
A banda de rock progressivo UmQuarto lançou nesta terça-feira (28) seu aguardado disco, “Fora do Lugar”, nas plataformas digitais de música. O trabalho representa uma nova fase na carreira do grupo, que investiu no retorno ao analógico para construir uma verdadeira experiência sonora.
Com uma nova formação, o disco é sequência do trabalho “O Meio do Caminho” (2023) e marca o primeiro trabalho com os integrantes Rafael Salib (guitarra, voz), Rafa Nogueira (bateria, voz), Bernardo Flesch (teclas, voz), além do membro originário do grupo: Mayer Soares (baixo, voz).
“Fora do Lugar” conta com oito músicas e foi gravado sem clicks ou metrônomos, com referências ao rock progressivo argentino e sonoridades latinas dos anos 70. De acordo com os integrantes da banda, o disco é “um convite ao anti-horário”, uma oportunidade para refletir sobre a passagem do tempo e o momento atual, hiperconectado.
Em comemoração ao lançamento, o Nação da Música conversou com Mayer Soares e Rafael Salib sobre os conceitos e inspirações que permeiam o disco, além da nova fase que UmQuarto se encontra.
Entrevista por Isabel Bahé.
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Vocês definem o novo disco como um “convite ao anti-horário”, como vocês explicam esse conceito?
Mayer: Tudo hoje parece se resumir a 15 segundos. Não existe um exercício de aprofundar os assuntos, mas um exercício de andar pela parte mais rasa deles. Por isso que é um convite a um anti-horário. Essas músicas têm um desenvolvimento no qual convidam o ouvinte a parar para ouvir, prestar atenção no que está acontecendo na música. Nesse sentido, é um convite a desacelerar, a parar, no caso.
Na faixa “O Roxo e o Verde”, vocês narram a experiência de uma noite de show, desde a passagem de som até o momento do fim, em que as luzes se apagam. Por que vocês escolheram essa ambiência?
UmQuarto: Essa música tem um simbolismo, mas é meio literal, porque é com base numa história real. “O Roxo e Verde” se refere muito às luzes do palco, só que essa música fala de uma situação inusitada. Estávamos passando som aguardando as pessoas chegarem no lugar, e aí a companheira do Salib, a Tefa, chegou no local para comprar o ingresso do show.
Estava chovendo muito aquele dia, chovendo demais, a cidade alagou, sabe? Só que ela chegou no show com um regador na mão. Ela estava voltando de um ensaio de uma peça de teatro, e o regador era um tesouro da peça. E aquela cena ficou muito inusitada: chovendo muito e ela com o regador na mão.
Vocês mencionaram que, diferente de trabalhos anteriores, “O Roxo e Verde” teve um arranjo mais coletivo. Como vocês veem essa diferença de processo colaborativo desse novo projeto para os anteriores?
UmQuarto: Os discos anteriores foram uma produção, musicalmente falando, mais do Mayer, e os arranjos em parceria mais profundamente com o Felippe Pompeo, que também coproduz o álbum todo, inclusive. Já nessa nova fase, os arranjos foram criados ao longo dos ensaios. Teve aquele processo em que quem compôs a música trouxe um croqui da música gravada com poucas tracks, com o violão mesmo, e esse arranjo foi desenvolvido ao longo dos ensaios.
E levando em conta que os dois primeiros álbuns foram gravados durante a pandemia ainda, então existia uma maior dificuldade de juntar todo mundo para gravar. Mayer chegava com as músicas muito prontas, que eu já tinha na cabeça o que eu queria, e era difícil juntar todo mundo. E foi tudo online, toda a produção dos álbuns anteriores.
Quando o Salib, o Bernardo e o Rafa entraram, eram três compositores que estavam entrando na banda. Aproveitamos o blues do Salib, o jazz do Rafa, a brasilidade do Bernardo e juntei com a discografia. Então, a coisa fica muito mais colaborativa. Apesar de que ainda é a identidade do Quarto.
Vocês declararam que essa é a fase mais “prog” da carreira, apesar de vocês se definirem como rock progressivo. Mas o que especificamente nessa fase, nesse novo projeto, vocês veem essa progressão do rock progressivo de vocês?
UmQuarto: A gente pirou muito no jazz e especialmente no rock argentino. O rock brasileiro e argentino a gente tem no coração. E a gente quis trazer um pouco dessa influência porque é o pessoal que fez rock progressivo com latinidade. Além do mais, como agora a banda tem um guitarrista, um tecladista, um baterista muito experiente, por que não fazer um rock progressivo com menos camadas?
O rock argentino tem muito isso. Eles faziam rock progressivo com uma guitarra, um baixo, uma bateria e um teclado. Não tinha tantas camadas de instrumento como a gente às vezes está acostumado a ouvir no rock progressivo. Então, essa foi a ideia: por que não, então, gravar ao vivo no estúdio? Já que é só a gente que vai tocar, sem camadas de instrumento, vamos gravar ao vivo no estúdio, como antigamente? Então, a gente gravou tudo junto.
