Entrevistamos Clarice Falcão sobre “Chorar Na Boate” e o álbum “Truque”

Clarice Falcão
Foto: Pedro Pinho/ Divulgação

Nessa terça-feira (06), Clarice Falcão lançou seu novo single “Chorar na Boate”, junto de um clipe intimista que marca a retomada de seus trabalhos musicais em quatro anos. A faixa, que mistura ainda o pop com elementos mais experimentais e uma batida dançante, é a primeira de seu novo álbum “Truque”, que tem lançamento previsto para julho.

A Nação da Música conversou com Clarice Falcão sobre a história por trás do single e do clipe, em que ela aparece sozinha performando uma coreografia, o conceito e processo de composição de “Truque” e os 10 anos de carreira e de seu primeiro álbum “Monomania” (2013).

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Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi, tudo bem, Clarice? Como vai?
Clarice Falcão: Tudo ótimo, Natália! E você?

Tudo bem também! Bom, podemos começar?
Clarice Falcão: Claro, pra já!

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Bom, agora em julho você vai lançar “Truque”, que é o seu quarto disco da carreira e o primeiro projeto acho que em quatro anos, sem contar o single “After do Fim do Mundo”, com a Linn da Quebrada, certo? O que você pode me contar sobre esse projeto?
Clarice Falcão: Cara, eu estou muito empolgada! Desde o “Monomania” que eu sinto que o primeiro disco leva o tempo da vida que você teve até lá, e ele levou 20 anos pra ser feito. Mas desde então, acho que eu lancei mais ou menos um disco a cada três anos. “Truque” é um disco que demorou mais, e ainda teve a pandemia no meio, então a sensação é de que foram dez anos fazendo esse disco (risos). Então é muita, muita ansiedade, estou muito empolgada! Eu sinto que ele tem um pouco de cada disco imbuído nele, e ele volta a falar de um tema que é o meu favorito, que é o amor, se apaixonar e tal.

Justamente como você comentou o seu tema preferido é o amor, e dá para ver pelas suas músicas. Eu te acompanho desde o começo, já fui em shows seus e acho que uma das principais marcas das suas músicas é que você conta histórias através delas, muito focadas no amor, mas têm algumas que são mais contos, tipo “Marta” (que eu acho muito boa, inclusive). E eu queria saber, que histórias você pretende contar agora em “Truque”, considerando justamente esse meio tempo que a gente teve a pandemia, vacina, novas eleições…
Clarice Falcão: Acho que eu fiz um disco muito denso no “Tem Conserto”. É um disco sobre saúde mental e sobre eu mesma me entendendo como tendo transtorno bipolar. Era um disco muito necessário para mim, foi uma coisa que eu estava precisando muito falar. Mas acho que justamente por isso, pela pandemia e por tudo que a gente passou nesses quatro anos, acho que eu tive uma necessidade de fazer um disco não exatamente leve, mas um pouco mais lúdico, sabe? Um pouco menos denso. Então esse é um disco muito narrativo, eu sei que tá um pouco demodê ouvir disco do começo ao fim, mas eu vou adorar quem escutar o disco da primeira faixa à última, porque ele é bem pensado como uma história mesmo, uma narrativa. E a coisa do “truque” é muito falando de ilusão, sabe? Ilusão e desilusão, que andam de mãos dadas. E eu acho que, ao contrário de um primeiro amor, que você não repara que está sendo iludido, acho que os amores depois de muita decepção, é uma escolha você se iludir, meio dizendo “vou me iludir porque é uma delícia, se iludir é muito bom”!

