Entrevistamos Nothing But Thieves sobre show no Lollapalooza Brasil

Nothing But Thieves 1
Reprodução

Coroando o último dia do Lollapalooza Brasil 2024, a banda inglesa Nothing But Thieves foi uma das atrações de destaque neste domingo (24). Abrindo a leva de shows internacionais do palco principal do festival, a presença dos ingleses foi motivo de euforia para o público por uma conjuntura de fatores.

Além do fato de que a última vez do grupo no Brasil foi em 2018, incluindo momentos de tensão com a queda de energia durante o show no Rio de Janeiro, a apresentação do Nothing But Thieves contaria com o novo repertório de seu último álbum, “Dead Club City”, lançado em junho do ano passado, e que, há menos de duas semanas, ganhara a versão deluxe com três faixas inéditas.

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Alguns dias antes do Lolla, a Nação da Música conversou com Conor Mason, Dom Craik e Joe Langridge-Brown sobre as expectativas para o show e o reencontro com o público brasileiro, além do conceito e reflexões sobre o último álbum “Dead Club City” e os próximos planos do Nothing But Thieves para 2024.

Entrevista por Natália Barão
————————————– Leia a entrevista na íntegra:
Oi, pessoal! Prazer em conhecê-los! Como vocês estão?
Dom Craik: Estamos bem, e você?

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Suada (risos) porque aqui no Brasil está insanamente quente! Mas tudo certo! (risos). Onde vocês estão?
Dom Craik: Uau! (risos). Estamos em Bogotá, na Colômbia.

Estão gostando?
Dom Craik: Sim! Estamos aqui há menos de um dia, então mais cedo fomos explorar um pouco e provar comidas tradicionais. Talvez a gente saia essa noite pra tomar uns drinques. Está chovendo bastante agora, com alguns trovões também. O tempo é muito estranho, mas está tudo bem! (risos).

Essa é a América do Sul (risos)! Bem, podemos começar nossa conversa?
Dom Craik: Claro, vamos lá!

Bem, vocês estão voltando para o Brasil para se apresentar no Lollapalooza deste ano. Antes de tudo, como vocês estão se sentindo em voltar ao nosso país para tocar num dos nossos principais festivais?
Joe Langridge-Brown: Muito, muito sortudos! Faz 6 anos desde a última vez que estivemos no Brasil. É um pouco difícil bandas do Reino Unido virem pra cá, não são tantas que conseguem. Então estamos tentando absorver o máximo, tocar o máximo de músicas possível no nosso set e ver no que dá.

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Como você mencionou, faz 6 anos desde a última vez que vocês estiveram aqui. Vocês têm alguma lembrança do Brasil e do público?
Dom Craik: Sim, estávamos até falando mais cedo de como os brasileiros e as pessoas da América do Sul no geral são muito calorosas e receptivas. E o público é insano! Da última vez que viemos pra cá tivemos alguns problemas no local em que faríamos o nosso show. Não pudemos tocar no Rio porque houve um problema de energia que gerou perigos para a saúde e segurança do público, então acho que o Conor e eu tivemos que tentar tocar algumas músicas acústicas sem microfone, acho que até com as luzes desligadas, mais escuras ou algo assim. Mas os fãs brasileiros cantaram muito alto cada palavra de todas as músicas; acho que em certo ponto nós até desistimos de tocar de tão alto que eles cantavam (risos). Eles foram incríveis, estamos animados para reviver essa experiência novamente nesse final de semana.

Sim, nós temos essa fama de ser um público muito apaixonado! E falando sobre música, no ano passado vocês lançaram seu quarto álbum, “Dead Club City”, com uma presença muito forte de sintetizadores, que caracterizam bastante a música dos anos 80, mesmo que algumas músicas como “Tomorrow Is Dead” pessoalmente me remeteu um pouco ao som do Oasis e do Keane. Quais foram as principais influências musicais de vocês pra esse disco?
Joe Langridge-Brown: Parte do conceito do álbum foi que nós não queríamos que ficasse muito preciso em apenas uma área. Tem muito dos sintetizadores dos anos 80, mas também tem muito do disco dos anos 70 e algumas influências de hip hop ao longo do álbum, e ainda assim soa muito como a nossa banda. Nós ouvimos muito ELO (Electric Light Orchestra), Justice…
Dom Craik: É uma grande bagunça, é difícil até identificar tudo.
Conor Mason: Nós não decidimos tipo, “vamos fazer esse disco para soar do jeito tal”. Somos apenas nós pirando nos primeiros estágios de escrever música; se os sintetizadores funcionaram, vamos usar de novo, assim como um determinado estilo de vocais, aí tentamos de novo em outra música. E de repente escrevemos 25 músicas que tem um determinado estilo e seguem uma ideia. Muito nesse álbum foi na tentativa e erro, mas esperamos que alguma coisa tenha funcionado.

