Resenha: “Rogério” (2016) – Supercombo

 

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Lançado exclusivamente no Spotify nessa sexta-feira (22) – ouça no player abaixo; “Rogério”, novo álbum da Supercombo chegou aqui na redação do Nação da Música há alguns dias. Não demorou para que esta resenha começasse a se desenhar, a partir de um insight sobre a persona que dá nome ao quarto disco de estúdio do quinteto, originário de Vitória, Espírito Santo, no ano de 2007.

Sem muitas explicações, ao combinar o conteúdo do disco com a mensagem “Rogério está em todos nós“, no layout do repaginado site oficial da banda, acabei voltando mentalmente há algumas semanas, quando tive a oportunidade de trocar uma ideia com Hélio Flanders.

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Falando um pouco sobre seu primeiro álbum solo, “Uma Temporada Fora de Mim”, de 2015, o vocalista do Vanguart disse o seguinte:

É um disco triste e estranho. Adjetivos que, para mim, na música, são positivos. Especialmente em uma época em que quase todo mundo parece soar igual, agradável. Eu acho que a arte tem que soar verdadeira e é irrelevante se é agradável ou não”.

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O flashback iluminou a busca para saber quem, afinal, seria “Rogério”, e transcendeu a barreira de uma aparente sátira sugerida em primeiro momento para um questionamento realmente amplo. Tudo o que tinha sido apresentado previamente e o lyric vídeo do single homônimo, lançado no início de junho, começava a ganhar um sentido grandioso.

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E se… Usando um costumeiro nome próprio, a banda simplesmente conseguisse personificar os maiores conflitos e reflexões de uma geração inteira? Assim, sem preocupação alguma em soar agradável, dialogando aberta e diretamente com os detentores de tais carmas em tempos de superficialidade disfarçada de alegria?

A real é que tudo isso acaba corroborando com uma das principais características da Supercombo; que abusa da linguagem urbana, atual e abrangente em todas as esferas do cotidiano, ostentando um bom plano de fundo de rock e engajado a múltiplas possibilidades sonoras.

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Então as suposições anteriores ganham caráter factual e sim, essa é a ideia crua que “Rogério” veio propagar, destrinchando uma proposta sólida construída, principalmente no seu antecessor “Amianto”, de 2014; e criando traços de identidade em cada interlocutor com um bom suporte harmônico e melódico.

A viagem é menos complexa do que parece e “Magaiver” abre o disco mesclando notas frescas, com ares de esperança; com uma letra que já começa a mandar a real diante dos tais dilemas e conflitos mencionados acima.

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Entre críticas sutis ao conceito de felicidade e aos superestimados gurus do novo milênio, os vocais da baixista Carol Navarro, nos refrões – bem como as participações de Keops e Raony, da banda Medulla, mandando um rap no final; engrandecem a faixa de abertura – que conta também com a primeira citação à tal persona: “Dei uma mordida no pão que Rogério amassou”.

Corpo, mente, calma e caos. A dicotomia dita o ritmo de “A Piscina e o Karma”, e não se restringe à temática. Na segunda música do disco, o quinteto incorpora a dualidade ao experimentar um mix de frequências mais cadenciadas de reggae com peso, berros e vocais mais rasgados. A cantora Emmily Barreto, do Far From Alaska, dá voz ao “Karma”, em uma espécie de refúgio lírico bem arquitetado no final.

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Em seguida, as duas melhores faixas do álbum são apresentadas. Mesmo inseridas em um único contexto de autocrítica existencial, “Bonsai” e “Grão de Areia” conseguem explorar essências extremamente distintas.

Enquanto a primeira passeia com certo humor pela temática, com direito a referências à “Matrix” e um refrão pegajoso – “prefiro a minha cama, botar o meu pijama e só” (quem nunca?); a segunda é um soco no estômago, daqueles bem secos e viscerais.

