Entrevistamos Bryan Behr sobre “Azul”, com Duda Beat, e novo álbum

Azul Bryan e Duda PH Fernanda Lima
Foto: Fernanda Lima

Desde o final de 2023, Bryan Behr tem vivido uma crescente bastante simbólica em sua carreira. Além de ter tido seu álbum “Bryan Behr Ao Vivo em São Paulo” indicado ao Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum Pop Contemporâneo Em Língua Portuguesa”, o cantor deu início a uma série de lançamentos inéditos com os singles “Não vejo a hora” (que também ganhou uma versão em espanhol), “Quando isso vai passar?” e “Beijos de Artifício”.

No começo deste mês, Bryan deu outro passo em sua era de novidades, lançando a faixa inédita “Azul”, que leva a parceria de Duda Beat inclusive no contagiante clipe, que traça novos significados à cor em paralelo ao sentimento de amor gerado pelo encontro entre duas pessoas. Assim como os lançamentos anteriores, esta será mais uma das músicas que integrarão o novo álbum do artista.

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A Nação da Música conversou com Bryan Behr sobre o conceito de “Azul”, as gravações e a parceria com Duda Beat; além do conceito por trás de seus últimos lançamentos, spoilers de seu novo álbum e o impacto de seu hit “De Todos os Amores” fazer parte da trilha sonora de “Família É Tudo”, nova novela da Rede Globo.

Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi, Bryan! Como você está? Ansioso para o lançamento de “Azul”?
Bryan Behr: Oi, Natália! Eu estou bem ansioso! Cada lançamento parece que é o primeiro, dá aquele friozinho na barriga. E quando a gente tem oportunidade de lançar uma música com um artista que a gente admira muito, também dá aquele friozinho bom na barriga. Eu sou muito fã da Duda. Estou muito ansioso para saber o que as pessoas vão achar.

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Eu imagino! Também sou muito fã da Duda. Pra começar, eu queria saber qual é a história desse single.
Bryan Behr: “Azul” é uma música que eu tive a oportunidade de escrever com uma amiga minha, Joyce Elaine, do Recife, que é uma cantora e compositora incrível também. A gente sempre conversava sobre escrever junto, e acabava que por conta da distância a gente não se encontrava. Aí um dia ela estava em São Paulo, eu convidei ela aqui pra casa, a gente começou a desenhar algumas coisas, e antes de começar a escrever, conversamos muito sobre vida, relacionamentos e tudo mais, e a música começou, acho que até de uma forma inconsciente, a se desenhar em cima desse papo todo que a gente teve naquela noite. Eu adoro as melodias que a Joyce faz com intervalos mais curtos, dá pra ouvir isso no começo de “Azul”. A gente escreveu ela super rápido e ficou muito linda.

Desde que a Joyce saiu daqui de casa eu fiquei ouvindo a guia que a gente tinha gravado e pensando em algumas vozes que poderiam soar super bem, inclusive da própria Joyce, mas a que mais bateu na minha cabeça de primeira foi a da Duda Beat. Eu ficava imaginando ela cantando e fazia muito sentido, e eu fiquei muito feliz que quando eu mostrei a música e convidei ela pra participar, ela amou e mergulhou de cabeça no universo de “Azul”, tanto na gravação do áudio, quanto na gravação do próprio videoclipe. Ela virou a madrugada comigo lá gravando, a gente se divertiu, deu risada pra caramba… deu para conhecer um pouco mais dela; às vezes dá até um medinho de conhecer os artistas que a gente gosta, né? Mas com a Duda foi super especial. Ela é um amor de pessoa, super querida e atenciosa comigo, com a minha equipe, com a música, com a gravação, tudo. Então estou muito feliz e ansioso pra ver o que as pessoas vão sentir desse encontro nosso aí.

Justamente, você falou isso de conhecer as pessoas e é como naquela famosa frase “jamais conheça seus ídolos” (risos), porque às vezes pode acontecer, né? Você contou do processo e de como aconteceu o convite, mas como foi gravar com a Duda?
Bryan Behr: A ideia nessa parte visual, principalmente do clipe, era trazer esse sentimento que é retratado na música, que, para mim, até de uma forma sinestésica, é um sentimento azul: essa vontade de viver muito mais com a pessoa que a gente ama, de encontrar a pessoa a todo momento. O refrão fala muito sobre isso: ”É tão azul da cor do céu / Nosso beijo / Meu desejo é morar contigo / Dividir o riso é um sonho bom, sincronizar o coração”. Então eu acho que principalmente essa parte da música, deixa isso muito claro, a cor desse sentimento, que é essa vontade de estar muito perto o tempo inteiro da pessoa que a gente ama, quase que um início de paixão.

