Ariana se prova mais uma vez ser ao entoar o refrão inteirinho em seu registro de whistle, articulando todas as palavras que foram previamente introduzidas, só que várias notas abaixo. O vocal nessa faixa é apaixonante. Monumental, eu diria. Não é pra qualquer um.

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Quinze segundos é o que se faz necessário para que qualquer apreciador do trabalho da cantora esteja entregue a “nasty”. A abertura da faixa a lá “Baby I” de seu primeiro disco, a batida R&B, as falas e risadas que podem ou não terem sido intencionais e uma explosão de whistles que chegam no final da 6ª oitava, atingindo até impressionantes notas harmonizadas na 7ª oitava, como só Mariah Carey costumava apresentar, deixam qualquer um apaixonado pela produção. A letra, bem como sugere o título, é bem direta em seu conteúdo sexual e não há o menor problema nisso, não há quem não tenha comprado a ideia até aqui. A segunda estrofe muda completamente a estrutura melódica em relação à primeira entregando novamente para o refrão cheio de camadas vocais, é quase que como viver uma experiência intergalática com os whistles ecoando ao fundo. Na ponte, Ariana levanta o registro como uma bola de vôlei e corta com facilidade numa nota prolongada retornando ao refrão. Novamente temos show de vocais. Um possível single? Por mim, com toda certeza.

“west side” tem uma sensação de interlude tanto pelo tamanho da faixa com seus 2m12 quanto pela posição em que foi colocada no álbum por, apesar de ter elementos diferenciados que passam uma sensação extraterrestrial, não conseguir empolgar na mesma proporção que a faixa anterior. Não seria um trabalho fácil mas é bastante dificultado pela faixa que não decola. Vocais no ponto, letra romântica e produção irreverente mas nada muito impactante. Soa como uma faixa de descanso que sucede uma série de gigantes.

Aqui teremos uma Ariana versando com a disco music que tem estado em alta no ano de 2020 nos trabalhos mais recentes de Dua Lipa, Lady Gaga e The Weeknd que já apareceu por aqui. Uma introdução bastante uptempo traz “love language” direto para o meio da pista de dança. A faixa lembra bastante “You Don’t Know What To Do” da cantora Mariah Carey pela mesma vibe disco. Talvez o que poderia ter sido acrescentado a faixa de Ariana seria uma abertura vocal dramática como a presente na faixa de Mariah que, definitivamente, só viria a somar na produção final. No fim da música, um trecho extra aparece com uma roupagem completamente diferente da música, dando a impressão de ser uma nova faixa. Curioso, eu diria.

Temos então, quase no fim do álbum, a faixa título. “positions” tem uma das produções mais minuciosas do álbum, tanto instrumental quanto vocal. No que diz respeito aos arranjos, é possível ouvir até um som constante e semelhante a grilos no fundo da canção dando um tom noturno a faixa e, apesar da letra ter uma conotação sexual como já feito em algumas outras faixas por aqui, tendo chegado ao grande público junto com um clipe extremamente politizado em um período bastante propício para tal, devido às eleições presidenciais nos EUA que ocorrem concomitantes com a divulgação do álbum, é impossível se atrelar apenas ao sexo, que já não é pouca coisa, quando temos um gigantesco empoderamento feminino por parte de Ariana no papel de uma mulher, presidente, dona de casa e bastante sensual, porque não? Sobra tempo até pra passear com os cachorros. A trama de vocais de apoio que harmonizam com os principais é tão complexa que a cada nova ouvida, percebe-se mais um vocal “escondido”. Tá de parabéns, Ari.

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Chegando quase ao final do álbum, temos “obvious” que é um R&B bastante padrão e clichê mas que não faz da faixa ruim por isso. Alguns segundos adentro após a introdução questionável que conta com uma leve harmonia de fundo e com vocais simples da cantora, temos uma batida que toma conta e nos faz querer dançar acompanhada de uma letra saborosa e uma produção que não inova mas que também não deixa a desejar. Como o próprio nome da canção, ela é bastante óbvia, mas de um jeito bom. Só poderia ser maior e sem um final tão pesado com um instrumental que se arrasta ocupando um tempo relativo.