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Com certeza funcionou! Eu, pessoalmente, adoro o estilo dos sintetizadores dos anos 80, e achei que combinou bastante com o indie rock que vocês costumam fazer. Mas em comparação com o último “Moral Panic”, quais diferenças em termos de melodia e letra vocês mais percebem?
Joe Langridge-Brown: Acho que “Moral Panic” foi feito mais voltado para as redes sociais e onde você está no momento, meio que sentindo essa tensão do que estava sendo construído no mundo atual. Já o “Dead Club City” foi quase que avançando mais para o futuro: se isso fosse continuado e espiralado ao extremo, como se pareceria? E “Dead Club City” foi feito para ser meio que essa coisa ficcional, meio distópica, meio paradisíaca dependendo de quem você for e do que estiver procurando. Liricamente foi bem baseado no futuro, o que tornou o processo diferente dessa vez.
Dom Craik: E acho que musicalmente foi mais refinado. Nós tínhamos uma direção mais clara, que foi informada nas demos. Acho que a nossa visão foi mais fundamentada. Cada álbum que nós escrevemos é diverso por si só, mas nesse nós exploramos diferentes sons que não necessariamente havíamos tentado antes de “Dead Club City”. Amamos essa experiência, foi uma das melhores partes de gravar com a leveza de poder tentar qualquer coisa sem problemas. Não houve julgamento nosso ou de ninguém que estivesse no estúdio. E acho que esse lado mais explorador dos experimentos e da criatividade foi a chave para como isso se desenvolveu.

Como você mencionou esse conceito de futuro distópico, outra coisa que eu notei em faixas como “Welcome To The DCC” e “Keeping You Around” foi a exploração de temas voltados à uma tentativa de alcançar um ideal de perfeição (ao menos na minha percepção); e o verso “escolha um medo para alertar”, de “Pop The Balloon” me chamou a atenção nesse sentido. Pensando nisso, teve algum tema que foi mais “assustador” de falar nesse álbum (como talvez ego, dinheiro…)?
Joe Langridge-Brown: Bem, acho que muito da temática foi sobre comodismo e vender algo. Mas nesse caso foi tipo, e se nós déssemos um passo à frente? E se isso fosse meio que vender toda uma ideia de uma vida nova na cidade? Então sim, falamos muito sobre isso. Acho que em diferentes álbuns existe uma tendência de se tentar achar um vocabulário para ser incluso, e especialmente com um conceito como o desse disco, você meio que quer ficar dentro dos parâmetros porque isso que constrói o mundo. Isso é meio o que as pessoas estão seguindo com essa ideia, e cabe perfeitamente nessa música. Então esse processo foi muito sobre tentar linkar todas as músicas e criar uma história entre elas.

Há alguns dias, vocês lançaram a versão deluxe de “Dead Club City” com três novas faixas. Como essas músicas dão continuidade à história do “DCC”?
Joe Langridge-Brown: O primeiro single do deluxe, “Oh No :: He Said What?”, foi a continuação da história de “Pop The Balloon” no sentido de que essa foi a última faixa do disco e que terminaria o conceito. Mas não achei certo deixar isso tão abrupto, gosto de deixar a porta entreaberta, e “Oh No :: He Said What?” faz isso. As outras duas faixas não se encaixavam tanto no conceito do álbum, e por isso também que elas entraram na versão deluxe. Nós adoramos essas faixas e elas foram gravadas na mesma época, então não queríamos dar tanto espaço a elas; queríamos que as pessoas ouvissem. Acho que foi mais por isso que elas entraram na versão deluxe, não só por conta do tema; porque elas eram ligeiramente diferentes.