A gente queria retratar essa coisa de quando você está num lugar que às vezes você não conhece ninguém, mas conhece uma pessoa só de quem quer ficar perto pra se sentir um pouco mais confortável, como numa festa ou algo do tipo. É como às vezes a gente se sente no mundo, um pouco deslocado e não pertencendo a vários lugares que estão acontecendo ao nosso redor; mas quando a gente ama alguém, a gente encontra um conforto e um lugar para morar ali de alguma forma. Essa foi a ideia que eu acho que fugiu um pouco do óbvio, principalmente na parte visual. Ouvindo a música, talvez as pessoas esperem um clipe super romântico, super intimista, e, na verdade, é uma festa, um bar onde existem várias pessoas sentindo e sendo atingidas pela energia desse encontro ou reencontro desses dois personagens.

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Era o que eu ia comentar, eu assisti ao clipe e gostei muito, primeiramente, da fotografia, que tem o azul de fundo, mas contrasta com todo mundo que tá no clipe: você tem um figurino mais puxado para vermelho, a Duda mais pro prata, assim como outras pessoas. Isso que você comentou do encontro/reencontro, veio muito com a minha interpretação, porque, em paralelo com a letra, me veio muito a sensação de que um reencontro entre os personagens trouxe à tona a sensação do primeiro encontro.
Bryan Behr: Acho que faz total sentido! Essa abertura pras pessoas interpretarem do jeito que elas preferirem ou sentirem é o que deixa a coisa até única, porque eu não gosto muito de fazer clipes que explicam muito. Acho que essa essa coisa mais subentendida nos finais dos clipes, do enredo da história, isso tudo é abertura pras pessoas interpretarem como preferirem. Acho que o clipe poderia ser preto e branco, que ainda assim a ideia de azul passaria, mas é que quando a gente encontrou esse lugar, que é um bar aqui em São Paulo chamado Casa Azul, a gente falou “cara, não tem como não ser lá”, porque é tão incrível e tem tão a ver com a estética inteira que a gente estava pensando essa coisa do azul com dourado, comigo, com a Duda, fez muito sentido. Então, acho que a cor do clipe foi um detalhe, mas nem precisaria ser azul de fato, porque para mim tá num lugar muito mais de sentimento do que de cor até.

Eu ia até perguntar se você tem alguma relação pessoal com a cor azul pra ter dado o nome para essa faixa, porque o refrão principalmente fala bastante “azul da cor do seu beijo, vamos para um lugar azul”.
Bryan Behr: Acho que é muito difícil eu dizer cores preferidas. Eu pinto também, amo pintar quadros e telas, e uma das cores que eu mais uso é o azul, mas é um apego muito mais por texturas e combinações com outras cores do que necessariamente a cor em si. Quando eu estava escrevendo com a Joyce, a gente queria falar sobre um sentimento que tivesse necessariamente uma cor, e, nesse caso, tudo que a música trazia era de fato é azul. Mas em várias outras outras músicas existem essas analogias com cores. Tem muitas músicas que eu falo sobre cores que estão ainda na minha gavetinha, mas eu, Bryan, compositor, sabendo de todo o meu repertório, é uma coisa que talvez as pessoas vão perceber agora essa coisa de cores nas músicas. Pra mim isso é muito presente no jeito que eu componho, falar sobre textura, toque, cor, cheiro, gosto… essas coisas que deixam a música até de alguma forma imagética, que você consegue ir ouvindo e projetando dentro da sua cabeça, na sua imaginação, lugares, cores, formas, situações. Eu adoro isso nas músicas.

