Entrevista: Mateo, do francisco, el hombre, fala sobre o CD “SOLTASBRUXA”

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A banda francisco, el hombre é formada por dois mexicanos (os irmãos Sebastián e Mateo Piracés-Ugarte) e três brasileiros (Andrei Kozyreff, Juliana Strassacapa e Rafael Gomes) e no dia 02 de setembro divulgou nas plataformas digitais o seu primeiro disco “SOLTASBRUXA”.

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Nação da Música teve a oportunidade de conversar com Mateo Piracés-Ugarte, violonista e vocalista da banda, que comentou sobre o processo de produção e composição desse disco, a história da banda e muito mais.

A entrevista foi feita por Andressa Oliveira

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————————————————————————————————————— Leia a íntegra

Vocês estão lançando o seu primeiro CD. O que mudou desde o lançamento do EP “La Pachanga” até o “SOLTASBRUXA”?
Mateo: Começamos a banda viajando entre países, morando num carro e sem rumo estabelecido. Começou acústico, encontrando frestas na rotina das cidades para implantar um espaço de show. Começou com um toque leve e alegre, resgatando raízes músicais. La Pachanga representa isso.

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Porém, viajando a América Latina, vivendo as contradições que nosso continente sofre em conjunto, entendendo melhor a forma orgânica como as raízes musicais se misturam e resgatando o histórico que cada um da banda tem no rock, foi necessária outra representação fonográfica. A gente jogou fora quase todas as ideias de músicas que tinhamos para criar do zero: representar ao máximo aquilo de natural que tem em nós.

Nesse disco novo não quero fazer pessoas dançarem e sorrirem. Quero que haja uma explosão. Um descarrego. A mensagem do SOLTASBRUXA é muito mais contundente e atual. Além do que, a produção musical permite representar muito melhor o que fazemos no palco. Queremos dar toda a pressão nos ouvidos e que o público grite com a gente.

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SOLTASBRUXA representa hoje aquilo que sinto que aprendemos com quase 600 shows por todo o continente latinoamericano. E, se eu morrer amanhã, quero morrer com um sorriso no rosto haha.

Vocês são em 3 brasileiros e dois mexicanos na banda. Como que todo o lance de multiculturalidade e até as várias viagens influenciam no grupo e na composição?
Mateo: Pra nós foi inevitável absorver claves cubanas, rodas de cocos e de jongo, cantos andinos, etc.. entendo a música como instrumento de comunicação e nem sempre isso é através das palavras, sabe?

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É lindo demais chegar no Chile e puxar as palmas de um coco e o público bater junto. Claro, aquilo que nos parece de natural ritmicamente aqui é algo estranho em outros lados. Assim como demorei umas semanas para entender de verdade o gingado da clave cubana, do maracatu e do candombé uruguaio. Mas no fundo, aprendemos que tudo flui muito bem entre um e outro. No inicio tínhamos uma mentalidade de “os mexicanos resgatarmos as raízes latinas” mas essa mescla que se dá entre nós só nos mostrou que o Brasil é América Latina. Similaridades são gritantes! Isso abriu muitas portas para a gente, porque não estamos inaugurando ritmos, mas mostrando o quanto eles já estão dentro de nós, já os assimilamos há muito tempo. Essa é a profundidade da raiz.

O CD foi produzido pelo Zé Negro, certo? Como que foi esse período de gravação e produção do disco?
Mateo: A gente chamou o Curumin para produzir o single do disco: “calor da rua”. Ele nos pediu para gravar no estúdio do parceiro de confiança dele e fomos lá. Assim conhecemos o Zé Nigro! De lá pra frente, a amizade foi natural. No Navegantes (estúdio do Zé) a gente se sentiu totalmente a vontade para criar. O Zé, assim como o Mestre Curuma, é um cara extremamente cabeça aberta, que entra para somar numa produção. Tem umas ideia meio loucas que a gente amava. Ele comprava nossa brisa e a gente comprava a brisa dele.

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Então na hora de gravar o disco não teve dúvida. Havia medo de não conseguir fazer no Navegantes, só isso. A gravação foi extremamente rápida: tinhamos um mês e uma semana para gravar tudo, além de 3 shows por semana e 1 de viagem.

Depois a mixagem foi por conta do mestre mago Gustavo Lenza. Nunca, mas nunca mesmo, haviamos ficado tão contentes com uma primeira mixagem. Quando nos mostrou a primeira leva a gente não acreditava que podíamos soar desse jeito.

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O disco foi orgânico. Criamos ele a partir de improvisações com percussões como caixas de fósforo, a produção dele foi feita com loucuras geniais do Zé e a mixagem calhou de cair nas mãos de um sábio como o Lenza que entendeu nossa vibe.

