Nesta quinta-feira (01), é celebrado o Dia Mundial de Combate à AIDS, marcando o início da campanha do Dezembro Vermelho. Inspirado por um tweet que viralizou, o cantor Gaê divulga no mesmo dia o single “Sorria”, com participação de Aqno e Lui. Os três artistas vivem com HIV.
No tweet, que ganhou proporções não esperadas e foi compartilhado e curtido por milhares de pessoas, Gaê desabafou sobre a insegurança de uma pessoa que vive com HIV, sobre a falta de medicamentos e cortes no orçamento governamental para o atendimento da doença.
“Os primeiros versos surgem como um desabafo bem direto ao modo como mídia e até pessoas do meu convívio ignoram minha produção artística, mas se sentem bem e até orgulhosas de reproduzir meu sofrimento para ganho pessoal, sem, na maioria dos casos, sequer me perguntar se aquilo me faria bem ou se eu estava bem apesar do ocorrido”, comenta o artista. “Pessoas que nunca compartilharam nada sobre minha música, os clipes ou meu livro, de repente estavam se compadecendo de seu ‘querido amigo Gaê’ nas redes sociais. Por mais que pudessem ter boníssimas intenções, falharam em perceber a relação utilitária que estavam tendo comigo e, pior ainda, com meu diagnóstico. Eu não sou um vírus, tampouco sou a próxima fonte de indignação para um textão na rede social”, destaca Gaê.
O tweet que alcançou quase 100 mil likes gerou uma pressão no artista, que acabou não voltando ao local em que recebe seus medicamentos pelo constrangimento de estar, involuntariamente, à frente de um movimento que não havia começado. “Ao invés de discutirem realmente o planejamento orçamentário e a insegurança que assola as pessoas que vivem com HIV, começou ali uma briga entre apoiadores dos então candidatos à presidência”, relembra.
Como parte da campanha de lançamento, Gaê, Aqno e Lui convidaram seu público e apoiadores a reproduzirem a capa da Revista Veja que estampou Cazuza. “Este é um símbolo terrível dos absurdos que a mídia faz conosco. Na campanha, tem pessoas que vivem com HIV ou não, pessoas de perfis inúmeros que toparam se unir à gente para dar um basta nessa história de ter alguém representando a questão e sendo reduzido a isso. Este é um assunto para todo mundo, o tempo todo”, afirma Gaê.
Aqno celebra a oportunidade de compor este projeto ao lado dos outros dois artistas. “Foi uma alegria imensa receber esse convite, para além do que nos conecta como pessoas vivendo com HIV, mas pela possibilidade de fazer arte juntos e amplificar essa conversa tão importante nesse lugar tão potente de fazer arte, cantar, fazer parte da história da música brasileira”, afirma. “’Sorria’ é um presente que engrossa os movimentos que tecemos em nossos territórios: nos acolhemos para estilhaçar no país um grito pela e com a vida; espelhando, acolhendo e farolizando em mais de 1 milhão de brasileires que vivem com o HIV”, completa o artista Lui.
Gaê destaca, ainda, que, apesar de estar falando sobre este recorte, a mensagem dessa canção deve ressoar também com artistas que podem representar outros recortes como pretos, trans, gordos ou com deficiência, por exemplo. “Quantes artistas negres não foram lembrades só agora à beira do 20 de novembro? Quantos convites não recebemos em junho pra ficar a ver navios o resto do ano inteiro? Por que a pauta sobre nossa arte deve ser sempre sobre arte LGBTQIAP+, ou artistas que ‘superam a deficiência’? Por isso, o movimento precisava ser para além de mim, de Aqno e Lui”, questiona.
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