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Total, total. Eu pessoalmente adoro quando citam a cor azul nas músicas, me sinto bastante contemplada com o “Tudo Azul”, do Lulu Santos, o “All Star Azul”, do Nando Reis (risos). E essa sua parceria com a Duda me remeteu à parceria que você fez no final do ano passado com a Ana Gabriela – e que eu estava ensaiando muito pra não dizer Ana Castela (risos). E entrevistei a Ana na época, que “Taça de Vidro” foi a única faixa inédita do acústico dela, junto com você, e eu queria saber agora, com essa sua parceria com a Duda, com quem mais você gostaria de fazer uma parceria?
Bryan Behr: Tenho uma lista gigante de artistas do Brasil e de fora também, mas do Brasil acho que alguns dos que eu mais sou aficcionado tanto pela obra, quanto pela voz, pelo jeito, pela pessoa, é a Liniker, Emicida, Nando Reis e Lenine. Acho que eu poderia ficar horas e horas falando aqui sobre isso. Eu tô gostando muito de ouvir Raquel Reis também, acho ela incrível. Acho que existe um tempo certo pra cada uma dessas participações, assim como aconteceu com a Duda. Eu sempre quis colaborar com ela desde que conheci a música dela, mas a gente fica naquela espera de cair uma música no nosso colo quando a gente escreve, quando a gente pare ali uma música nova e fala “nossa, é essa! essa faz todo sentido”, porque às vezes, a gente até tem o contato, só que, cara, acho que a gente tem que olhar para música e perguntar o que ela quer, não o que a gente quer. “Azul”, por exemplo, é uma música que para mim era total Duda Beat, ainda que eu tivesse escrito ela com Joyce (que é uma artista incrível também, que tem um sotaque gostoso para caramba como o da Duda), mas para mim fazia muito sentido ser com a Duda. Acho que existem músicas que quando você ouve, bate uma energia que você fala “cara, isso aqui faz total sentido eu cantar sozinho” ou “isso aqui faz total sentido para eu não cantar, mas sim outra pessoa”.

Então pra mim foi até um pouco libertador descobrir eu comigo que nem todas as músicas que eu escrevia era para eu gravar. A gente fica nessa expectativa de escrever e gravar um monte de música, mas às vezes elas não nascem para ser lançadas; elas nascem às vezes com outro propósito, de polir uma próxima música que tem uma harmonia parecida, ou polir um jeito de escrever, ou fazer uma baliza para você encontrar uma coisa nova. Quando “Azul” nasceu eu falei “cara, essa música seria incrível com a Duda”, e é engraçado porque os amigos próximos que ouviam, sem eu comentar nada, falavam “nossa, essa música tem um quê de Duda Beat”. Então por isso que eu tô tão feliz de chegar num lugar criativo que faz muito sentido para artistas tão diferentes, que até criam de jeitos tão diferentes; a música ficou muito Duda Beat e ficou muito Bryan Behr também, ficou num lugar muito bom pros dois e acho que isso é uma colaboração, né? É quando um artista soma com o outro e pela música. Quando a Duda ouviu a música, ela se apaixonou e quis gravar porque realmente gostou da música. Não tem argumento contra isso, quando a gente bate o ouvido numa coisa e mexe com a gente, a gente tem que mergulhar naquilo mesmo.

Com certeza. Eu já vi muitos artistas falarem “nossa, tô lançando essa música agora que eu compus há tantos anos atrás, porque não fazia sentido na época, mas hoje em dia faz”. Esses sentimentos que você comentou em relação a “Azul’, eu percebi também nos seus últimos lançamentos “Não vejo a hora”, “Quando isso vai passar?” e “Beijos de artifício”. Apesar de todas terem a sua essência artística, cada uma fala sobre uma questão mais específica: “Azul” esse sentimento de encontro, “Quando isso vai passar?” da ansiedade que a nossa geração tem em relação às coisas. Em relação aos conteúdos dessas músicas, como eles se relacionam com o seu atual momento?
Bryan Behr: Essas músicas todas, principalmente “Azul”, vieram de um processo criativo um pouco diferente do que eu estava acostumado. Quando vou entrar em estúdio para gravar um disco, eu pego o meu repertório desde os meus 15 anos, as minhas sei lá quantas centenas de músicas, e vou destrinchando pra encontrar as músicas que fazem sentido pro disco. Só que já fazem quase três anos que eu falei para mim mesmo que eu queria gravar um disco e queria colocar todas essas músicas de lado pra escrever as desse novo trabalho do zero; algumas sozinho, outras acompanhado de amigos e amigas compositores. E foi o que aconteceu. Essas músicas respiram de um jeito diferente, porque eu mudei muito também. Nesse meio tempo que eu decidi gravar esse disco novo, eu saí de uma cidade do interior de Santa Catarina e comecei a morar numa das maiores cidades do planeta Terra; isso por si só já muda muito as coisas.

