Resenha: “Casulo” – Pitty (2022)

Pitty
Foto: Otavio de Sousa

Já na primeira semana do ano, a cantora Pitty deu o start oficial em 2022 liberando no dia 7 de janeiro seu novo projeto “Casulo” em todas as plataformas digitais. Ao divulgar o EP, que é composto por quatro faixas, todas com parcerias com artistas da cena nacional independente, Pitty descreveu-o em suas redes sociais com uma reflexão a respeito das mudanças que acompanham os diversos ciclos da vida, em especial os tempos de pandemia.

“A vida, em sua mais pura existência, é cíclica. transformação é inevitável. especialmente num ano como esse, onde fomos impelidos a nos adaptar cada vez mais rapidamente a tudo; tecnologia, novos ritmos, novas perdas, novas descobertas sobre si mesmo. depois de um recolhimento necessário, é hora de (re)aprender a voar”, disse em seu Twitter.

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A proposta de “Casulo” segue o sentido literal da palavra em todas as suas camadas: desde o título e a foto da capa, em que a cantora aparece dentro de um pano suspenso representando um casulo assim como dos insetos antes da transformação, até na abordagem das músicas, que demonstram tanto nas letras, quanto nas melodias, as “transformações” pessoais e profissionais de Pitty desde seu último disco “Matriz” (2019).

“Tantas vozes, eu me lembro bem / me forçando a calar / Tantos dedos apontados / sem propriedade pra falar”. Os primeiros versos de “Diamante” abrem o EP na voz de Drik Barbosa, que também participa da faixa junto com WEKS. Não é novidade ver Pitty fazendo críticas sociais em suas letras, mas o que chama a atenção é a indústria da música como objeto da análise. Ao longo do single, que também ganhou um clipe oficial no dia de lançamento do disco, as cantoras refletem sobre o excesso de julgamentos e críticas que os artistas sofrem no meio, com direito até mesmo a uma menção à icônica “Teto de Vidro”. Marcada por uma constância melódica e um pico de overdrive, a transformação que resulta do “casulo” apontado em “Diamante” diz respeito ao aprendizado de se priorizar as críticas construtivas às destrutivas, e reitera que todo o caminho percorrido “foi luta, não foi sorte”.

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Desde a melodia do efeito dos teclados até os versos finais, “Simplesmente Fluir” traduz os sentimentos de muitos de nós em relação à pandemia, trazendo uma onda de otimismo e conscientização necessárias aos tempos atuais. Em parceria com Pupillo, Pitty faz um apelo à capacidade de se ver o lado bom da vida, e à simplicidade de coisas cotidianas, como poder encontrar as pessoas sem a sensação de medo e cautela que passaram a caracterizar o “novo normal” que nos acompanha já pelo terceiro ano consecutivo. A faixa, que ao meu ver remete bastante à sonoridade do álbum “Matriz”, nos lembra que, apesar da saturação de todas as adaptações (ou “transformações”) feitas ao longo da pandemia, estas ainda vão desabrochar nas vivências que conhecemos e tivemos até então.

“Busca Implacável” é, para mim, o grande destaque de “Casulo”. Não só porque a combinação Pitty + Jup do Bairro e BADSISTA encaixou-se perfeitamente, mas principalmente pela composição do conjunto da obra. Repleta de referências e nuances sobre como a vivência na grande São Paulo pode afetar as pessoas de diferentes formas, ao meu ver a faixa mescla, de forma remasterizada com as respectivas essências das outras artistas, o melhor da crítica social presente na letra de “Admirável Chip Novo” (do disco homônimo de 2003) com um instrumental intenso e contagiante, similar ao da música “Noite Inteira” (do álbum “Matriz”). Ao contrário das faixas anteriores, “Busca Implacável” reflete as consequências e questionamentos a respeito das “transformações” que fazemos constantemente para pertencer ao meio em que estamos inseridos, seja ele qual for, assim como consta nos versos “Busca implacável pra se sentir pertencente ao fim / Desacelero / Percebo que eu vivi todo esse tempo correndo de mim”.

Por fim, Pitty retoma em “Diário” o tópico da pandemia ao lado de Monkey Jhayam e Rockers Control sob a ótica das diferentes fases que vivemos ao longo da quarentena. Com uma sonoridade marcada principalmente por instrumentos de sopro e versos compostos por uma inteligente combinação de palavras, os artistas desabafam em tom de diário sobre as dificuldades de se manter otimista em relação aos tempos que se instauraram desde a descoberta do vírus no início de 2020, e de estar quase que permanentemente dentro de casa, longe do convívio e da vida em sociedade.

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Como lidar com sentimentos como a angústia e a frustração decorrentes do isolamento social? Como lidar com o passar e não do tempo do “novo normal”? Apesar de não haver uma resposta exata neste terceiro ano de pandemia, a conclusão final que Pitty nos deixa na última faixa de “Casulo” é sobre a “transformação” que passamos ao longo deste período. Em meio aos anseios de voltar ao que conhecemos, saímos mais fortes e com uma maior maturidade da consciência individual e coletiva sobre estes tempos e sobre a importância de se preservar a vida; não deixando de ser, de certa forma, a função de um casulo.

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Natália Barão
Natália Barão
Jornalista, apaixonada por música, escorpiana, meio bossa nova e rock'n'roll com aquele je ne sais quoi
O novo projeto de Pitty, "Casulo", traz as reflexões da cantora sobre o período da pandemia e as mudanças que todos tivermos que fazer para nos adaptar ao "novo normal", ao lado de nomes de grande destaque da cena independente nacional, como Drik Barbosa e Jup do BairroResenha: “Casulo” - Pitty (2022)