Resenha: “If I Can’t Have Love, I Want Power” – Halsey (2021)

Halsey
Foto: Lucas Garrido / Divulgação

À convite da Universal Brasil, o Nação da Música conferiu a exibição de “If I Can’t Have Love, I Want Power”, experiência cinematográfica idealizada pela cantora Halsey para acompanhar o álbum de mesmo nome, lançado na última sexta-feira (27) e sobre o qual também falaremos ao longo desta resenha.

Após o anúncio oficial do projeto, em junho, a norte-americana o definiu como um trabalho “conceitual sobre as alegrias e horrores da gravidez e do parto”, enquanto o longa foi apresentado em um trailer como “o perpétuo labirinto social da sexualidade e do nascimento”. Ambas apresentações caminham de mãos dadas ao analisarmos a experiência de uma mulher numa sociedade patriarcal que julga, manipula e trata tão mal aquelas que têm o poder de gerar vida ao longo de 9 meses.

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Halsey é creditada como autora da produção nos créditos finais, junto com Colin Tilley na função de diretor; eles trabalharam juntos no clipe de “Without Me” e “You Should Be Sad”, ambas presentes em “Manic”. A ficha técnica do álbum traz nomes como Trent Reznor e Atticus Ross (Nine Inch Nails) na produção, acompanhados por Dave Grohl (Foo Fighters), Lindsey Buckingham (Fleetwood Mac) e David Andrew Sitek (TV On The Radio) ao longo das faixas. Reznor e Ross também aparecem como compositores, junto com a cantora e os produtores musicais, Greg Kurstin e John Cunningham.

A faixa de abertura, intitulada “The Tradition”, começa a narrar essa história de horror descrevendo a vida de uma garota solitária que, apesar de ser vendida por alguns trocados e estar prestes a passar por maus bocados, carrega dentro de si a força necessária para superar esse período difícil. Podemos dizer que a Rainha Lila, personagem principal da produção cinematográfica é retratada aqui da forma mais real possível, de maneira que só Halsey conseguiria, através da sua habilidade de contar histórias.

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Apesar da história ser centrada a partir da ótica feminina, conforme relatado anteriormente, a compositora desabafou com Zane Lowe, durante a única entrevista de promoção que fará sobre essa nova fase, o fato desta não ser uma obra sobre empoderamento feminino:

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“Em qualquer momento em que falo sobre feminilidade ou maternidade, eu penso sobre isso com um gosto na boca, sabe o que eu quero dizer? Tipo, vai ser uma garota grande, uma garota é uma arma, tudo que eu consigo sentir é o gosto de sangue na minha boca…”, desabafou.

Na sequência do disco, ouvimos “Bells In Santa Fe”. O ouvinte desatento, ou pouco conhecedor do trabalho do Nine Inch Nails, talvez não note a influência e o peso que o trabalho em conjunto com a dupla resultou aqui, mas para aqueles que conhecem, é nítido. A luta da narradora para encontrar e gostar de si mesma é evidente aqui ao longo de todos os versos, especialmente em “Better off dead, so I reckon I’m headed to Hell instead”.

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No longa-metragem, após a morte do Rei abusivo, Lila faz amizade com as mulheres do condado que são donas dos seus corpos, de certa forma, o que não bem visto pelos membros da corte que observam à distância enquanto ela, na interpretação deles, definha. Na verdade, ela está tentando reconstruir seus pedaços após ser subjugada em uma relação fadada ao fracasso, com um homem que não amava mulheres, mas o poder que supunha e desejava ter sob elas.

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É nesse aspecto que se aplica a “dicotomia da Madona e da prostituta” expressa pela compositora ao anunciar esse trabalho inédito. A artista expõe a experiência humana da forma mais poética e visceral possível, fazendo com que todos saiam do cinema (ou da audição do álbum) sem palavras, completamente impactados a partir daquele experimento. O complexo da Madona e da prostituta foi notado por Freud pela primeira vez e determina a dualidade sob a qual o homem encara uma mulher, sendo a primeira figura interpretada na religião como Maria, a mãe de Jesus, e a segunda a popularmente conhecida “mulher da vida”.

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Assim como em “Manic”, relacionamento abusivo e os traumas gerados a partir dessa vivência são temas bastante recorrentes nas letras deste trabalho inédito. Ao admitir “I sleep with one eye open and one eye closed/’Cause I’ll hang myself if you give me rope” em “Easier Than Lying”, encara a realidade sobre o que está lidando para que, eventualmente, chegue aos termos finais de, possivelmente, se libertar.

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Na sequência, temos a sintetizada na medida certa, “Lilith”, na qual mais uma vez o assunto previamente comentado é descrito sob um sentimento de desgosto consigo mesma da narradora e dúvida quanto ao afeto que sentiu pela pessoa a quem a música é direcionada “Now, I’m wonderin’ if I ever wanted to hold you/It never mattered if I owned you/’Cause you’d let anybody with a body control you”. Durante a conversa com Lowe, Halsey também falou sobre como encara o tempo como o seu aliado, ao invés de inimigo como muitos da mídia esperam que celebridades o interpretem e na letra de “Girl Is a Gun” notamos a referência: “Time is a blessin’, to me, it’s a lesson/And I can’t be stressin’ to give you attention/’Cause, oh, it’s never enough, so I’m givin’ you up/And you’ll be better with a nice girl, darlin’”.