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Com arranjo de bateria cheio de contratempos – que logo remetem à clássicos do Mars Volta; “Grão de Areia” questiona características atribuídas a chamada geração y e coroa o primeiro grande clímax do disco com a participação de Gustavo Bertoni, do Scalene.

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Se você sentiu falta do ingrediente melodramático que a Supercombo já apresentou em outros momentos, “Monstros” preenche esse vazio com a maestria do gênero encarnada em Mauro Henrique, do Oficina G3, ecoando pelo refrão.

Quem também aparece – de novo – aqui é Rogério. Citado, dessa vez, substituindo a palavra “tormento” no segundo verso, em trecho idêntico ao da primeira parte da canção. O que acaba deixando mais do que evidente: a pergunta aqui não é “quem?”, e sim “o quê?”.

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A pluralidade de “Embrulho” – que consegue harmonizar uma ambiência de cantiga de roda com flahs cultuando o manguebeat; abre caminhos para “Morar”. A licença poética permite preterir o uso correto dos plurais em uma caricatura bem paulistana nessa faixa, que é uma da mais urbanas e diretas de “Rogério” – sim, estamos falando com você e nossas relações interpessoais também entram nessa grande reflexão.

Não menos polidas, as duas seguintes: “Bomba Relógio”, com participação de Lucas Silveira, do Fresno; e “Jovem” – um retrato mais do que honesto de alguém que você, com certeza, conhece – apresentam outras citações ao personagem principal, atribuindo mais componentes sádicos ao dito cujo.

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O ciclo crítico reflexivo esboça um final dramático em “Eutanásia”, com propriedade na participação do Titã Sérgio Britto. Mas esse desfecho é interrompido pelo fechamento do arco construído ao longo da trama, na faixa que traz a narrativa pelo personagem central, apresentado anteriormente mas, que aqui, ganha seus devidos milimétricos sentidos.

Em tese, o ato final já era conhecido e chega após os créditos, em “Lentes”. Com participação de Negra Li, a faixa já tinha clipe desde março, e conta a bela e real história de Paula Midori e sua descoberta pela paixão da cultura oriental e a fotografia. Olhando a obra como um todo, não poderia ter conclusão melhor. A lição é simples: viva a vida real.

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A Supercombo sempre procurou surpreender em seus lançamentos e depois de recordes no Spotify, uma participação marcante no Superstar, da Rede Globo e, principalmente, da excelente turnê do “Amianto”, o passo seguinte não poderia ser diferente.

Se por um lado “Rogério” bate em boa parte das teclas já exploradas anteriormente pelo grupo, nunca antes isso foi passado com tanta propriedade e autonomia. O proposito do álbum é claro, direto e a banda construiu um roteiro invertido, mas preciso.

O final veio antes do início, e isso dá suporte à ideia de que o importante mesmo é a jornada. Um recado direto, em seus mínimos componentes, diante de traços de personalidades presentes em boa parte de cada ser humano dessa geração.

Motivos diversos nos levam ao questionamento sobre como nos tachamos como a geração da superficialidade. Sim, me incluo nisso também. Nós não tivemos que lidar com ditadura militar, com grandes guerras mundiais e crescemos com a ideia vaga de que poderiamos ser quem quiséssemos, quando quiséssemos.

Nossos conflitos, em sua grande maioria, são internos e “Rogério”, nada mais é, do que a reunião desses e outros tantos ingredientes que compõe essa jornada introspectiva e todas suas possíveis consequências na vida real.

Essa reflexão começa por verdades que todos nós precisamos ouvir. Mesmo que não nos soe “agradável”.

Tracklist:

  1. Magaiver – Keops, Raony
  2. A Piscina e o Karma – Emmily Barreto
  3. Bonsai
  4. Grão de Areia – Gustavo Bertoni
  5. Monstros – Mauro Henrique
  6. Embrulho
  7. Morar
  8. Bomba Relógio – Lucas Silveira
  9. Jovem
  10. Eutanásia – Sério Britto
  11. Rogério
  12. Lentes – Negra Li

Nota: 8,0

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