Resenha: “Churches” – LP (2021)

LP
Foto: Ryan Jay

Boêmia é um conceito de celebração, popularizado durante o fim do século 19 e começo do século 20, no qual o que importava, na verdade, era somente o amor e as nossas emoções – celebrando os aspectos do que é ser humano. Falo sobre a boêmia porque o álbum, “Churches” da cantora LP, lançado na sexta (03), como noticiamos aqui na Nação da Música, carrega muito desta atmosfera.

Seja pelo uso primário de somente instrumentos orgânicos, mantendo-se longe de sons eletrônicos, ou pela, facilmente identificável, influência do folk tradicional durante as 15 faixas do disco, LP usa, da mesma forma que artistas como Florence + The Machine, este conceito boêmio e festivo para registrar experiências atuais.

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O projeto começa com a faixa “When We Touch” e o sentimento grandioso do álbum, como se LP estivesse cantando para um mundo que ficou quieto só para ouvi-la, já é presente. O piano utilizado nas primeiras linhas, “Quando nos tocamos / Nenhuma quantidade de tempo pode ser o bastante”, é sentimental e íntimo.

No entanto, no meio da música, a cantora revela uma voz gritada, como se estivesse lembrando-se das intensas emoções que vinham daquele relacionamento, que nos acompanha até o fechamento da canção.

Seguimos com “Goodbye”, a única música do disco que realmente utiliza sons eletrônicos e, ainda assim, eles estão bastante atrás dos instrumentos orgânicos (principalmente um violão e uma constante percussão). LP utiliza de novo de sua voz intensa, mas, salva isto para o refrão, enquanto nos versos nos relata a mensagem com um tom mais comum.

Em uma das faixas que mais perpetuam a boêmia, a cantora convida todos a deixarem tudo para trás, com letras como: “Seus heróis, seus demônios / Em que você é ensinado a acreditar / Eles mudam com as estações / Fodam-se eles, você não precisa deles”.

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Uma canção totalmente influenciada pelo country, contando até com as palmas marcando as batidas no fundo, “Everybody’s Falling In Love” traz um registro completo do sentimento de paixão e de tornar-se uma pessoa apaixonada, mas, na perspectiva de uma pessoa observando estes apaixonados, enquanto procura algo casual. A produção compreende que o refrão repetido deve ser o ápice da faixa e mantém os versos nos mesmos instrumentos, enquanto explode em sons variados nos diferentes refrões.

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The One That You Love” é uma das faixas mais tristes do álbum e a voz de LP acompanha as letras, com um sofrimento profundo nas suas cordas vocais – como se ela estivesse contando uma história triste em volta de uma fogueira. O mais interessante na produção desta faixa é o uso de guitarras elétricas no fundo de uma faixa quase totalmente baseada no violão, no entanto, esta escolha consegue tirar um pouco da harmonia, encaixando a batida com as emoções de LP.

Cantando a uma namorada passada, LP implora que esta mulher a conte como ser a pessoa que ela ama, como agradar ela, porque ela já tentou de tudo. “Baby, eu peguei o mundo inteiro e coloquei nas suas mãos” simboliza o quanto a cantora já tentou, mas, sua amada ainda assim não a ama.

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Começando com um som simples de violão, um dedilhado, no qual até dá para ouvir uma percussão provavelmente feita no corpo do instrumento, “Rainbow” tem uma mensagem extremamente poderosa para qualquer pessoa LGBTQ+. Quando parte dessa comunidade, muitos de nós já nos perguntamos se vale a pena encarar tanto preconceito e dificuldades só para viver abertamente e LP usa a metáfora do arco-íris para incentivar todes a viverem suas verdades.

No início da faixa, a artista parece questionar a si mesma, falando com um interlocutor e o contando o medo de se afogar neste “deslizamento” e nas tempestades, especialmente sem um horizonte claro à frente. A pergunta que ela se faz, “Vale a pena sobreviver só para ver um arco-íris?”, é respondida na última linha, quando ela percebe que nos mantermos vivos e aqui é importante e vale a pena.

One Last Time” descreve um amor épico, que é acompanhado pela produção, que, além de animada, usa ecos e diversas gravações da voz de LP para simular muitas pessoas cantando junto. Mesmo já não tendo mais aquela pessoa em sua vida, a artista narra que vive nos momentos que elas duas experienciaram juntas, “Todos estes momentos são dourados / Para sempre é meu com você”, mas, isto não é o bastante, a cantora precisa que as duas estejam unidas de novo, pelo menos por uma última vez.

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A próxima “My Body” é outra em que as influências do country e do folk estão bastante explícitas, até na maneira em que a LP modula sua voz. Com percussão, pandeiros, violões e um fundo de vozes a acompanhando, a artista narra um momento em que está sentindo saudade de seu passado, mas que precisa de alguém novo – seu corpo precisa disto. “Começar a prestar mais atenção a mim mesma / Uma ‘motherfucker’ de minha invenção” explica a aura desta faixa, LP está colocando a si mesma no centro da narrativa.