Eu comecei a fazer shows depois da pandemia também, o que muda muito o jeito de criar, pelo menos para mim. Depois que você sabe que existem músicas com uma energia muito ímpar nos shows, você até monta o repertório de um jeito diferente, e foi muito isso que aconteceu. Acho que essas músicas todas refletem um Bryan muito mais maduro, muito mais certo do que gosta. Eu acho que o disco é uma fotografia da vida do artista, então, quando você olha lá no primeiro disco, que é super intimista, com a maioria das músicas voz e violão, eu cantando para dentro assim super receoso, era um compositor virando um cantor assim. Depois, em “A Vida É Boa”, uma coisa muito mais expansiva, com vários outros arranjos e muito mais populares. E quando você vai para “Todas As Coisas do Coração”, você vê um Bryan muito mais melancólico, porque foram músicas que praticamente escrevi durante o período de pandemia, então eram coisas muito mais introspectivas. Agora está vindo um disco novo que acho que sintetiza todos esses meus últimos momentos de extrema felicidade, às vezes extrema tristeza, muita saudade de casa; é um Bryan um pouco mais urbano em alguns sentidos, acho que estou muito tranquilo em dizer que esse disco que está para chegar e que está abrindo as portas agora com “Azul” é com certeza o disco mais Bryan Behr de todos, o disco que mais conversa comigo.

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Se alguém me parasse na rua e perguntasse o que eu faço da vida e eu pudesse entregar esse disco novo para pessoa, eu entregaria e falaria “eu faço isso aqui, isso aqui sou eu”. Eu tenho muito, muito orgulho de toda a trajetória até aqui, de todos os trabalhos, todas as músicas gravadas, todos os discos, o projeto audiovisual, só que eu acho que eu sempre tive muito, não descontente, mas inquieto, sabe, com muita vontade de buscar uma coisa diferente que eu pudesse criar. E acho que esse disco novo está para chegar é o resultado dessa busca de querer trazer coisas que eu não trouxe antes, mas ainda assim mantendo muito a minha essência. As pessoas que já gostam das minhas músicas, acredito que não vão estranhar, mas vão sentir realmente um Bryan mais maduro. Mas eu não sei também, sempre que eu digo o que eu acho que as pessoas vão achar ou a música que elas mais vão gostar, eu sempre erro (risos), então vou manter esse meu estado curioso pra saber o que as pessoas vão achar disso tudo.

Que cor você definiria esse disco que está para chegar?
Bryan Behr: Difícil… acho que eu precisaria ouvir ele todo de novo para te responder. Ah, eu acho que eu não consigo responder! (risos). É que para mim isso é muito sério, sabe quando você perguntar “diz uma cor”, não, calma, pera, é muito sério (risos). Mas acho que sempre que a gente grava um disco, existem dois: um disco antes de lançar e outro depois, porque ele muda, é incrível. Sabe quando você prepara uma receita, aí você come, acha incrível, mas quando prepara pra outra pessoa e essa pessoa vai comer, é outra receita, é outra coisa, outro sabor. O disco para mim tem muito disso, acho que eu preciso tanto ouvir ele mais uma vez para poder te dizer uma cor, quanto ver no mundo, porque provavelmente ele vai se tornar um camaleão. Vão ter dias que eu vou achar ele uma coisa e dias que eu vou outra, mas acho que essa dificuldade para dizer uma cor vem muito de ser um disco muito plural.

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Acho que é um disco que traz várias vertentes e músicas de diversas maneiras e isso ficou muito claro com os singles “Quando isso vai passar?” e “Não Vejo a Hora”, são duas coisas completamente diferentes, “Beijo de Artifício”, que é diferente das outras duas, e “Azul”, que é diferente disso tudo também. Acho que o disco tá muito colorido e ele traz as músicas de um jeito muito grande também, porque tem músicas super arranjadas, com vários instrumentos, e tem outras super pequenininhas; acho que isso por si só já dificulta um pouquinho da gente dar uma corzinha só para ele. Acho que ele é realmente muito colorido.