Dentre todas as faixas de “Dead Club City”, qual delas vocês sentem que é puro Nothing But Thieves e por que?
Conor Mason: Hm, boa pergunta! Acho que o que faz o Nothing But Thieves ser o Nothing But Thieves é a essência de chegar no limite de se criar algo diferente. Em “Moral Panic”, por exemplo, isso aconteceu com “Is Everybody Going Crazy?”, porque ali não parece haver um padrão nem nada que você já tenha ouvido antes, mas ainda é bem rockzinha, ainda parece o Nothing But Thieves. Eu diria que nesse álbum “Welcome To The DCC” encapsula isso: é um risco e chegou no limite de ser o Nothing But Thieves, de certo modo, que é o que caracteriza as nossas músicas.

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E pra vocês dois? “Welcome To The DCC” também?
Joe Langridge-Brown: Hm, essa é difícil… acho que “Overcome” tem muitos pontos emocionais que nós temos, assim como não é nada do que fizemos antes. Acho que é emoção nua e crua. Acho que soa muito como a gente e como pessoas que gostam da nossa banda.
Dom Craik: É, acho que pra mim são essa duas músicas.

Voltando ao conceito do álbum, eu achei muito interessante que o nome do disco é “Dead Club City” e uma das faixas se chama “Members Only”. Eu gostaria de saber de vocês o que seria preciso para ser um “membro exclusivo” do clube Nothing But Thieves?
Conor Mason: Essa é boa! (risos)
Joe Langridge-Brown: Hm, provavelmente se nós demitíssemos o nosso baixista talvez houvesse uma abertura (risos).
Dom Craik: Sim (risos)!
Joe Langridge-Brown: Hm, não sei… nós tentamos manter a banda e toda a nossa equipe juntas. Temos seis equipes nessa turnê, estamos muito próximos e trabalhamos juntos há muito tempo. Basicamente não gostamos de nos livrar de ninguém (risos). Acho que quando encontramos pessoas com quem nos damos bem e que gostamos de viajar, podemos vir pra São Paulo e sair pra tomar uma cerveja, por exemplo.

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Outra faixa que me chamou a atenção foi a inédita “Time. Fate. Karma. God”, da versão deluxe do álbum. Dentre esses quatro tópicos (tempo, destino, karma e Deus), com qual vocês se identificam mais?
Joe Langridge-Brown: Tempo, 100%!
Dom Craik: Concordo!
Joe Langridge-Brown: Nunca vai haver o suficiente e eu sinto que está constantemente correndo.
Dom Craik: Sim.
Conor Mason: Provavelmente destino porque eu tento não pensar mais tanto assim sobre o meu futuro como eu costumava. Agora sou mais tipo, deixa estar.

Vocês acreditam em karma?
Dom Craik: Acho que eu acredito na simples ideia de que quanto mais você fizer o bem, mais provavelmente você receberá isso de volta. Mas sei que se você é uma boa pessoa, que está cercada de boas pessoas e faz o bem, você vai esperar que essa transação funcione.
Joe Langridge-Brown: Ou seja, não seja um babaca (risos).
Dom Craik: Basicamente não seja um babaca (risos).

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Muito justo (risos)! Ainda sobre a versão deluxe, eu vi uma declaração de que quando essas faixas extras foram lançadas, a ideia era poder revisitar esse álbum no futuro. Pensando no momento atual, como vocês revisitariam o primeiro disco de vocês, “Nothing But Thieves”, que está pra completar 10 anos de lançamento?
Conor Mason: Acho que seria um álbum diferente. Parte do charme desse disco é que nós não tínhamos a menor ideia do que estávamos fazendo (risos), e por isso é uma bagunça. Mas tem o seu charme ali, sabe, eu não mudaria nada. Pra que fazer isso, sabe? Melhor deixar como está, sendo um momento do tempo.
Dom Craik: Acho que se você olhar pra trás, definitivamente tem a cara daquela época e dá pra identificar o que nós sabíamos e talvez mais o que não sabíamos. Nós só estávamos tentando fazer o nosso melhor com as ferramentas e conhecimentos limitados que tínhamos na época. Acho que é saudável olhar pra trás e pensar “é, talvez a gente fizesse diferente agora”, acho que isso mostra crescimento. E cada álbum que nós escrevemos, nós temos gostos levemente diferentes ou aprendemos algo novo ou transformamos numa coisa diferente. Sempre estamos envolvidos, então é impossível dizer o que seria agora. Acho que seria algo diferente, mas quem sabe o que ou por quê.
Conor Mason: Acho que cada melodia, letra, ritmo, tudo seria diferente. Nós voltaríamos e mudaríamos tudo, então é melhor não (risos).

