O aniversário do dia 13 é dela, mas quem ganhou o presente fomos nós! Na última quinta-feira (10), Taylor Swift surpreendeu os fãs mais uma vez, anunciando seu segundo álbum surpresa de 2020. “evermore” chegou às plataformas de streaming na sexta-feira (11), apenas cinco meses após seu predecessor “folklore”, que passou semanas no topo das paradas e foi indicado ao Grammy 2021.
Segundo a cantora, os dois álbuns são “irmãs”, seguindo linhas sonoras semelhantes e contando histórias que misturam ficção e realidade. A roupagem minimalista do disco anterior se mostrou muito bem-sucedida, o que fez Taylor repetir sua parceria com os nomes de Aaron Dessner, Jack Antonoff, Justin Vernon e William Bowery. Se distanciando da paleta branca e cinza de sua irmã primogênita, “evermore” traz uma estética outonal em tons de vermelho escuro, laranja e marrom. A atmosfera é aconchegante e convidativa, e seu título com promessas de eternidade funciona quase como um encantamento, um atrativo convidando o ouvinte a se aventurar ainda mais adentro na imaginação de Taylor Swift. E é exatamente isso que vamos fazer agora.
O álbum abre com o som folclórico de “willow”. A sobreposição de violões cria uma atmosfera de música celta que serve como uma ótima introdução a esse novo mundo fantástico de Taylor. Os versos cantados um tom abaixo introduzem certo tom de mistério à narrativa de um amor quase mitológico, mas a canção traz um refrão dançante contando com os falsetes suaves e harmonizações de Swift. Em resposta a um comentário em seu canal no Youtube, a cantora escreveu: “’willow’ é sobre intriga, desejo e a complexidade que é querer alguém. Eu acho que soa como lançar um feitiço para alguém se apaixonar por você (o que é um visual bem específico)”. Toda a imagética de barcos cortando a água e encontros furtivos ao cair da noite colaboram para fixar esse aspecto de fantasia no imaginário do ouvinte.
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Logo em seguida, o feitiço é quebrado pelo som do piano apresentando “champagne problems”. De volta à realidade, a composição é fruto de uma parceria entre Taylor e seu namorado Joe Alwin, que aparece tanto em faixas do “evermore” quanto do “folklore”, creditado sob o pseudônimo de William Bowery. A canção tem um triste teor natalino e soa como uma carta aberta, cantada da perspectiva de alguém que terminou um relacionamento após receber um pedido de noivado. A voz suave de Taylor acrescenta um toque nostálgico às suas palavras, que são carregadas de uma doce empatia pela dor da outra pessoa. O grande destaque vai para a ponte, onde a narradora dessa história revive pequenos momentos de felicidade e lamenta as coisas boas perdidas no tempo. Ela se despede com palavras agridoces, afirmando com delicadeza: “você vai encontrar algo real, ao invés disso / ela vai remendar sua tapeçaria que eu rasguei”.
“gold rush” é introduzida ao som de violinos e harmonizações de Taylor Swift, mas o tempo logo acelera e a cantora surpreende ao entregar o refrão em um flow notável logo no começo. Swift começa chamando a si mesma para a realidade por estar se apaixonando por alguém que ela sabe ser do interesse de outras pessoas “Todo mundo quer você / Todo mundo se pergunta como seria amar você”. Há uma quebra no ritmo na passagem para os versos, que soam como um devaneio da personagem, também se permitindo divagar sobre como seria ter a pessoa de seu interesse, “Eu me vejo andando pelos seus pisos de madeira / Com minha camiseta dos Eagles pendurada na porta” e logo em seguida se repreendendo novamente. A música encerra com os mesmos versos harmonizados da introdução.
A primeira vez que as características sonoras e líricas do “folklore” dão as caras explicitamente é em “’tis the damn season”. Tendo como base apenas alguns acordes de guitarra e a marcação da bateria, Taylor entrega uma narrativa semelhante às apresentadas na trilogia “cardigan”, “august” e “betty”. Aqui ela começa ambientando a história durante as festas de fim de ano, com “o tipo de frio que embaça as vidraças do para-brisa”. É nesse cenário que a personagem busca reacender uma antiga paixão de sua cidade-natal, mesmo que seja só durante um fim de semana. Na ponte, fica claro que esse é um amor não superado, mas que ela precisa deixar para trás por conta da vida que agora leva em Los Angeles, com seus “por assim dizer, amigos, que um dia escreverão livros sobre mim se eu der certo”. Essa narrativa é retomada mais pra frente em “dorothea”.