Dessa vez o português está mais em evidências nas canções. Como que foi o processo de composição?
Mateo: Nosso público maior está no Brasil e eu quero ser entendido. Cantar em espanhol era uma contestação à lógica imperialista de cantar em inglês no nosso continente. (Que, aliás, dá uma matéria por si só). Porém mesmo o espanhol não transmitiu a mensagem que queria passar quando cantávamos na Barra do Rio Mamanguape, na Paraíba, para uma trupe de pescadores. Ou então para a família do interior de Joinville que nos convidou para seu aniversário. Ou então para a galera que estava passando na frente da passagem de som de um festival em Uberlândia.

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Estamos no Brasil, aqui é aonde está nossa maior público e quero cantar pra eles. Chega, vamos em português, né?

O processo de composição foi totalmente coletivo. Muita parte foi criada do zero: tínhamos a ideia de que o disco já estava escrito em nós, então só de improvisarmos poderíamos fazer músicas sem parar. Fizemos isso e deu em “bolso nada”, “ta com dólar, tá com deus”, “triste, louca ou má”, “calor da rua” entre outras.

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Tudo orgânico :)

Inclusive vocês trabalham bastante a temática política e social nas suas músicas. Tendo em vista o cenário que estamos vivendo no Brasil, o que vocês acham que é mais importante ao levantar esse tema?
Mateo: O lado político do disco surgiu simplesmente por viajar a América Latina e perceber que essas contradições existem em todos lados. Figuras fascistas, estruturas de domínio, manobras de massa, manipulação midiática, golpes de estado, exploração de riquezas naturais, escravidão assalariada, todas são marcas da história desse continente. O Brasil está muito bem acompanhado nessa.

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E, em tempos como esses, o poder do microfone deve ser usado para combater o oligopólio atrás das redes de informações que ajudaram a gerar essa forte guinada ao conservadorismo. É necessário abrir o espaço do palco para o grito do “Temer Jamais”, “Ocupar e Resistir”, entre outros. Não vamos deixar passar essas questões, não devem ser deixadas passar.  Acredito na arte como um instrumento para gerar sentimento de união entre pessoas que a todo momento são individualizadas.

É importante cutucar, para que isso seja discutido. E, para além disso, temos que tomar muito cuidado para não banalizar o “Fora Temer” nem cair na divisão de uma sociedade entre dois: “esquerda ou direita”. É justamente isso que torna uma sociedade tão fácil de se controlar, quando a política dá preguiça e as pessoas se odeiam entre si.

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Isso pode até ser meio difícil de dizer, mas qual é a música favorita do disco para vocês?
Mateo: Cada um tem a sua própria favorita e varia a cada momento. Realmente é difícil dizer. Por mim, como estamos lançando o clipe, estou com “triste, louca ou má” na cabeça o dia todo. Clipe foi gravado em Cuba, no centro de La Havana.

Por sinal, o que vocês andam ouvindo? Tem algum artista que os inspira que vocês acham que a galera deveria ouvir?
Mateo: Esse semestre saíram um monte de discos nacionais absurdos. A gente viaja muito no carro, umas 20 a 30 horas por semana. No carro não temos cabo para conectar no celular ou bluetooth etc.. Só conseguimos ouvir discos.

Então ouvimos muitos discos que as outras bandas com quem tocamos nos dão. Esse ano tá pesado… Carne Doce, BaianaSystem, Liniker e os Caramelows, INKY, Tagore, Cuscobayo, etc..

Dia 22 de outubro vocês fazer um show de lançamento desse novo trabalho. Como está sendo a preparação para esse evento? Muita ansiedade?                         Mateo: Posso dizer que sempre fomos de uma rotina muito frenética, porém, mesmo assim, nunca, mas nunca, ensaiamos tanto. Estamos fazendo ensaios completos de sessões de improvisação em cada música, explorando todos os detalhes. Vamos trazendo muita coisa de fora para as músicas, se desprendendo da forma do disco para continuar levando a nossa improvisação pro show. A cada show vamos experimentando coisas diferentes.

Temos instrumentos novos, formações novas, participações diferentes. Tudo pintando para espremer o melhor de nós no dia 22! Tô ansioso sim, para tocar logo!

O que os fãs podem esperar desse momento?                                             Mateo: Uma explosão, pressão, alegria, gritos, batucada, amizade.

Gostariam de deixar alguma mensagem para a galera?                                     Mateo: Galera, ouçam todos os discos que estão saindo esse ano, percebam que estamos em uma época de ouro musicalmente falando. Que esses tempos sombrios de política não dominem nossa força, é justamente nesses momentos que temos que estar mais focados. A luta continua.

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Metade campograndense, metade paulistana, jornalista e apaixonada por música. Escreve para o Nação da Música desde 2012, estuda música desde pequena, é obcecada por reality shows musicais, odeia atender telefone, mas não vive sem seu celular. Seriados, livros e comida também não podem faltar em sua vida.