Ah, tá aí, respondeu: é colorido, que, querendo ou não, são várias cores juntas. Pra mim tá respondido! E sobre isso que você comentou do processo todo do álbum, tudo que você tem sentido com essas composições e esse lugar que você chegou, eu vi que no ano passado o seu álbum “Bryan Behr Ao vivo em São Paulo”, foi indicado ao Grammy Latino por Melhor Álbum Pop Contemporâneo Em Língua Portuguesa. Pensando nisso tudo que você comentou dos últimos álbuns, que um deles durante a pandemia despertou sentimentos um pouco mais melancólicos e esse agora sentimentos diferentes e que é o álbum mais Bryan Behr que você já fez até então, como você sentiu o “Bryan Behr ao vivo em São Paulo”, que na verdade reúne todos esses momentos, tendo conquistado essa indicação pro Grammy?
Bryan Behr: Cara, acho que eu olhei com mais carinho pra ele depois disso, porque acho que pouca gente sabe, mas na verdade esse ao vivo é uma das primeiras apresentações ao vivo da minha vida. Isso é muito maluco, eu tinha subido pouquíssimas vezes num palco antes porque basicamente as pessoas começaram a descobrir minha música durante a pandemia, onde eu não podia me apresentar ao vivo. A gente fica naquela aquela sina de “nossa, não tá bom, preciso melhorar, preciso cantar melhor, preciso performar melhor, preciso tocar melhor”, e aí você recebe essa notícia do seu primeiro show ao vivo da vida – e que é uma coisa muito rara você ver um disco ao vivo concorrer como Melhor Álbum Pop Contemporâneo Em Língua Portuguesa. Isso é muito maluco! E sabendo dessa dificuldade e raridade que é ver um disco ao vivo sendo nomeado, e ao mesmo tempo saber que era uma das primeiras apresentações da sua vida, faz com que você coloque um pé para trás e fale “tá, deixa eu olhar isso aqui de novo, deixa eu olhar com mais carinho essas músicas, esse momento da minha vida”. Pra mim foi muito louco gravar isso, foi muita pressão, porque imagina você estar três anos sem subir no palco e aí você e sua equipe tem uma ideia de maluco de, ao invés de fazer uma turnê e depois gravar um projeto audiovisual, gravar um projeto audiovisual primeiro e depois uma turnê. Foi bem maluco, só que eu acho que valeu tanto a pena!

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Quando eu olho para trás e vejo tudo que isso me construiu, acho que o Grammy foi uma celebração de muita coisa para mim. Hoje eu consigo olhar pro “Ao Vivo em São Paulo” com mais carinho, sem um olhar tão crítico e tão ”acho que podia ser melhor”, porque geralmente, depois de colocar no mundo, eu não gosto de ouvir e assistir, é estranho. Então eu tirei um tempinho depois do Grammy pra comemorar, assistindo mais uma vez, e é tão lindo, cara, são tão bonitas essas músicas todas. Eu trabalhei durante anos e anos nelas, e quando a gente subiu no palco, eu junto com os meus amigos e com as pessoas que esperaram por tanto tempo pra me ver ao vivo, todos celebrando aquela noite ali, um teatro lotado de gente cantando aquelas músicas, acho que eu enxerguei a preciosidade que era aquele momento só depois da nominação e receber essa chamada de atenção pra falar “cara, o que você tá fazendo é especial, tem mais gente vendo e gostando; admite que que é legal”. Não que eu não acreditasse, mas acho que eu olhei com mais carinho para ele depois.

Eu imagino que às vezes os artistas precisem disso, porque, como você mesmo disse, a sensação de gravar e colocar no mundo é uma, e mesmo depois do lançamento, vem outra sensação, que seja uns anos depois e ainda mais com uma puta conquista dessas, deque vale a pena revisitar, né?
Bryan Behr: Exato, exato.

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Ainda sobre esse momento do Grammy Latino, que foi lá em Sevilha, na Espanha, eu vi que durante esse período que você esteve lá, você também participou do projeto Vevo Live em Sevilha, e você gravou uma versão em espanhol de “Não Vejo a Hora”, lançada tempos depois. Como que foi essa experiência de traduzir uma música sua para o espanhol? É uma coisa que você pensa em fazer futuramente talvez?
Bryan Behr: Isso se chama Ulisses Gasparini (risos), que é o diretor da GTS (escritório que agencia minha carreira) e é um grande amigo meu, argentino que é versionista dessa música. Ele traduziu e me ajudou, tipo “ó Bryan, isso aqui você canta assim, esse trejeito aqui da voz você faz desse jeito”. E se não fosse ele, a gente não teria conseguido. Quando surgiu o convite a gente estava no Brasil ainda, e eu fiquei muito feliz porque já tinha feito uma live session com a Vevo cantando “Conversa de Travesseiro” e “Nada Vale o Preço” aqui no Brasil; sempre foi muito gostoso gravar com eles, eles são muito queridos e muito atenciosos. Quando a gente foi para lá, a gente falou “cara, e se a gente fizer metade da música em português e metade em espanhol?”. Depois que você tá lá em Sevilha, você nem se questiona sobre esse tipo de coisa, porque a cultura lá é um negócio tão forte, tão grande, tão lindo, que você quer viver anos lá para absorver aquilo tudo.