Uma das marcas registradas de Taylor Swift é guardar a faixa número 5 para suas canções mais vulneráveis, como é o caso de “All Too Well”, no disco “Red”, e “The Archer” no “Lover”. Depois de entregar uma composição cheia de mágoa e metáforas fúnebres em “my tears ricochet” no disco anterior, a escolhida para o “evermore” foi “tolerate it”. Segundo a cantora, a canção ganhou esse título de honra porque a letra “é muito visual e trata de um tipo muito específico de dor”. Ao som do piano e com vocais que crescem no refrão e na ponte, Taylor narra a história do ponto de vista de alguém que faz de tudo ao seu alcance para ser valorizada em seu relacionamento, mas não obtém reconhecimento da pessoa amada. Ela demonstra seu afeto em inúmeros gestos, como é mostrado nos versos “Eu te cumprimento como se estivesse recebendo um herói de batalha / Levo suas indiscrições na brincadeira / Eu sento e ouço, e fico polindo os pratos até eles brilharem”, mas sua presença e seus esforços são apenas tolerados ao invés de celebrados. Sonicamente, essa não é uma das faixas número 5 mais marcantes da cantora, mas liricamente Swift faz um ótimo trabalho ao usar imagens que passam perfeitamente o sentimento de impotência e invisibilidade.
Um dos grandes destaques do “evermore” fica por conta de “no body, no crime”, onde Taylor Swift retorna às suas raízes no country em parceria com as irmãs da banda HAIM. Aqui, a cantora dá asas à imaginação com uma história de mistério, infidelidade e assassinato. Ao som de sirenes policiais, gaita e violão, Swift narra sombriamente a história da personagem Este (nome de uma das irmãs Haim), que confronta o marido ao desconfiar de traição e acaba pagando um preço terrível por isso. A faixa escancara mais uma vez os talentos de Swift para o storytelling, formato recorrente em sua discografia. Utilizar a música country como pano de fundo se provou uma ótima escolha para ambientar esse suspense digno de Agatha Christie, tornando a faixa surpreendentemente dançante e cativante.
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Chegando ao meio do álbum, Taylor apresenta uma faixa melancólica sob o título ambíguo de “happiness”. Começando apenas com seus vocais límpidos acompanhados de um suave som de órgão, a canção trata de uma epifania que vem após um término doloroso: a de que havia felicidade no relacionamento e vai continuar a haver depois dele, mesmo que no momento presente haja somente dor e mágoa. A faixa é a mais longa do álbum e uma das composições mais maduras de Taylor Swift. Ela cresce conforme os sentimentos da cantora vão tomando forma, acrescentando piano, sintetizadores e harmonias até assentar pouco antes do final. Sua voz se mantém estável do começo ao fim, entregando os versos com a mesma sobriedade presente na letra.
A agridoce “dorothea” retoma a história já contada em “’tis the damn season”, dessa vez do ponto de vista da outra pessoa, que precisou lidar com a partida de Dorothea quando esta foi seguir seu sonho de ser atriz em Hollywood. O link entre as duas músicas se dá a partir do verso “você tem amigos ofuscantes desde que deixou a cidade / e o único lugar onde eu te vejo agora é através de uma tela pequena”. A canção busca a regionalidade do country para introduzir esse personagem de cidade pequena com simplicidade e leveza. A faixa alegre carrega o tipo de nostalgia feliz e otimista de alguém que, apesar de saber que as coisas mudaram, ainda se perde em memórias saudosas de tempos mais fáceis. Taylor revelou que, apesar de não ser uma continuação do universo de “folklore”, ela acredita que Dorothea frequentou a mesma escola que os personagens Betty, James e Inez, fazendo com que as canções sejam ambientadas na mesma cidade.
Apesar de ter colaborado com Aaron Dessner, do The National, em quase toda a extensão dos álbuns “evermore” e “folklore”, “coney island” é a primeira e única música de Taylor Swift em parceria com a banda em si. A colaboração acabou não sendo de grande destaque dentro do disco. A letra lamentosa e reflexiva perde um pouco do impacto ao ser contrastada com uma melodia jovial ao violão, e o dueto entre Taylor e Matt Berninger é ofuscado pelo brilho de outras canções semelhantes. A ponte, entretanto, traz algumas referências interessantes a canções mais antigas da cantora, como “The Moment I Knew”, “Dear John” e “Out Of The Woods”. A faixa também marca a segunda aparição de William Bowery no álbum.
“ivy” retoma as características da música celta em “willow” para contar a história de um amor proibido. Os violinos e violões sobrepostos entrelaçam a voz serena de Taylor, cantando da perspectiva de uma mulher casada envolvida em um affair. A faixa é carregada de metáforas, comparando o toque do amante com um “brilho incandescente” vindo da neve, e o sentimento por ele com a hera que cresce nas paredes e se alastra. No refrão é possível ouvir os vocais de Bon Iver ao fundo. Quando a primavera quebra o inverno no terceiro verso, a personagem cai em si sobre a seriedade da situação em que se encontra, e em meio ao medo de ser descoberta, pede que seu amante fuja com ela ou tenha coragem de encarar seu marido. Ao contrário do formato que costuma aparecer nas músicas de Taylor, a narrativa não tem desfecho dessa vez, o que dá a entender que a personagem se manteve presa em seu dilema.
