Resenha: “Deus e o Átomo” (2016) – Medulla

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Sua banda é incrível! Mas, infelizmente, não posso investir em algo que eu não saberia em qual prateleira vender”. Essas foram palavras entre as mais impactantes que eu pude presenciar trabalhando – direta e indiretamente – com música por mais de dez anos.

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O ano era 2012, eu era um mero ouvinte em uma reunião entre certa banda e um empresário do ramo. Um mero ouvinte incrédulo com a falta de personalidade do mercado musical, representado naquele executivo.

Lembrei deste ocorrido no exato momento em que acabei de escutar “Deus e o Átomo”, segundo disco de inéditas do Medulla, lançado no último dia 23 de setembro. Lembrei com um sorriso de satisfação no rosto, confesso. Com uma sensação de que sempre estive certo, sabe?

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Entre modelos de lançamentos alternativos e transições, faziam dez anos que a banda carioca-paulista-pernambucana não lançava um disco cheio. Três sem qualquer material inédito divulgado. Era como se os caras estivessem preparando algo grande, uma Genki Dama.

E ela veio avassaladora. “Deus e o Átomo” apresenta treze faixas sinceras, repletas de participações pesadíssimas, produzidas por Pedro Ramos – o popular Toledo, que também gravou a bateria; mixadas e masterizadas por Léo Ramos, da Supercombo, e Fernando Martinez.

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Tudo isso minuciosamente inserido em um contexto transcendental entre espírito, períspirito e matéria. Confira o trailer abaixo e tente entender:

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Como ressaltou o vocalista Raony nesta entrevista aqui no Nação da Música, o álbum é dividido em dois atos, por assim dizer. Algo pensado também para o lançamento em vinil.

Neto, integrante único do grupo paulista Síntese abre o “Lado A” com o prólogo “7X70”, que é seguido de “Deus”. As duas faixas, em conjunto, servem a porção inicial da temática. O silêncio por trás do discurso inicial é invadido por um mar de camadas musicais da faixa 2. Percussão, contratempos – no duelo de bateria versus guitarra; e um refrão daqueles bem fortes, encaixados. Golaço.

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E quando você ainda tenta entender pra onde o disco está te levando, o que se segue é uma mistura de rock visceral – norteado com a ideologia punk dos anos 1970 do “Do It Yourself”; com a nata do TrapMusic e versos de Marcelo D2. Eis a terceira faixa – candidatíssima a primeiro single do disco; “Faça Você Mesmo”:

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Mais um refrão potente dita a reviravolta enérgica de “Travesseiro Azul” que precede uma das faixas mais profundas de “Deus e o Átomo”. Com participação de Martin, guitarrista de Pitty e do projeto Agridoce, “Abraço” não poderia ter nome e letra mais honestos.

Com ambiência de Jazz, a linearidade harmônica, enriquecida com frases de guitarras em momentos pontuais da faixa, se desenrola como uma poesia recitada, tão confortável quanto sugere o nome. Mas a letra questiona: “(…) você quer me amar ou ferir? Você quer me partir ou partir?”. O ponto de fuga no clímax final responde.

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E esse beat acelerado final já emenda na guitarra abafada do início de “A Paz”. Destaque aqui para o baixo distorcido de Tuti AC – que também assina a arte de capa do álbum. E o primeiro ato do disco se encerra em clima de afrontamento, protesto e questionamento sobre o sistema, a sociedade e a falsa sensação de paz.

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Com bom humor e certa dose de ironia, Edgar é quem manda a letra no monólogo “Z”, que abre a segunda metade do disco. A ideia apresentada anteriormente é complementada pelo outro prisma proposto pelo título, de uma outra direção. A fé e a espiritualidade podem ser racional? “Átomo” assegura isso logo na sequência.

Peso, coro, gritos e versos sobrepostos dos gêmeos Keops e Raony ditam “Estamos Ao Vivo” e abrem brecha para falar da paixão conturbada de “Separação”. A música tem um jogo de palavras interessante e a participação de Helena D’Troia engrandece demais o conjunto, é verdade. Mas o guitarrista Alex Vinicius passeia no protagonismo e dá uma aula de arranjos e efeitos.

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“O Segredo” tem pílulas de eletrônico, melodia vocal desconstruída e um coro de crianças. “Fim da Estrada” ameaça um começo mais ameno com uma dobradinha de violão dedilhado. Logo, o bumbo marca o compasso crescente, e faixa ganha corpo e arranjos de metais.

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Entre as muitas qualidades, “Deus e o Átomo” é um disco que, respeitavelmente, consegue abraçar várias possibilidades musicais, todas elas em suas frequências mais altas.

A participação do talentoso Teco Martins, ex-Rancore e atual Sala Espacial, em “Prosseguir”, reforça isso, botando um ponto final de continuidade à altura do disco, com flashbacks dosados do bom Hardcore Melódico “tupá-tupá”, que abasteceu tantas fontes da cena nacional, incluindo os próprios anfitriões.

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Ter o Medulla de volta agora com um álbum tão complexo e, ao mesmo tempo, tão coerente e coeso é um atestado de que aquele modelo de mercado idealizado pelo empresário citado lá no início desta resenha está com os dias contados.

“Deus e o Átomo” é como uma grande casa de dois andares e treze quartos. Cada vez que você entra em um desses quartos está acontecendo uma coisa diferente e você consegue captar uma nuance.

No fim, você acaba percebendo que todos esses acontecimentos são entrelaçados por um propósito e a mensagem que fica é condizente com a sua própria experiência espiritual e cotidiana. É humano, plural.

Não existe prateleira para este álbum. Não existe um rótulo mais sincero – e escasso – do que personalidade. Bem-vindos de volta.

Tracklist:

  1. 70×7 – Part. Síntese
  2. Deus
  3. Faça Você Mesmo – Part. Marcelo D2
  4. Travesseiro Azul
  5. Abraço – Part. Martin
  6. A Paz
  7. Z – Part. Edgar
  8. Átomo
  9. Estamos Ao Vivo
  10. Separação – Part. Helena D’Troia
  11. O Segredo
  12. Fim da Estrada
  13. Prosseguir – Part. Teco Martins

Nota: 9,5

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