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Em muitos aspectos musicais, “If I Can’t” se relaciona com “Badlands” (2015), mas especialmente em “You Asked For This”, com uma referência explícita à “New Americana” com a frase “You know I’m still somebody’s daughter, see”. Além de ser uma clara afirmação, no geral, da pressão que jovens meninas sofrem ao longo dos seus anos de formação para serem mais maduras do que estão prontas. Contudo, assim como a animada “Honey”, com Dave Grohl assumindo a bateria, foi composta despretensiosamente para mostrar ao seu irmão como ela trabalhava, não aparece no longa-metragem.

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“Darling” é a canção final do filme, o momento em que a Rainha Lila encontra a paz, após tantos julgamentos e abusos. A letra, creditada a Reznor, Ross, John Cunningham e Halsey, conta com Lindsey Buckingham na guitarra acústica, e é uma balada em homenagem ao filho da cantora, Ender Ridley Aydin. Além disso, traz muitas conotações que nos remetem a vida dela e seu tratamento para distúrbio bipolar: “And maybe I’ll be better if I take my meds/ Ain’t a doubleheader if you lose your head/Try the medication that I bought instead/It’s workin’ for a little, but there’s not much left”.

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“Foi o dia em que descobri que estava grávida. Eu estava realmente doente e eu pensei que fosse COVID, mas era apenas gravidez”, revelou sobre a faixa “1121” durante uma live, nomeada dessa forma em referência ao dia 21 de novembro. É um desabafo sobre o medo que sentiu ao ter a notícia e também pode ser correlacionada com “More”, nos versos em que diz: “But ever since I met you/You could have my heart/And I would break it for you”, ao passo que a canção do álbum anterior diz: “And when you decide it’s your time to arrive/I’ve loved you for all of my life” e foi escrita, na época, para o seu futuro filho. Em 2019, Halsey revelou que sofreu três abortos espontâneos devido ao excesso de trabalho que estava tendo.

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A sociedade faz pré-julgamentos com bastante frequência, especialmente relacionado a celebridades, mais ainda quando essas são assertivas, como é o caso da Halsey. Em “Whispers”, ela fala sobre essas concepções, o fato de que até gostaria de provar que todos estão certos mas que, no fundo, ela mesma acaba “sabotando as coisas que mais gosta” devido aos seus problemas de saúde mental e as inseguranças que ela carrega.

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As criações da autora de “Hurricane” muitas vezes transitam entre o endeusamento de si mesma e a auto-depreciação, em “I’m Not a Woman, I’m a God” isso fica mais em evidência ainda com trechos em que ela declara “I am not a woman, I’m a god/I am not a martyr, I’m a problem/I am not a legend, I’m a fraud”. Definitivamente um ótimo single promocional para esse trabalho que traz tantas nuances quanto os anteriores.

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“The Lighthouse” traz vocais adicionais de Trent Reznor. Um poema de mesmo nome foi revelado em 2020, no qual a artista fala supostamente sobre o relacionamento abusivo que ela teve com o cantor G-Eazy. A letra relata uma retomada de poder, em uma história muito bem contada, onde notamos ainda mais o potencial lírico da artista.

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O ato final de “If I Can’t Have Love, I Want Power”, “Ya’aburnee” é outra música em homenagem a família recém-formada por ela e Alev Aydin. O título foi extraído de uma palavra de origem árabe que significa “você me enterra”, traduzindo completamente o que ela quer passar em declarações como “And if we don’t live forever/Maybe one day, we’ll trade places/Darling, you will bury me/Before I bury you”.

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Ao contrário da Rainha Lila que nesta trama de horror, misoginia e sofrimento só consegue encontrar a paz após a morte, em uma linda cena na qual vemos cores mais alegres e vivas, onde se reencontra com seu filho, Halsey parece ter encontrado serenidade em sua vida pessoal. O filme é dedicado ao seu namorado e pai de seu filho, Alev Aydin: “à nossa nova era”, declara a cantora nos créditos finais. Não é pra menos que, durante a conversa citada anteriormente com Zane, a autora de “Ghost” declarou “eu escolhi o amor”.

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RESUMO DA RESENHA
Halsey - "If I Can't Have Love, I Want Power" (2021)
Jornalista, apaixonada por música, livros e cultura em geral.
resenha-if-i-cant-have-love-i-want-power-halsey-2021Halsey continua sua evolução lírica e musical em seu quarto álbum de estúdio, "If I Can't Have Love, I Want Power", mostrando toda a sua capacidade poética e nos impactando com o seu já conhecido potencial. Se as pessoas não prestavam atenção no que ela dizia antes, o objetivo estabelecido por Trent Reznor e Atticus Ross, segundo a cantora, definitivamente foi atingido.