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O álbum encerra com a excelente “pov” onde temos uma letra aflorando amor por todos os poros, uma declaração romântica com tudo que se tem direito, barulhinho de chuva/água corrente e tudo mais. Os vocais são envolventes e característicos de Ariana, coisa que não tivemos muito ao longo do álbum e a produção consegue empacotar todo o conceito trabalhado ao longo do projeto e entregar uma última música que deixa o ouvinte em um bom lugar já que a última faixa é sempre a que permanece ressoando na mente de quem consome o trabalho por completo. A letra fala de alguém que quer se amar como é amado por seu parceiro de vida e, assim como Ariana entoa em um dos versos, a canção parece ter super poderes pois transforma nossos minutos em horas.

O ponto de vista, título da última canção do álbum, é essencial para analisá-lo. De um lado, temos uma Ariana de volta a suas raízes em um estilo essencialmente R&B que casa perfeitamente com sua voz e de onde ela se originou, especialmente levando em consideração “Yours Truly”, seu álbum de estreia e fonte da qual este novo trabalho bebe. Do outro, temos a Ariana hitmaker que vem dominando as paradas de sucesso, elevando o nível numérico da sua carreira, bem como seus recordes. Liricamente, o projeto não se aproxima de seu melhor material neste quesito, o “Sweetener”, que veio embalado pelos traumas em sua vida pessoal. Contudo, ultrapassa o álbum citado no quesito coesão pois é, definitivamente, o álbum mais coeso de sua carreira. Tudo é extremamente bem amarrado e conectado e ele tem uma vibe muito fresh na composição, sem muita densidade. O que falta, de fato, são faixas que embalem nossas vidas e a carreira da cantora que tem tantas canções memoráveis. Definitivamente um trabalho de muita qualidade mas que deixa a desejar na iconicidade sempre entregue por Ariana mas, dadas as circunstâncias pelas quais estamos passando, só nos resta aproveitarmos material novo da cantora. 2020 está salvo e temos muito que ser gratos à Ariana Grande, afinal, não está sendo fácil e um alívio musical desses não nos deixa em posição de julgar.

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Guil Anacleto
Guil Anacleto
Arquiteto e Urbanista por opção, cantor e amante de música por vocação. Uniu seu gosto por música e por escrita quando viu no Nação da Música a oportunidade de fundir ambos. Não fica sem um bom livro, um celular e um fone de ouvido. Amante de séries, televisão, reality shows, gastronomia, viagens e tenta sempre usar isso a seu favor para estar reunido com família e amigos. Uma grande metamorfose ambulante reunida em um coração sonhador com um toque de humor indispensável.
O ponto de vista, título da última canção do álbum, é essencial para analisá-lo. De um lado, temos uma Ariana de volta a suas raízes em um estilo essencialmente R&B que casa perfeitamente com sua voz e de onde ela se originou, especialmente levando em consideração "Yours Truly", seu álbum de estreia e fonte da qual este novo trabalho bebe. Do outro, temos a Ariana hitmaker que vem dominando as paradas de sucesso, elevando o nível numérico da sua carreira, bem como seus recordes. Liricamente, o projeto não se aproxima de seu melhor material neste quesito, o "Sweetener", que veio embalado pelos traumas em sua vida pessoal. Contudo, ultrapassa o álbum citado no quesito coesão pois é, definitivamente, o álbum mais coeso de sua carreira. Tudo é extremamente bem amarrado e conectado e ele tem uma vibe muito fresh na composição, sem muita densidade. O que falta, de fato, são faixas que embalem nossas vidas e a carreira da cantora que tem tantas canções memoráveis. Definitivamente um trabalho de muita qualidade mas que deixa a desejar na iconicidade sempre entregue por Ariana mas, dadas as cirscunstâncias pelas quais estamos passando, só nos resta aproveitarmos material novo da cantora. 2020 está salvo e temos muito que ser gratos à Ariana Grande, afinal, não está sendo fácil e um alívio musical desses não nos deixa em posição de julgar.Resenha: "positions" - Ariana Grande (2020)