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Estou ciente e quero continuar! (risos)
Clarice Falcão: Exatamente, já estou ciente e quero continuar! (risos). Aceita os termos de privacidade e é meio isso! Eu quis falar um pouco sobre esse momento que você começa desiludido, aí vê uma oportunidade de se iludir, se ilude e quebra a cara. Você um dia vai ter vontade de se iludir de novo, então “Truque” é bem sobre isso de criar universos dentro da cabeça, que é uma coisa que eu falei um pouco no “Monomania”. Acho que eu sempre falo muito sobre criar histórias, “Marta”, por exemplo, é sobre imaginar como será a vida dessa pessoa que as pessoas ficam ligando pra mim. Eu gosto muito das histórias que a gente cria na nossa cabeça, que também são truques e ilusões, que a gente mesmo cria pra nós.

Sim, com certeza. Eu pessoalmente me identifico bastante com as suas letras e me sinto muito contemplada. Você está ali no meu pedestalzinho de artistas escorpianas, porque eu também sou!
Clarice Falcão: Ahhhh é do bonde! (risos)

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Eu fico tipo “é isso, ela me entende!”. (risos)
Clarice Falcão: É do bonde, é do bonde! Nossa, cara, as dores e as delícias!

As dores e as delícias de ser o signo de água! (risos)
Clarice Falcão: Maravilhoso e horrível ao mesmo tempo (risos).

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É isso! (risos). E nós, mulheres escorpianas (e pessoas românticas no geral), temos essas histórias de se envolver mesmo vendo uma oportunidade do tipo “puts, eu vou me dar mal, mas vamos lá, né, Deus ama quem tenta”! Pensando nessa cronologia, ainda mais que você comentou que “Truque” é uma história do começo ao fim, ela termina com um final feliz, um final em aberto…
Clarice Falcão: Eu gosto muito de final em aberto porque eu acho que fala muito sobre quem está ouvindo. Então acho que vai depender de você, sabe? Se você quiser, vai ser bom; se você está num momento que você não quer, vai ser ruim. Eu gosto muito de deixar o ouvinte também entender as coisas dele mesmo, até pra ficar mais pessoal, sem dar tudo absolutamente de mão beijada. Eu gosto muito de trabalhar com esse tipo não só de fim, mas de forma de falar mesmo, que fica meio “peraí, isso é bom ou ruim?”, e depende da pessoa que está ouvindo.

Você comentou que esse disco tem um pouquinho de cada coisa dos seus últimos três discos. Pensando em termos de sonoridade, “Monomania” é mais acústico, com um violãozinho; “Problema Meu” já tem um pouco mais de pop e uns outros elementos mais rebuscados em comparação só o acústico; e “Tem Conserto” é totalmente diferente, muito mais experimental e até com uma vibe mais PC music. Em termos de sonoridade, o que “Truque” vai trazer?
Clarice Falcão: Sonoramente o que eu e o Lucas de Paiva, que produziu o disco comigo e é maravilhoso, quisemos foi buscar também essa sensação de ilusão. Eu sinto que no “Tem Conserto” a gente fez essa coisa eletrônica, bem com cara de eletrônico, de synth e tal, e a gente quis brincar um pouco. Por exemplo, no “Monomania” tinha celos tocados pelo Jaques Morelenbaum, chiquérrimo e um puta chelista. E em “Truque” a gente quis brincar com essa coisa de arranjo, de cordas, e coisas assim, só que você entende que tem algo esquisito tipo “peraí, são cordas mesmo ou não são?”. Então tem uma coisa que eu me apaixonei por esse conceito já há um tempo, que eles gravam a orquestra, cada violino, cada chelo, eles gravam cada nota, vibrato… (eu tentado falar de música aqui de todas as formas) (risos), e você pega na sua casa o cara alemão, que às vezes nem tá vivo mais, pra tocar no teclado. Então é uma pessoa que nem estava lá tocando, talvez já tenha morrido e está tocando com você naquele momento. E isso eu acho que é uma coisa que a gente conseguiu chegar legal de sonoramente também ser uma ilusão e um truque, em que você não entende direito o que é real e o que é imaginário de certa forma. Então, por isso que eu acho inclusive que ele tem essa mistura, porque tem uma coisa que é de verdade, do “Monomania”, arranjo de corda, uma coisa de uma beleza humana, sim, mas também tem a coisa não humana da eletrônica, de brincar um pouquinho com uma coisa que se aproxima um pouco mais do robô e do falso; a música eletrônica trabalha muito com isso de um instrumento que você sabe que não é acústico.

