Hozier estreou em solos brasileiros durante uma apresentação incrível, em pleno pôr-do-sol, na edição de 2024 do Lollapalooza Brasil. Na ocasião, o irlandês já havia “arrastado” uma legião de fãs para o Autódromo de Interlagos.
Um ano depois, a história se repetiu. Desta vez, o músico desembarcou no Brasil para apresentações em São Paulo, no Espaço Unimed, e no Rio de Janeiro, no Qualistage com a turnê “Unreal Unearth”.
O projeto que dá nome a essa gira foi divulgado ao público em agosto de 2023, possui elementos de folk-pop nas harmonias e letras poéticas, esperançosas e sobre as alegrias e angústias de ser humano. Agora que já estamos ambientados sobre o artista, falemos sobre a apresentação, sim?
Pontualmente, às 20h, Gigi Perez e sua banda subiram ao palco e recepcionaram o público. O setlist foi curto, contou apenas com 6 canções; “Please Be Rude”, “Fable” — durante a qual os fãs acenderam as lanternas em homenagem à irmã de Gigi, para quem a música é dedicada —, “At The Beach, In Every Life”, “Twister”, “Chemistry” e “Sailor Song”. A cantora norte-americana é conhecida tanto pelo hit que encerrou o set dessa apresentação quanto por participar da turnê mundial “Music of the Spheres”, do Coldplay.
A artista se despediu do público e agradeceu ao Hozier pelo convite para participar da turnê, da qual ela continuará participando pelos próximos meses. Entre 20h30 e 20h55, a equipe arrumou o palco para receber o homem mais aguardado do momento: Andrew John Hozier-Byrne.
As luzes do local se apagaram novamente, a plateia começou a gritar e a banda, formada por artistas de diversas nacionalidades e tocando instrumentos que vão desde os clássicos bateria, baixo e guitarra até violoncelo e teclado, por exemplo. Sem falar nos vocais que apoio que criam atmosferas surreais maravilhosas durante as execuções das músicas.
Ao todo, Hozier apresentou 24 canções durante 2 horas e 10 minutos de concerto; nem o público, nem a banda demonstraram qualquer sinal de cansaço ou desânimo durante esse tempo. Para um domingo à noite, é algo a se admirar… Mas quando o assunto é “público brasileiro”, quando é que decepcionamos, não é mesmo?
O disco “Unreal Unearth” é o terceiro álbum de estúdio do cantor e explora diversos temas, como o pecado, o autoconhecimento e a ganância, inspirando-se na obra de Dante Alighieri, especialmente em “A Divina Comédia”. Conforme a setlist do projeto, as faixas de abertura foram “De Selby (Part 1)” e “De Selby (Part 2)” seguidas por “Jackie and Wilson”, inclusa no álbum de estreia do compositor irlandês, lançado em 2014.
O músico interagiu bastante com o público e demonstrou, assim como a banda, estar muito contente com a estreia em território carioca. A faixa “Nobody’s Soldier”, presente na versão “Unreal Unearth: Unending” (2024) antecedeu as apresentações dos singles “Eat Your Young”, “Angel of Small Death and the Codeine Scene” e “Dinner & Diatribes”, cujo clipe oficial é estrelado pela atriz Anya Taylor-Joy.
Para anunciar que cantaria “Francesca”, ele declarou “essa é uma canção feliz sobre pessoas que acabam no inferno”; a letra explora temas como amor, comprometimento e a jornada pelos nove círculos do inferno. Perto do final, algumas fãs perto da grade da pista comum começaram a tentar atrair a atenção dele, o que eventualmente deu certo. O motivo? Um casal de fãs ficara noivas! Ao entender isso, ele declarou “que música incrível para ser a trilha desse momento! Esse é o meu tipo de público, eu gosto do seu estilo!”, rindo.
Durante todo o set, o artista mescla as composições do início da carreira e as mais atuais. Por isso, na sequência os fãs ouviram “It Will Come Back”, “Like Real People Do” e “From Eden”, em versão acústica. Antes da execução dessa última, ele parou para conversar e acabou, acidentalmente, anunciando “I, Carrion (Icarian)” e brincou: “vocês nunca vão adivinhar qual é a música depois dessa!”
Apesar do calor na casa de shows, Hozier atendeu ao pedido do público e soltou os cabelos para as fãs. Entre uma música e outra, era possível ouvir os gritos pedindo a performance de “First Light”, tocada pela última vez em fevereiro de 2024, segundo o setlist.fm. O irlandês respondeu de forma muito educada, após debater com a banda, que pensariam sobre isso. A faixa foi apresentada após “Someone New”.
Antes disso, o público ouviu “Abstract (Psychopomp)” e “Too Sweet”. Há poucas músicas de encerrar a ‘primeira parte’ do show, Hozier apresentou o sucesso “Would That I” e “Almost (Sweet Music)”, que teve a execução interrompida porque o músico notou que havia uma emergência na pista premium. Após se certificar de que o público estava sendo atendido pelos bombeiros do local e bem, a banda voltou a tocar.
As composições do irlandês fazem sucesso devido à riqueza lírica e em “Movement”, ele faz uma ponte entre o mundo físico e espiritual para falar sobre o impacto do encontro entre pessoas.
“Movement” é sobre o impacto transformador que alguém pode ter sobre outra pessoa — simplesmente existindo, dançando, se movendo. Hozier faz uma ponte entre o terreno e o sagrado, conforme comum em muitas de suas canções. Aqui, ele transforma o amor e o desejo em algo quase religioso.
A religião marca presença no encerramento do set com “Take me to Church”; faixa conhecida por criticar as instituições religiosas acerca da repressão e condenação do amor LGBTQIA+. A letra fala sobre amor, liberdade e resistência contra a repressão moral e religiosa, defendendo a aceitação e o respeito pela diversidade humana.
No final da música, Hozier estendeu a bandeira do movimento LGBTQIA+ no pedestal do microfone. O suspense sobre a volta não durou muito; logo, o público testemunhou a interpretação de “Cherry Wine” ao vivo antes de “Unknown/Nth”.
Antes de apresentar “Nina Cried Power” acompanhado por Amanda Brown, uma das suas vocalistas de apoio, Hozier fez uma declaração política sobre o quanto é importante usar a sua voz para apoiar aqueles que precisam e para defender o direito individual com amor ao próximo na hora de votar. O público respondeu gritando “Palestina livre” e “Sem anistia”.
A canção é hino de resistência e uma homenagem aos artistas e ativistas que usaram a arte para lutar por justiça e o título é uma referência à cantora Nina Simone. A versão de estúdio é uma parceria com Mavis Staples, cantora, compositora e ativista norte-americana.
“Se você se sentir incentivado a falar e a usar a sua voz democrática para falar com o coração, de um local humanitário, eu te encorajo e convido a fazer isso. E quero agradecer por me permitir testemunhar esse tipo de solidariedade e amor.”
A música final foi “Work Song”, presente no disco de 2014, cuja letra mostra o lado mais emocional e profundo do compositor irlandês. A estreia no Rio de Janeiro consolidou não só a presença do artista, mas também a certeza de que sua música segue atravessando fronteiras, corações e consciências.
Ao fim da noite, quando as luzes se apagaram pela última vez e a banda se despediu, o que restou no ar foi mais do que o som de aplausos. Ficou a vibração de algo que tocou fundo. Hozier não apenas entregou um show impecável: ele criou um espaço onde arte, afeto e resistência se encontraram. Um lugar onde a música abraçou o corpo e a alma. E quem esteve lá, sabe: essa experiência vai ecoar por muito, muito tempo.
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