Na última sexta-feira (05), Hayley Williams pegou os fãs de surpresa ao lançar seu segundo álbum solo. Intitulado “FLOWERS for VASES / descansos” o projeto sucede seu disco de estreia “Petals for Armor” em um tom muito mais sombrio e intimista que seu antecessor.
Enquanto ambos são obras autobiográficas, “FLOWERS for VASES” mergulha bem mais fundo nas questões mais íntimas, dolorosas e delicadas de Williams; e não poderia ser de outro jeito. A cantora compôs, cantou e produziu todas as canções do disco sozinha, o que contribuiu para a roupagem minimalista, buscando um som inspirado no folk acústico semelhante ao “folklore” de Taylor Swift, que, segundo Hayley Williams, serviu de inspiração para seu processo de composição.
“FLOWERS for VASES” fala, em sua totalidade, do período pós-divórcio que Hayley passou em 2017 ao se separar do marido Chad Gilbert, vocalista da New Found Glory. O álbum é como uma janela que se abre para a parte mais vulnerável da alma da cantora, onde vivem o luto, a dor, a perda e as ruínas. Não é à toa que o título do projeto recebeu a palavra em espanhol “descansos”. Esse é o nome que se dá às cruzes que são colocadas na beira de estradas para marcar locais de acidentes fatais. Uma última parada, um descanso final. Uma ideia de morte acentuada pela imagem de flores colocadas em vasos.
Segundo um comunicado da própria Hayley Williams, esse disco não deve ser visto como uma sequência ao “Petals for Armor”. Se for para ser colocado em algum lugar, ela o definiria como um “prólogo” ou algo que se encaixaria no meio de seu álbum de estreia, que foi dividido em partes para representar a jornada de Williams saindo do período complicado para um lugar mais positivo. Em “FLOWERS for VASES”, porém, não há espaço para positividade. Apenas a honestidade nua e crua, e a coragem necessária para enfrentar as piores partes de si mesma antes de seguir em frente rumo à recuperação.
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Somos apresentados ao “FLOWERS for VASES / descansos” com uma estética bem diferente do “Petals for Armor”. Contrastando a capa do primeiro álbum, que mostra o rosto de Williams com nitidez e clareza, a imagem que introduz o segundo disco é a do corpo da cantora submerso em águas turbulentas tingidas de branco. A foto é tomada quase que completamente pela sombra que a iluminação artificial de um rosa forte joga na imagem. Não é possível ver seu rosto.
É fácil ler as canções do “FLOWERS for VASES” como representações das fases do luto, sendo as mais predominantes a negociação, a depressão e a aceitação. O álbum abre com a frase “a primeira coisa a sumir foi o som da voz dele” em “First Thing To Go”. Acompanhada apenas pelo violão, Hayley Williams canta sobre as memórias que somem aos poucos ou ganham novos significados após a partida da pessoa amada. Adicionando batidas programadas e harmonizações na outro da música, Williams finaliza admitindo “Eu deveria esquecer, mas eu amo o que sobrou”.
O sentimento de perda é intensificado pela sinistra “My Limb”, que invoca imagens gráficas de membros amputados para representar a ausência que alguém que Hayley sentia como se fosse parte dela mesma. Esse é o único aceno ao pop alternativo presente no álbum. Os vocais sombrios da cantora são acompanhados pelo som da bateria após o primeiro refrão e toda a canção é permeada pelo grave do piano.
Embalada pelo suave som do violão, Hayley Williams empreende vocais limpos e graciosos à doce “Asystole”. De modo encantador e hipnotizante, ela compara o fim de um relacionamento à “assistolia”, o termo técnico usado para nomear uma parada cardíaca. Williams inicia a canção admitindo que é difícil para ela ver seu próprio valor sem a outra pessoa e no segundo verso relembra “First Thing To Go” ao cantar “Eu quero esquecer, mas o sentimento é algo do qual não consigo me desvencilhar”, e “My Limb” logo em seguida ao admitir “O problema é que você se agarra a qualquer parte de mim que permaneça intacta”.
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Em uma de suas composições mais honestas, Williams fala sobre suas decepções amorosas em “Trigger” e sobre a busca de achar algum significado na dor por meio de suas músicas, afirmando que “Tudo que eu já tive a dizer sobre o amor é uma canção triste”. Ela admite de forma dolorosa que tudo o que sempre quis foi alguém que a quisesse, mas também demonstra certa preocupação em não conseguir compor mais músicas caso encontre a felicidade e o amor verdadeiro. “Sobre o que as pessoas cantam quando elas finalmente encontram isso?”, questiona.