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Com um piano e vozes ao fundo, a artista começa a nova canção, “Angels”, que recebe novos instrumentos ao longo de sua duração, como se novas pessoas se juntassem a ela para criar esta música. Cantando sobre se libertar e correr livre de quaisquer “jaulas”, junto a pessoas que ama, LP descreve como esta pessoa a faz sentir como se anjos estivessem em volta delas, incentivando o amor das duas.

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O mais interessante de “How Low Can You Go” é o fato de que a artista escolhe usar um estilo de composição narrativo e linear, cantando a última vez que encontrou-se com essa pessoa e imaginando como seria se estivessem juntas de novo. Com uma atmosfera psicodélica e o instrumental também lembrando a década de 70, LP descreve esta pessoa que superou a vida boêmia de festas e celebrações, tornando-se um exemplo da vida tradicional, e fala sobre como pensa nelas duas ainda em contato.

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Yes” marca a décima música deste álbum e sua mensagem é a de se abrir completamente para experiências novas, conseguindo, com esta produção que entra e sai como uma onda, fazer este convite para que o interlocutor viva a sua vida completamente. Com versos como “Diga sim / Para sentir coisas que você não sabe ainda”, LP convida-nos a adentrar seu universo e nos libertar mais com ela – talvez não faça muito sentido estar nesta posição no disco, mas a música ainda faz um convite interessante.

A canção que segue é “Conversation” e, nas primeiras linhas, a aura que ela passa é que esta será uma música completamente sobre sexo – o que 100% pode ter sido uma das inspirações para a canção -, no entanto, LP pede à sua amada que tenham, na verdade, uma conversa, olhando nos olhos uma da outra.

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Sob guitarras, ecos e uma percussão mais tradicional, a artista solicita que esta interlocutora converse com ela, seja completamente honesta e comunicativa, “É só comunicação / Eu preciso de um pouco de paciência”, ela mesma afirma, neste ritmo de rock clássico.

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Safe Here” é a próxima e é uma faixa mais com um formato clássico, todos os refrões tem o mesmo ritmo, mesma coisa com os versos, mudando um pouco durante a ‘bridge’. Baseada em piano, percussão e violão, a canção descreve uma pessoa que não consegue sentir-se bem assim que está sozinha, longe de seus amigos e, nessa faixa, implora ao interlocutor que a salve e a mantenha segura – tudo isso enquanto ativamente procura novos ‘perigos’, como quando fala: “Talvez eu só abra aquela porta”.

Seguimos no disco com “Can’t Let You Leave” e a voz de LP lembra diretamente cantoras como Stevie Nicks neste ritmo de um folk animado, baseado na guitarra e bateria, com um pandeiro marcante sempre no fundo. Nessa música, a artista consegue provar, de novo, que as suas personagens nas letras são muito bem construídas – a narradora conta como não pode esquecer deste amor, porque já levou tudo dela, tanto que a única coisa que resta é esta pessoa. A ‘bridge’ com vozes angelicais e um toque mais suave se encaixa perfeitamente neste momento de intensidade emocional.

Descrevendo muitos dos sentimentos que pessoas LGBTQ+ têm em relação a igrejas e religiões, LP usa as letras de “Churches”, a última faixa musical, para afirmar que várias das tradições religiosas não são para ela, reforçando que a sua própria ‘Igreja’ é o amor, especialmente sua relação com sua amada. “Sem perguntas, ninguém para julgar” é um dos versos nos quais, sobre este ritmo suave, a artista explica o que mudaria se pudesse.

Começando com um som, como se todos os que ouvimos no resto do álbum se reunissem, até se fecharem em um toque singular e vozes de fundo, “Poem” finaliza o álbum de LP e é quando a artista realmente lê um de seus poemas, dedicado à sua amada e, com muita inteligência, abrigando todos os títulos de faixas do disco.

“Churches” de LP é uma experiência de liberdade, de êxtase e de sentimentos intensos, todas as faixas são dominadas pelas emoções da artista, sejam elas positivas ou não. Além disto, o tanto de detalhes e metáforas que a cantora utiliza funcionam para dar a impressão de que ela está contando as histórias a uma audiência que ainda não as conhece, nos puxando para dentro de seus sentimentos e nos levando a senti-los também.

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Pedro Paulo Furlan
Pedro Paulo Furlan
Estudante de jornalismo, não-binárie e apaixonade por música. Sempre aberte para ouvir qualquer gênero, artista ou década. O universo do pop, principalmente hyperpop, k-pop e synthpop, é onde eu vivo e sobrevivo.
Com 15 faixas, LP consegue criar um universo baseado no folk, country e rock psicodélico em “Churches”, guiando-nos a deixar tudo para trás e sentir nossas emoções na sua maior intensidade, junto a ela.Resenha: "Churches" - LP (2021)