A gente gravou num palácio que é um dos mais antigos lá da Espanha, de Sevilha, que é simplesmente inacreditável, eu só vi em filme aquilo, foi muito maluco. E aí a gente fez essa versão, que contou com a participação do Pedro Espinoza, que se tornou um amigo, e é também um grande violonista que eu encontrei lá na Espanha; ele é simplesmente inacreditável, a gente ensaiou algumas vezes no quarto de hotel e parecia um sonho ver ele tocar, e ele transcende muito com o violão. Acho que de todos os últimos lançamentos, esse especificamente acho que é um dos que mais mexe comigo, porque, obviamente, tem toda a lembrança aí de Sevilha, do Grammy e desses dias lá, que foi a minha primeira viagem internacional da vida, eu nunca tinha saído do Brasil, então quando eu assisto, acho que volta tudo: eu sinto o cheiro de lá, as memórias. E musicalmente falando, eu sou um cara que me criei praticamente a carreira inteira tocando sozinho, agora eu tô fazendo colaborações com outros artistas, como você mesma citou a Ana Gabriela, a Duda, já fiz feat. com a Júlia Mestre, com o Calum Scott, Gabriel Gondim, e a gente vê que música é uma coisa para compartilhar; é muito lindo fazer música sozinho, mas quando você olha para um disco, por exemplo, você sabe que você não conseguiria fazer aquilo sozinho, e, mesmo que conseguisse, talvez não teria graça nenhuma, sabe? Então, quando eu recebi o convite da Vevo e a gente se jogou nessa aventura aí de chamar o Pedro para fazer uma participação especial, e o Ulisses para fazer a versão em espanhol, foi muito legal ver uma música sua ali, mesmo que seja você mesmo cantando em outra língua.

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Eu achei massa e me fez lembrar muito o seu feat. com o Calum Scott, que você disse que ele até cantou em português e que foi uma surpresa. Seguindo a onda de convites, eu queria saber como veio o convite ou a notícia de que a sua música “De Todos Os Amores” estaria na trilha sonora da nova novela da Globo “Família É Tudo”.
Bryan Behr: Cara, foi um susto bom, porque desde que eu comecei a gravar as minhas músicas com mais arranjos, quando eu estava no estúdio, essa música especificamente eu escrevi com Juliano Courtois, que é o produtor também. A gente estava conversando durante a gravação da intro falando “nossa, é bem novelístico, né?”. Várias músicas faziam a gente pensar em novela, e é uma característica que a gente gosta. É engraçado pensar nisso porque às vezes a gente não entende o tempo das coisas, né? Eu, principalmente, vivo uma geração muito apressada com tudo. A gente estava esperando talvez que alguma coisa acontecesse de sincronização em novela, filme, minissérie ou algo do tipo com essas últimas três músicas “Beijos de Artifício”, “Quando isso vai passar?”, “Não vejo a hora”, e não, foi uma música que a gente gravou faz três anos. E eu fiquei muito feliz porque pra mim é uma prova real de que essas músicas não têm data de validade; elas são atemporais. Então às vezes vai demorar três anos para ela ter o espaço que merece, assim como “A Vida É Boa Com Você”, que levou dois anos depois de eu gravar uma versão voz violão pras pessoas descobrirem e começarem a ouvir e gostar da música. Isso me deixa tranquilo porque acho que eu nunca tive pressa pra coisas muito grandes e legais acontecerem na minha carreira.