“Over Those Hills” abre espaço para a fase de barganha mais claramente. Sob uma melodia sonhadora e cativante, Williams canta sobre seus devaneios de uma segunda chance com a pessoa amada, “Quando você acorda, alguma vez deseja que eu estivesse com você? / Poderíamos olhar juntos para além das colinas para sempre”. A barganha se torna mais forte em “Good Grief” onde Hayley implora para que o ex-companheiro toque uma última música para ela, mesmo que a separação tenha a afetado profundamente a ponto de não se alimentar de modo adequado. Ao som do piano, Williams fala sobre devolver as coisas do ex-marido como um modo de encerramento, mas insiste que gostaria de ouvir sua música uma última vez. Já em “Wait On” a cantora admite que ainda possui certa esperança, mesmo que seja em vão “Eu não quero esperar por você, mas é exatamente o que eu tenho feito”. Apesar disso, a canção tem um tom leve e quase otimista, trazendo metáforas sobre pássaros, o céu e as nuvens para assegurar que as coisas vão seguir o curso que devem seguir.
A etérea “KYRH” funciona com um interlúdio entre essa parte do álbum e a próxima. Acompanhada do piano, Hayley Williams fala sobre manter a outra pessoa ao alcance dos dedos, bem no limite da “linha” que não deve ser cruzada. Em seguida, com voz suave, Williams canta sobre suas experiências na juventude em “Inordinary”, relatando o momento em que se mudou com a mãe para o estado do Tennesse, fugindo do padrasto abusivo. Hayley canta com saudade e tristeza sobre o período inicial de sua mudança para um novo lugar, “Eu gostaria que aquele sentimento tivesse permanecido / Existe beleza a ser encontrada naquilo que é comum”. Não muito tempo depois, ela conheceria os irmãos Farro e formaria a Paramore.
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Na acústica “HYD” Hayley Williams direciona uma carta aberta à pessoa amada, se perguntando como ela deve estar, e apesar de toda a dor e decepção, a cantora canta um de seus versos mais honestos ao dizer “Eu sei que é difícil pra você aceitar um elogio, mas minha vida começou no momento em que você entrou nela.” Ela também se questiona como é vista aos olhos da outra pessoa, e em “No Use I Just Do”, finalmente encara a si mesma e admite que ainda o ama. “Se eu só quisesse alguém pra abraçar, então qualquer um serviria / Eu fecho os meus olhos e tento não transformá-los em você”, ela canta. “Find Me Here”, lançada previamente no EP “Petals for Armor: Self-Serenades” navega com leveza pelos temas de solidão e solitude, focando no crescimento pessoal e na jornada individual que duas pessoas precisam trilhar antes de encontrarem uma à outra como iguais. “Enquanto eu te amar, você nunca estará sozinho”, assegura Williams.
O álbum se encaminha para o final com o interlúdio instrumental “Descansos”, composto pelo baixo, o piano e o áudio do que parece ser uma gravação de fitas caseiras registrando momentos em família. Williams cantarola de modo etéreo, com várias camadas de sua voz entrelaçadas, conforme a música se aproxima do fim. Terminando com “Just A Lover”, Hayley Williams relembra suas experiências com o amor e se reconhece como uma dos amantes, uma mulher apaixonada. A música cresce até ser complementada por uma banda completa de instrumentos, enquanto Williams fala também de suas experiências no cenário musical e afirma “sem mais músicas para as massas”. Ela finaliza sua jornada atingindo um lugar de aceitação e clareza, dizendo “Eu sei exatamente o que isso é, ou o que quer que tenha sido.”
Ao contrário dos vocais estridentes e instrumentais barulhentos que apresentaram Hayley Williams ao mundo através da Paramore, é buscando a roupagem minimalista do folk acústico que a cantora consegue se expressar na sua maior vulnerabilidade. Em seu disco de estreia, ela já tinha provado que “a revolta é algo silencioso”, e falar de toda a raiva abriu espaço para que ela também falasse da dor e do lento processo de cura. “FLOWERS for VASES / descansos” é um belo requiém para um amor que chegou ao fim e um admirável ponto de partida rumo a uma carreira solo promissora.
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