Na manhã desta segunda-feira (26), o cantor e compositor Vítor Guima liberou no YouTube o videoclipe da música “Laís”, em versão acústica, com exclusividade para a Nação da Música.
A faixa integra o elogiado disco “O Estrangeiro”, que foi lançado em julho deste ano e marca a estreia do músico. O clipe foi gravado no Studio Grama, na cidade de Araras (SP). A produção da nova versão ficou por conta do próprio Vítor ao lado de Enzo Petrucci, também responsável pela gravação e mixagem, e por Tião Rocha, que gravou e editou o clipe, ao lado de Gabriel Perim na captação.
Você pode conferir o resultado de “Laís” no topo da página!
A Nação da Música teve a oportunidade conversar com Vítor Guima sobre o lançamento do primeiro videoclipe do trabalho, as inspirações do músico e também sobre como se envolveu com o mundo musical.
Entrevista por Marina Moia.
——————————— Leia a íntegra:
Olá, Vítor! Obrigada por falar com a Nação da Música. Você acaba de lançar seu disco de estreia, “O Estrangeiro”. Parabéns! Pode nos contar sobre a influência no título, da obra de Albert Camus? Por que essa escolha?
Vítor: Eu que agradeço o convite, é um prazer falar com vocês. “O Estrangeiro” é um dos livros mais impactantes que li na minha vida. Permeado por ideias da filosofia existencialista (apesar de Camus acabar por se opor a ela em outros momentos de sua vida) eu fiquei absolutamente fascinado, também, por essa ideia do “absurdo” que vemos nessa trilogia – da qual também fazem parte o ensaio “O Mito de Sísifo” e a peça “Calígula”. Como disse meu amigo, o poeta e editor literário Pedro Spigolon, na resenha que ele escreveu para o álbum, existem várias maneiras de ser estrangeiro dentro de si mesmo.
Essa linha de pensamento que adotei no disco diz que a existência humana precede sua essência. Sendo assim, antes de existir o homem não é nada. E ele vai ser exclusivamente o que fizer de si. E é justamente esse questionamento que aparece ao longo do álbum e que faz o protagonista desse disco começar sua busca. É essa a narrativa que conduz “O Estrangeiro”. Encontramos essa personagem em questão desolada nas primeiras duas faixas, e nas próximas ela sai para sua busca. Entre quartos, ruas desejos, amores, movimentos e estradas, no final essa personagem entende que essa eterna busca faz parte de sua existência.
Como foi o processo criativo e de produção de “O Estrangeiro”? Sei que você se inspira muito em obras literárias e músicos como Bob Dylan e Belchior…
Vítor: Eu lembro de uma fala do Lô Borges – salvo engano no documentário que acompanha o DVD “Intimidade”, um baita show por sinal – que ele disse que senta no piano em horários um tanto regrados pra compor, que às vezes as pessoas pensam que o artista tem aquela coisa do vinho na madrugada, da inspiração e tal, e ele diz que senta no piano em horários meio “de escritório”, meio batendo cartão mesmo. Pelo que eu me lembro é mais ou menos isso que ele disse e já peço desculpas se minha memória está me traindo [risos].
Eu gosto daquela fala do Picasso de que a inspiração existe mas ela precisa te pegar trabalhando. Enquanto escrevia o álbum eu me debruçava sobre folhas de papel, com violão no colo ou sentado na frente do piano e ficava martelando as coisas até sair algo, às vezes por dias e dias, em horários variados com ou sem vinho [risos]. Eu vi isso recentemente quando escrevi meu primeiro livro, que deve ser publicado entre o final desse ano e começo do ano que vem. Eu sentava na frente do computador em torno das seis da tarde e só saía às 10 ou 11 da noite. Fiz isso durante alguns meses, 4 ou 5 vezes na semana, até que aqueles 20 e poucos poemas estivessem lapidados. Aprendi isso escrevendo roteiros, também, a importância de ter um processo mais regrado de criação porque quando você não tem horário certo pra trabalhar, ao meu ver você está sempre trabalhando. Eu tenho um caderninho sempre próximo, gravo umas cantaroladas no celular, mas as obras realmente se tornam algo concreto quando me debruço sobre aquilo de maneira mais intensa.
Quanto ao processo de produção do álbum, eu fui ao Estúdio Arte Master, do Eduardo Kusdra, que produziu e arranjou o disco, e gravei as guias das músicas para ele ao longo dos últimos anos. No final, voltava e gravava a voz. Foi ele quem tocou todos os instrumentos, mixou e masterizou o disco. Eu gosto muito desse processo por me deixar mais livre como compositor, eu sinto um pouco que essa maneira de produzir o álbum me deixou um tanto mais liberado pra pensar em outras coisas, no meu caso o cinema e a literatura.