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Você vai lançar semana que vem, no dia 6, o primeiro single que é “Chorar na Boate”, que eu ouvi e vi um pouquinho clipe e fiquei “nossa, isso realmente é muito Clarice Falcão!”, com toda a essência e a letra. E eu queria saber, por que você escolheu especificamente essa faixa pra ser a primeira a abrir os trabalhos de “Truque”?
Clarice Falcão: Cara, então, eu amei essa faixa! Acho que foi muito conjunto da obra, ela tem uma letra que é melancólica, que é algo que o disco trabalha e nisso traz muito do “Monomania”, trazendo uma coisa bem humorada junto com uma coisa de amor e de melancolia. E acho que essa música mostra bem isso. Acho que o vídeo também ficou muito legal e me deixou muito feliz por mostrar um lado diferente meu, sabe, em que eu vou dançar! Sonoramente eu curto muito essa música porque ela trabalha com samples antigos, e que, quando você modifica e pra virar algo novo, é uma outra forma de truque também. Então eu sinto que, como conjunto da obra, é uma música que representa bem o disco.

Pelo que eu vi no clipe, você está ali dançando, toda com uma coreografia, que é uma coisa que até então não tinha nos seus clipes, né? Como foi trazer essa ideia? Você chegou a ver trends de TikToks, de repente? (risos).
Clarice Falcão: Cara, eu não sei dançar! Essa coisa de TikTok, trend… (risos). Acho que teve muito a ver com a coisa da boate e de ser uma música sobre boate. Eu fiz o conceito e o Lucas Cunha dirigiu o clipe, que eu achei lindo esteticamente, o figurino, Preta maravilhosa, arrasou naquela roupa! Mas as luzes, a equipe toda fez uma coisa muito esteticamente “uau”, que de alguma forma estava na nossa cabeça, mas que eles levaram pra outro nível, sabe? O Lucas Cunha arrasou! E tem esse outro elemento muito importante, que foi a Laura de Castro, que foi quem fez a coreografia e me botou pra dançar. A gente tava super pegado, foram só dois ou três ensaios, acho, e eu treinava em casa o tempo todo passando a coreografia na cabeça! Sem ela também teria sido um desastre! Acho esse clipe é pra dar essa sensação mesmo de como se eu estivesse numa festa lotada ou com 1000 dançarinos, mas na verdade sou só eu nessa coisa da melancolia e do sonho, como se isso se passasse na cabeça de alguém.

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Bem, e nesse ano você também completou dez anos de carreira e de “Monomania”, que inclusive teve uma live comemorativa, que foi onde você anunciou “Truque” e teve grandes momentos da sua mãe comentando!
Clarice Falcão: Cara, ela foi a estrela! (risos). Eu nem vi que ela estava lá, depois eu fui ver e fiquei “meu Deus, eu queria muito estar assistindo!”. (risos).

Eu vi o seu post que ela arrasou muito! (risos)
Clarice Falcão: Ela foi a estrela!

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Mães na internet, um grande momento! Mas olhando agora, tem alguma mania, ou até monomania, da Clarice do passado que te levou até onde você está hoje, e até de repente serviu de base pra “Truque”?
Clarice Falcão: Com certeza! Eu acho que uma coisa que eu fui entendendo, e que tem a ver com maturidade no sentido de crescer, “vivendo e aprendendo”, foi olhar pro nosso passado e enxergá-lo na gente. E o oposto também, de enxergar a gente no nosso passado, não separando as coisas como se fôssemos mudando. A gente vai se descobrindo, descobrindo outros lados e aprendendo outras coisas. Mas eu enxergo muito da Clarice do “Monomania”, e acho que essa coisa do disco ser sobre se apaixonar, assim como foi o “Monomania”, é muito interessante de trazer dez anos depois o que é pra mim se apaixonar e se desiludir, e como é diferente mas também parecido, sabe? Foi muito interessante pra mim ver isso, e eu espero que pras pessoas que gostavam do disco também seja ver o que tem de diferente e o que tem de parecido. Acho que isso vai ser muito legal de mostrar.