Tem alguma faixa que seja mais especial pra vocês?
Joe Langridge-Brown: Acho que “If I Get High”. É uma das nossas melhores.
Conor Mason: Sim.
Dom Craik: E “Graveyard Whistling”.
Conor Mason: Na verdade eu amo essa. Ela tem estilo!
Joe Langridge-Brown: E “Drawing Pins”. Aí está: ficamos com essas!
Pois muito que bem!
Joe Langridge-Brown: Como o Dom estava dizendo, há algo na ingenuidade disso que não queremos perder a magia. Nós tentaríamos recriar se fosse hoje.
Dom Craik: Exatamente.

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Falando sobre planos futuros, eu vi que depois dessa passagem pela América do Sul vocês vão entrar em turnê na América do Norte junto de shows do Green Day. Vocês gostam da música ou se influenciam neles de alguma forma?
Joe Langridge-Brown: Claro! Eles foram uma banda que nós crescemos ouvindo. Nosso baterista (James) Price é o maior fã deles. É como um sonho se tornando realidade pra ele tocar nesse sistema, e isso é muito legal. Mas além disso, “American Idiot” é um álbum que nós todos amamos.
Dom Craik: Eu tinha até o pôster.
Joe Langridge-Brown: E “Dookie” também. Eles tocaram esses dois álbuns no outono, então vai ser a turnê perfeita pra gente tocar.
Dom Craik: E ainda por cima nós vamos poder tocar no Wembley Stadium com eles, que é um dos locais mais icônicos de um dos lugares mais icônicos do mundo. Isso definitivamente é o topo da lista de metas de lugares para tocar. Mal podemos esperar!

Vocês já foram a algum show do Green Day?
Dom Craik: Não, nunca os vi antes!
Joe Langridge-Brown: Também nunca os vi. Essa é a parte boa disso tudo, nós ainda vamos poder assisti-los todas as noites, como um ingresso grátis.

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É a melhor parte!
Joe Langridge-Brown: Sim, com certeza!

Eu fui no show que eles fizeram aqui no Brasil no Rock in Rio de 2022 e foi insano. Tenho certeza que vocês vão adorar!
Joe Langridge-Brown: Que máximo!

Pessoal, encerrando a nossa conversa, eu gostaria de saber o que podemos esperar do show no Lollapalooza Brasil, e o que mais podemos esperar de novidades do Nothing But Thieves para 2024.
Dom Craik: Bem, como o Joe disse antes, nós ficamos longe do Brasil por muito tempo, precisamos tocar o máximo de músicas possível. E conhecendo o público brasileiro, a energia e a paixão que eles trazem, com certeza vamos nos alimentar disso e retribuir. Terá muita energia do nosso lado, então mal podemos esperar. Para o futuro da banda, vamos só ficar em turnê o máximo que pudermos esse ano, e talvez no próximo a gente durma um pouco e depois escreva música nova em algum momento, quando sentirmos que vale.

Que legal Fiquei curiosa (risos). Mal posso esperar pra ver vocês no Lollapalooza! Obrigada pelo papo, meninos, adorei conversar com vocês!
Dom Craik: Obrigado você! As perguntas foram ótimas!
Joe Langridge-Brown: Você foi ótima, obrigado pela conversa!
here in Brazil.
Conor Mason: Obrigado pela entrevista, Natália!

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Natália Barão
Natália Barão
Jornalista, apaixonada por música, escorpiana, meio bossa nova e rock'n'roll com aquele je ne sais quoi