Sobre as influências, eu gosto muito de música folk. Bob Dylan, Joni Mitchell, Neil Young, Davy Graham, Bert Jansch, Leonard Cohen, Nick Drake, Karen Dalton… A lista é gigantesca. Mas me sinto muito influenciado pela música brasileira, também. Amo samba, poderia listar principalmente João Nogueira, Paulinho da Viola e Cartola como influências, e amo os mineiros. Lô Borges principalmente, ele é um grande gênio. E, claro, Belchior, um dos maiores trovadores da história da nossa música. Jorge Mautner também, principalmente no álbum “Árvore da Vida”, um dos meus discos de cabeceira. Porém, por também ser cineasta, escrever… Eu tenho essa visão de confluência das artes. Sempre fui aficcionado por literatura e cinema, amo essas duas artes tanto quanto amo música e por isso almejo exercê-las também. Acho que acaba sendo natural para mim essa mistura, o disco tem influências da filosofia e citações a Camus, Baudelaire, Fernando Pessoa, a última faixa tem o título de um filme do Almodóvar. Eu tento unir esses elementos todos e, com sorte e bastante trabalho, acho que acabo conseguindo criar algo que não seja uma gigantesca bagunça (risos).
Agora você lançará o primeiro clipe, pra “Laís”. Por que a escolha de usar a versão acústica da faixa? E como foram as gravações do vídeo?
Vítor: Eu sempre gostei de cantar as canções no formato voz e violão. Os arranjos do disco são bastante complexos, com vários violões – tem uma faixa que tem 8! – e eu amo esses arranjos do Kusdra. A minha ideia de lançar essa sessão acústica é, primeiro poder produzir algo visual enquanto pensamos direito em fazer um clipe, e também mostrar como algumas canções foram por anos tocadas por mim em shows, bares ou na casa de amigos quando tocava apenas acompanhado do meu violão, antes das gravações. O vídeo foi gravado no Studio Grama, no interior de São Paulo, montamos um pequeno cenário na sala de gravação e filmamos ele com três câmeras, comandadas pelo Tião Rocha, que também dirigiu o vídeo, e pelo Gabriel Perim. O áudio foi captado, mixado e masterizado pelo Enzo Petrucci, que também é dono do estúdio.
Para quem ainda está conhecendo o seu trabalho, pode nos contar como você começou e se envolveu com música? Essa vontade vem desde criança?
Vítor: Eu comecei a aprender violão aos 14 anos. Antes disso tinha tido uma banda um pouco antes como vocalista. Desse momento em diante, fiz parte de uma banda a partir dos 15 anos que durou até meus 18. Tocamos em bares, clubes, festa de aniversário. Em um outro projeto cheguei até a cantar em casamento. Desde cedo meu pai foi muito influente nisso, ele tinha uma vasta coleção de LP’s, fitas cassete que sempre tocavam no carro. Fui absorvendo isso ao longo dos anos e meu primeiro violão foi um emprestado dele – que não devolvi até hoje. Acho que acabou sendo natural não querer só ouvir música, mas querer fazer isso de alguma maneira. Creio que isso surgiu mais no começo da adolescência, a vontade de ser músico.
Com quem você gostaria de fazer uma parceria no futuro?
Vítor: Caramba. Tem tanta gente… Mas seria massa poder cantar com a Marisa Monte um dia, se eu tivesse a oportunidade. Ela é uma grande cantora de quem sou muito fã. Tem também o Mateus Asato, um dos melhores guitarristas que eu vi surgir nos últimos anos e que eu colocaria hoje sem dúvida entre os maiores do mundo. Tem um vídeo dele com a Sandy, da canção “Grito Mudo”, que é maravilhoso. Gostaria de fazer algo do tipo com ele um dia, ou tê-lo tocando guitarra em alguma das minhas faixas. Ele é genial.
E se você pudesse escolher algum cantor ou cantora para performar uma de suas músicas autorais, quem você escolheria?
Vítor: Ney Matogrosso, sem sombra de dúvida. Desde adolescente sempre disse que é um dos meus maiores sonhos que ele grave uma música minha. Pra mim, ele é a maior voz da nossa música. É meu cantor favorito.
Gostaria de mandar um recado aos leitores da Nação da Música?
Vítor: Primeiramente agradeço o carinho de terem dado atenção ao meu trabalho, lembro que “O Estrangeiro” já está disponível nas plataformas digitais e peço que me sigam nas redes sociais porque tem várias novidades a caminho! É um grande prazer poder falar com a Nação da Música. Obrigado!
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