Uma curiosidade que eu tive foi que esse ano você estrelou a série “Eleita”, da Amazon, que é sobre uma influencer super apolítica que acaba sendo eleita meio sem querer. Quando eu pesquisei sobre você pra gente conversar hoje, eu vi que na época que você lançou o single “Badtrip” teve a ver com a eleição do Bolsonaro. Você pensa em explorar essas composições políticas, mantendo a sua essência do humor, talvez agora em “Truque” ou até mais pra frente?
Clarice Falcão: Pois é, em “Truque” acho que eu tangencio alguns outros assuntos além do amor, mas a coisa da política eu não falo tanto. Eu sinto que por eu ter feito um disco muito denso como “Tem Conserto”, por termos passado pela pandemia e por esses quatro anos, acho que eu precisei muito de um respiro, sabe? Acho que eu tenho precisado de um certo respiro, de um pouco mais de leveza, senão acho que eu ia pirar e sei lá, ficar mal. Então acho que depois de tantos anos brigando por um país sobrevivível, eu tô meio numa fase em que eu preciso cuidar um pouco de mim e ser um pouco feliz.

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Certíssima. Todos precisamos, não é mesmo?
Clarice Falcão: Lógico! E assim, nós ainda estamos, e estamos sempre na luta. Eu acho que a gente tem que continuar cobrando, nós passamos pelo inferno e agora estamos melhor, mas temos que continuar cobrando, continuar atentos. Pelo menos com o meu trabalho eu precisei falar de coisas um pouco mais leves e que eu gosto muito. acho que amor e paixão são os meus temas favoritos como artista.

Sim, eu prefiro também músicas e trabalhos que falem sobre isso justamente pra gente dar uma espairecida e ficar um pouco mais leve, porque senão a gente fica muito bitolado.
Clarice Falcão: Eu acho que a arte também serve pra isso. Acho que a arte serve para muitas coisas, como denúncia; inclusive você pode usá-la negativamente, para o mal! Até a comédia você pode usar para o mal – isso foi meio maniqueísta (risos) – mas a arte também é para você se sentir bem, é escapismo, no melhor sentido da palavra, um momento de respirar.

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E, bem, Clarice, a última pergunta que eu queria te fazer é que você vai entrar em turnê agora para promover “Truque”, certo? Qual é a sua expectativa de subir nos palcos com esse setlist novo? Apesar de com certeza incluir grandes sucessos dos outros álbuns também e de você já ter voltado aos palcos no Lollapalooza ano passado (onde eu estava inclusive).
Clarice Falcão: E você gostou do show?

Muito! Eu fiquei muito contemplada porque eu não ia num show seu acho que desde 2016!
Clarice Falcão: Ah, eu amei muito, cara! Eu fico sempre muito nervosa e estava muito de entrar, ainda mais sendo o Lolla, mas na hora que eu entro no palco é muito divertido e eu sempre curto muito. Então estou muito ansiosa! Mas é aquilo, eu ainda estou recebendo as mixes desse disco, então ainda estou focada no lançamento. Quando o disco sair aí todo o meu foco vai ser vou montar esse show, e eu quero muito justamente cantar músicas dos discos todos e contemplar tudo no geral.

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Pois muito que bem, Clarice! Muito, muito obrigada pela nossa conversa!
Clarice Falcão: Obrigado a você, Natália.

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Jornalista, apaixonada por música, escorpiana, meio bossa nova e rock'n'roll com aquele je ne sais quoi