Abrindo os trabalhos do mini festival “Punk Is Coming!” que o show do Offspring virou em São Paulo, a banda australiana Amyl and The Sniffers subiu ao palco do Allianz Parque na tarde do último sábado (8), fazendo jus às mulheres que compõem a cena.
Apesar do calor de cerca de 30ºC que pairava sobre o estádio, nada abalou a energia quase que incansável da vocalista Amy Taylor, que, vestida com um shorts de corrida e a parte de cima de um biquíni, começou a apresentação com a enérgica “Security”, emendada diretamente em “Doing In Me Head” e seus contagiantes riffs de guitarra.
Após agradecer a presença do público (consideravelmente numeroso para às 14h, e, nem por isso, menos entusiasmado), Amy conquistou um forte coro de todos os presentes na performance de “Chewing Gum”, um dos singles do último álbum da banda, “Cartoon Darkness”, que ganhou ainda um eletrizante solo de guitarra de Declan Martens. Após um breve diálogo dos dois perguntando sobre palavrões em português, os riffs inconfundíveis de baixo, tocados por Gus Romer, introduziram a enérgica “Guided by Angels”.
Em meio a chutes e pulos de Amy durante as músicas, indo de uma ponta à outra do palco, Declan Martens, apesar de não ter a mesma mobilidade da vocalista, lançou um coro de “oy oys” do público, que acompanhava com palmas o som da batida marcada pelo baterista Bryce Wilson até um grito de Amy dar início à letra de “Some Mutts (Can’t Be Muzzled)”. Após arrancar alguns risos do público enquanto se exibia pelo palco erguendo os braços em poses de forte, a vocalista fez uma saudação especial às mulheres presentes – em celebração ao Dia Internacional da Mulher – e mandou um f*da-se para Donald Trump e Elon Musk antes de rapidamente dar continuidade à setlist.
Apesar das interações com o público, o show de Amyl and the Sniffers pouco teve pausas, emendando uma música imediatamente na outra e, exaltando assim, o ritmo acelerado que caracteriza a sonoridade punk. Isso, somado ao fato do sotaque australiano carregado de Amy Taylor e uma abafada emissão do som pelo estádio, trouxe um pouco de dificuldades de entender claramente o que era dito (ou cantado) no microfone. Porém, nada que impedisse o público de identificar e cantar a todo pulmão a setlist do show.
Exalando a energia “angry girl music” que veio à tona na década de 90 com o movimento Riot Grrrl (visando abrir espaço para as mulheres na cena do punk), Amy Taylor trouxe uma potente interpretação de “Jerkin”, um dos principais sucessos da banda. Contemplando ainda seu último disco com a performance de “Tiny Bikini”, que ganhou “ohhs” caricatos tanto da vocalista, quanto do público, a setlist retomou o começo da carreira de Amyl and the Sniffers, trazendo “Got You”, que se destacou por sua batida marcante – levemente similar ao “hey ho, let’s go” do clássico do Ramones, “Blitzkrieg Bop” – e pela entonação mais grosseira dos vocais da loira.
Aproximando-se do final do show, após fazer um apelo ao público para aplaudir todas as bandas que ainda se apresentariam no Punk Is Coming, a líder de Amyl and the Sniffers foi tomada pela energia frenética da antiga “GFY”, fazendo acrobacias – que fizeram seus óculos de sol caírem – enquanto Declan Martens e Gus Romer tocavam um de frente pro outro em posturas combativas. Dando uma leve desacelerada, a melodia suave e limpa de “Big Dreams” trouxe um pequeno respiro para Amy poupar energia para o grand finale.
Mostrando a felicidade pela estreia da banda no Brasil após esgotar a apresentação solo no Cine Jóia dois dias antes do festival, Amy Taylor passou a maior parte da performance de “U Should Not Be Doing That” na pista, interagindo com o público, para voltar ao palco engatinhando antes de finalizar a apresentação no auge com um dos maiores sucessos do grupo, a dançante “Hertz”. Não poderia ter tido escolha melhor do que a faixa – presente no álbum “Comfort To Me” – para encerrar o show de Amyl and the Sniffers em clima de festa; além de muito divertido, a personalidade inquieta e cativante de Amy Taylor marca um novo momento de representatividade para as mulheres no punk.
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