A cantora busca o estilo country novamente para compor a doce “cowboy like me”; dessa vez, para contar uma história de amor inesperado em meio a um cenário de “bandidagem”. Ela canta com delicadeza, acompanhada do piano, violão e bateria leve. A suavidade do instrumental acompanha a história de duas pessoas que se conheceram enquanto tentavam aplicar golpes em frequentadores ricos de resorts e acabaram se apaixonando. A melodia fica mais sombria na ponte, enquanto a letra revela as dificuldades enfrentadas pelo par, mas há uma quebra quando é revelado que tudo acabou bem. Essa não é uma das faixas mais memoráveis do álbum, mas é bem-sucedida em construir imagens cinematográficas conforme se desenvolve.
Na divertida “long story short”, Taylor relembra com irreverência seus erros passados e amores não tão bem-sucedidos. Diferente das canções carregadas de dor e mágoa pelas quais ficou conhecida, nessa faixa do “evermore” ela olha para a sua trajetória com carinho e faz as pazes com as coisas que não deram certo. No terceiro verso a cantora faz referência a seu desentendimento com Kanye West e Kim Kardashian, mas sem a amargura presente em canções de discos anteriores: “Eu do passado / Eu quero te dizer para não se perder nessas coisas bobas / As suas nêmesis vão derrotar a si mesmas antes mesmo de você ter a chance de atacar”. Sob uma base eletrônica e o som da bateria preenchendo o refrão, Taylor mantém a discrição do restante do álbum em seus vocais, não buscando notas altas ou extravagâncias uma vez sequer. Ironicamente, é quando a cantora abandona a necessidade de se mostrar madura que ela prova o quanto amadureceu.
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Também é de conhecimento público que Taylor Swift reserva as faixas de número 13 para músicas que são importantes para ela. Em “evermore”, ela guardou o lugar para homenagear a lembrança de sua avó em “marjorie”. Em uma de suas composições mais tocantes, Taylor afirma que “o que morreu não permaneceu morto / você está viva na minha cabeça”. Contando com mais backing vocals de Bon Iver e batidas programadas, “marjorie” é um belo réquiem que cresce em intensidade na ponte, quando Swift despeja suas memórias saudosas e nos oferece detalhes sobre a figura de sua avó, que “amava tanto o céu âmbar” e quando mergulhava “sempre ia além de onde os pés podiam tocar”. Marjorie era cantora de ópera e é possível ouví-la cantando em uma gravação inserida no final da música.
Em uma de suas canções mais experimentais, Taylor flerta com o folk industrial em “closure”, intercalando batidas eletrônicas com as notas do piano e criando um som caótico que se mistura ao modo controlado com que ela entrega versos cheios de ressentimento. De forma passivo-agressiva, Taylor se dirige a um ex que ofereceu falsa simpatia a seus sentimentos quando o tempo certo já havia passado. Ela dispensa o gesto de forma incisiva através do trecho “não me trate como se eu fosse alguma situação que precisa ser lidada” e reafirma repetidamente que não precisa de nenhum tipo de encerramento.
Finalizando o álbum com a faixa-título, Taylor Swift repete sua parceria bem-sucedida com Bon Iver, que ganha mais um dueto em “evermore” após ter participado da produção de inúmeras faixas do disco. Abrindo com o piano e a voz cristalina de Taylor, a canção apresenta uma ligação direta com “exile”, o dueto anterior da dupla. Na canção presente no “folklore”, Swift rebate as lamentações de Iver dizendo que “deu muitos sinais” de que não estava satisfeita no relacionamento. Em “evermore” ela faz referência a esse trecho no segundo verso, dizendo que estava “mandando sinais apenas para ser passada para trás”. A canção segue calmamente oferecendo imagens de tristeza e solidão através de metáforas muito bem colocadas que dão um aspecto visual à narrativa (característica central de ambos os álbuns). A grande surpresa fica por conta do verso de Bon Iver, que muda o tempo da canção e acrescenta vocais sobrepostos. Ele e Swift entram novamente em um diálogo, mas fica claro que ambos, assim como seus personagens, estão em ritmos diferentes. A canção encerra voltando para o piano, onde Swift e Iver chegam à realização de que “essa dor não duraria para sempre”, fechando o álbum com uma nota de positividade e esperança.
Apesar de faltar com a linearidade que entrelaçou tão bem as histórias contadas no “folklore”, esse é um álbum que cresce em si mesmo e busca trazer independência às narrativas nele presentes. “evermore” tem sua própria identidade e aborda temas de amor, perda e tristeza com uma serenidade e sobriedade muito distantes das emoções explosivas dos antigos trabalhos de Taylor. Sem os vocais agudos e os sintetizadores de álbuns anteriores, o que sobra é a maturidade de uma mulher na fase adulta que agora expressa seus sentimentos de forma discreta, porém direta, e que encontrou prazer e conforto em contar histórias que não somente as suas. No universo de “evermore”, cada faixa conta sua própria história à sua própria maneira, e cada uma se sustenta por si só. Swift manteve as características visuais tão marcantes do álbum que antecede esse, mas se atreveu a experimentar mais sonicamente, e é essa diversidade que faz do “evermore” um trabalho tão rico, mesmo que um pouco cansativo em sua totalidade. Na fase mais criativa de sua carreira, Taylor oferece material o suficiente para ser degustado sem pressa e exatamente como fizemos nessa resenha: faixa a faixa.
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