Então, a inspiração do rock progressivo argentino com as técnicas de gravação antigas e… tem até um pouco a ver com essa coisa do anti-horário, de nadar contra a corrente, contra a maré. A gente quer fazer as coisas à moda antiga, como deve ser pra gente.
UmQuarto é composto por quatro integrantes, todos com referências diferentes. Como é que vocês fazem para fundir as musicalidades de cada integrante para criar o som da banda?
UmQuarto: O Rafa vem da escola do jazz, então ele não é um baterista pesado, mas é preciso. Então, o Rafa não é um cara que toca pesado a bateria, porrada na caixa, na oitava… Ele é super de boa, mas tem uma criatividade ali, tem um groove, tem um balanço. E se a gente pega isso e coloca no rock, funciona demais.
Mesma coisa o Besouró, o Besouró é da brasilidade, da música popular. Então, até no novo disco, a gente colocou timbres bem brasileiros mesmo, de forró, de baião, os timbres de teclado. Então, isso tudo trouxe um sabor diferente para a música que a gente gosta muito. O Salib vem do blues, de certa forma, o rock é um blue. E, querendo ou não, todos esses outros estilos musicais, o próprio jazz, o samba, muita coisa veio do blues. Então, são nesses pontos de convergência dos diferentes tipos musicais é que a gente se encontra.
O disco de vocês tem como título “Fora do Lugar”. De que outras formas vocês exploram esse título no álbum?
UmQuarto: A gente está trabalhando músicas mais longas dessa vez. A faixa-título, por exemplo, tem quase 12 minutos. É totalmente contraproducente no mercado. Totalmente. O conteúdo das letras também [são]. O primeiro e o segundo álbum eram letras muito reflexivas, filosóficas demais. Agora a gente abriu a porteira do humor, do sarcasmo e da ironia. A gente tem músicas mais alegres, de amor, tem música crítica, tem música irônica, tem música sarcástica. Sem contar as próprias músicas, como eu falei: o “fora do lugar” do tipo “ah, aqui tá correndo porque a gente tá tocando sem metrônomo”. Não tem problema, tá fora do lugar e tá tudo certo. Então, essas brincadeiras, isso tudo, trazem o conceito de “fora do lugar”.
Como vocês pensaram a identidade visual e as artes do disco?
UmQuarto: Uma das coisas que temos orgulho no UmQuarto é que nossas capas de disco são bem legais. Valorizamos muito capa de disco, capa de single, levamos muito a sério essa parte. E a Vênus fez um trabalho bem bonito de pintura na capa de “Roxo e Verde”.
A capa do disco não é uma pintura, mas é uma colagem de fotos. Porque se você reparar, a capa de “Roxo e Verde” é colagem de cores. Agora, a capa do disco é fotografia mesmo, só que com certas colagens. E a capa também tem a ver com o nome do disco, “Fora do Lugar”. Quando a capa for liberada, vocês vão ver que tudo está conectado.

Qual seria a mensagem ou sensação principal que vocês gostariam que o público tivesse quando escutasse o álbum “Fora do Lugar”?
UmQuarto: É um disco experimental no sentido da experiência da escuta. Ouça isso, desfrute essas músicas que têm milhões de sessões e altos e baixos. E toda essa questão do anti-horário é um resumo bem perceptível ao longo do disco. Ele está em várias camadas: está no âmbito da letra, da poesia, mas está no âmbito até da metáfora sonora. Não vou dizer em quais, mas tem momentos em que a música para, vai para uma outra seção, parece que você abriu uma porta e entrou num outro quarto, sabe? E daí depois você entra naquele quarto, abre outra porta, está em outro quarto. Então, a imprevisibilidade é algo a ser desfrutado nesse disco novo.
Esse disco é uma oportunidade para as pessoas poderem sentar e ouvir o disco do começo ao fim. E, apesar de ter quase uma hora, eu acho que ele passa voando. Curta o som.
Vocês pretendem entrar em turnê depois do lançamento do disco? Uma série de shows? Já estão planejando o ano de 2026?
UmQuarto: Bom, dia 3 de novembro a gente vai fazer o lançamento do disco, show de lançamento no Teatro Álvaro de Carvalho, junto com a banda Lupino, que também está lançando o disco na mesma época que a gente. E vai ser um show bem legal, porque as duas bandas vão estar no palco juntas, não vai ter troca de palco. Vai ter duas baterias, dois baixos, dois teclados, então as bandas intercalando as músicas. Vai ser um show bem diferente.
Depois disso, a gente vai fazer esse disco circular. Então, a gente quer tocar em vários lugares aqui em Florianópolis, e uma volta em outros estados. Quem sabe também levar esse som prog brasileiro para os argentinos? A gente tem planos também.
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