Eu tô nessa desde que eu comecei no dia um pra fazer música, pra escrever, gravar, cantar e viver as consequências às vezes até mágicas. Mas eu tomei um cagaço a hora que eles me avisaram que ia ser trilha sonora da novela (risos) porque pra mim foi muito especial e eu não esperava que fosse com essa música. A gente foi no evento de lançamento, tocamos ela ao vivo e foi super legal. A Julinha Mestre estava lá também, que é a voz da abertura da novela junto com o Jão cantando “Jardins da Babilônia”, da Rita Lee, e a novela em si, acho que tem tudo a ver com a música. Quando eu conheci o elenco, comecei a conversar com o autor da novela, Daniel Ortiz, e o diretor Fred Mayrink, comecei a entender que fazia todo sentido “De Todos Os Amores” nessa novela. Eu ainda tô processando a ideia de que realmente a gente vai ver “De Todos Os Amores” embalando algumas das cenas da novela e para mim é mais uma das coisas mágicas que acontecem na minha vida e que eu fico sempre muito feliz.

Eu acho tudo isso porque eu sou muito noveleira e uma das coisas que eu mais presto atenção em novelas é a trilha sonora. Acho que é uma forma muito legal também de divulgação dos artistas, seja uma música antiga, seja uma música de um artista independente ou internacional, tem um grande impacto porque é o popular ali, é um outro tipo de consumo fora das plataformas.
Bryan Behr: Eu acho que atinge às vezes pessoas que você não conseguiria por outro espaço, sabe? Eu ainda sou muito fã de mídias tradicionais, de televisão, de rádio, adoro. Sou apaixonado por rádio, quando eu era mais novo, queria inclusive ser radialista, locutor de rádio. Acho que existem coisas que tornam essas músicas atemporais e são esses veículos às vezes. A gente vive num mundo tão conectado através da internet, mas a gente esquece que a internet, por si só, são bolhas dentro de bolhas. Existem milhões de pessoas que não vão conhecer sua música se ela não tiver na TV ou se ela não estiver no rádio, e isso pode ou não ser um problema, mas pra mim, pensando na mensagem da minha música, acho tão a ver com o que é dito nas canções, com a mensagem que a gente passa. Eu acho que tem a ver com os veículos tradicionais ainda, e pra mim é uma coisa maravilhosa.

A gente fez o programa “Encontro com a Patrícia Poeta” nessa segunda-feira e foi incrível porque você vê pessoas que, sei lá, moram na minha rua, no meu prédio. Eu vou há dois anos tomar café na mesma padaria, e só nessa segunda-feira que uma das pessoas que trabalha lá me reconheceu. Eu já trabalho há dois anos com internet e tudo mais, mas eu precisei ir na TV pra pessoa me reconhecer, saber que a minha música existe, compreender a mensagem das minhas músicas. Isso é uma coisa que lutei por muito tempo porque TV era muito difícil pra mim; eu sempre ficava muito nervoso, odiava fazer, e hoje eu amo. Inclusive, os programas da Rede Globo são super organizados, então é até mais gostoso de fazer, você vai tranquilo e fica um pouco mais fácil de se realizar.

Bryan, pra finalizar, o que você pode me adiantar do seu próximo álbum, que já entendi que vem aí com esses singles novos e toda essa fase que você tá atualmente.
Bryan Behr: Cara, como eu te falei antes, é um disco muito colorido, que acho que de todos, o mais Bryan Behr. É um disco que as pessoas vão conseguir dançar, chorar, refletir. Têm tantas fases dentro do disco, tantas cores, têm músicas um pouco mais intimistas, outras super grandiosas, música sobre término, música sobre perder alguém que a gente ama, música sobre amor (óbvio, sempre vai ter), música sobre começo de relacionamento, música sobre fim de relacionamento. Então acho que vai ser uma viagem ouvir esse disco do começo ao fim, porque inclusive a ordem dele é montada para que seja uma viagem, para que você dê play na primeira música e mergulhe até a última e sinta todas essas coisas. É um disco que demorou tanto tempo para ser gravado porque eu queria, de fato, que ele tivesse o tempo que ele merece para ser criado com as pessoas que ele merecia também para ser criado. O processo inteiro foi muito especial, acho que as pessoas vão sentir tudo isso que eu tô falando e vai fazer mais sentido.

E vem aí esse semestre ainda ou no próximo?
Bryan Behr: Vem esse semestre ainda, o disco já tá aí!

Maravilha! Bryan, muito, muito obrigada pelo nosso papo. Adorei conversar sobre tantas coisas com você! Sucesso no lançamento de “Azul” e nos próximos que virão, que estarei acompanhando e torcendo!
Bryan Behr: Perfeito! Obrigado você, Natália!

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Natália Barão
Natália Barão
Jornalista, apaixonada por música, escorpiana, meio bossa nova e rock'n'roll com aquele je ne sais quoi