Conversamos com Fresno sobre novo disco e Lollapalooza

Fresno
foto: Camila Cornelsen

A banda Fresno lançou em 2019 o disco “Sua Alegria foi Cancelada”. No embalo da turnê e novo álbum surgiu o convite para o Lollapalooza, e assim o grupo se apresenta no último dia de festival. 

Este ano o grupo completa 21 anos de carreira, passando por diversas fases e hoje encontra sua identidade de forma sólida como banda independente. Aproveitando o bom momento da banda e as novidades, conversamos com o Lucas Silveira, vocal e guitarra da banda Fresno.

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Entrevista por Camila Gallate.

——————————————- Leia a íntegra:
A banda Fresno este ano completa 21 anos de história. O que mais marcou vocês ao longo do ano e o que vale a pena lembrar?
Lucas Silveira: É difícil, porque cada ano desses 20 anos teve muito acontecimento que marcou positiva ou negativamente. A Fresno já foi um fenômeno do underground, um fenômeno entre as bandas em que a galera se conheceu na internet e depois veio a se tornar de fato um fenômeno comportamental dos jovens, que foi todo aquele rolê do Emo como uma coisa mainstream com o NxZero e outras bandas, até essa ressignificação que aconteceu de oito anos pra cá, quando a gente voltou a ser uma banda independente, voltou a procurar quem somos, o que a gente faz, culminando com esse álbum que a gente lançou ano passado “Sua Alegria Foi Cancelada”. 

Então assim, nesses 20 anos foi muita coisa e a gente lembrar de tudo acho que a cabeça explode. Então vale se ater ao que aconteceu recentemente, ao fato de a gente estar com esse álbum novo e ele ter sido muito bem recebido, e o que isso está trazendo pra gente, que é a própria convocação para o Lollapalooza, e de perceber fãs antigos voltando a acompanhar a banda shows cada vez com mais gente e mais demanda. Então assim, a gente tá bem feliz com o que tem rolado. 

Vocês pegaram momentos de transição do CD, para o MP3 e agora o Streaming. Vocês mudaram a forma de produzir, como se adaptaram às essas mudanças?
Lucas Silveira: Sim, eu acho que em qualquer mercado né, a pessoa que trabalha tem que conhecer o próprio mercado, pelo menos procurar se informar o máximo do que está acontecendo. E sem dúvidas o mercado da música mudou muito com a própria revolução que a internet trouxe. Do lance do MP3, voltar a ser o formato de singles até o que a gente tá vivendo hoje que a gente, a época do Streaming, que também é uma fase, nada é pra sempre. 

A época do Streaming o que acontece é que toda sexta feira existe uma avalanche de lançamentos que disputam a atenção limitada do fã. Então como tu faz no meio de uma avalanche de lançamento para o fã ouvir o teu lançamento e não o do lado? Essa pesquisa ela é eterna, a gente tá sempre de olho no que tá acontecendo e sempre tentando se adaptar. 

Porque eu acho que lutar contra isso é meio burrice, porque nossa missão é fazer com que nossa música seja ouvida, com que nossa música chegue ao ouvido dos fãs e de novos fãs, então a gente tá sempre atento e já passou por todas essas fases. 

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No começo da banda a gente pegava uma música e colocava de graça na internet e as pessoas, as gravadoras falavam que a gente tinha que parar de fazer isso. Mas hoje é uma coisa que as pessoas fazem, é normal. Antes um artista lançava um single e não podia deixar nem esse single na internet. Porque se colocar, veja bem, as pessoas não vão comprar o disco. Hoje que basicamente ninguém mais compra o disco, eles ainda compram o disco porque ele comprou por um motivo diferente. Ele não quer ter o disco para ouvir. Ele quer ter o disco porque ele já tem os outros e ele quer ter uma coleção completa. Então mesmo na fase de streaming, a gente ainda vende CD, as pessoas agora querem vinil, porque o álbum físico tem uma outra função, ele virou um negócio que é massa de ter na prateleira, como se fosse uma memória daquele momento, daquela fase. Então é uma outra relação que existe hoje com a mídia física, e ao mesmo tempo a música estando no Spotify 24 horas por dia, tu acaba ouvindo muito mais música e ouvindo muito mais coisas diferentes que talvez até se identificando menos com essas coisas porque é muita coisa que tu ouve, tu repete menos as músicas né. Então como tu aí fazer as pessoas repetirem a música a ponto delas desenvolverem uma relação com aquilo? É um desafio. 

Além da produção o jeito que as pessoas consomem música também mudou, os fãs estão constantemente pedindo por novidades. Como a Fresno se encaixa meio à essas mudanças? Vocês mudaram o ritmo de produção?
Lucas Silveira: Eu nem acho que a gente aumentou a produção, mas a gente é mais esperto em relação a produção. Não é nem de fazer mais músicas novas, mas é de ter mais lançamentos e ter lançamentos para mais coisas que façam com que a banda tenha uma atividade maior. Então se a gente vai fazer, por exemplo, um show ao vivo, em algum lugar e naquele lugar o show pode ser gravado, e eu posso transformar num álbum ao vivo, que eu posso colocar no YouTube, se eu for fazer uma session, uma viagem para algum lugar então eu posso gravar algumas músicas em algum estúdio ou na rua, então eu posso transformar.

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A gente ta sempre pensando em criar produtos musicais novos que não necessariamente novos álbuns, novos singles. Porque também cansa, muita coisa nova as pessoas acabam não se identificando com nada. Porque sempre vai ter uma coisa nova e o cara não ouve três vezes a mesma música e a gente faz um tipo de música que é para ser ouvido mais vezes, para a pessoa ir digerindo aos poucos e cada vez mais aprofundando a relação dela com aquilo. O principal é fazer que aquilo continue sendo relevante e o público continue se lembrando e ouvindo novamente aquelas músicas. 

A Fresno pegou vários momentos da música brasileira. Como vocês se adaptam às várias mudanças no cenário musical sem perder a identidade Fresno?
Lucas Silveira: Eu procuro estar atento, acho que igual outras coisas, eu gosto de estar atento ao que está rolando, não para me adaptar e fazer uma música que tenha a ver com o que está rolando, mas provavelmente cada coisa que surge e vira uma grande moda daquela época, ela virou uma coisa de sucesso por algum motivo. Então eu fico ouvindo para ver o que está acontecendo no rock, no pop, na música alternativa para de fato entender em que pé está a música do país e do mundo. E às vezes no meio da pesquisa, de tu estar conhecendo o próprio mercado, tu vai acabar conhecendo coisas muito boas e vai acabar às vezes querendo fazer uma parceria com aquela pessoa, ou então alinhar aquela sonoridade à tua sonoridade, e é infinito, eu acho que que a gente se pauta pelo mercado, pelo que está rolando para de fato conhecer mesmo, porque vai ter muitos outros artistas bons fazendo música que pode ser interessante para gente só ouvir ou até para desenvolver uma parceria lá na frente. 

A Fresno sempre foi muito querida por um público adolescente que hoje já é adulto. Como vocês trabalham as músicas mais nostálgicas junto a novos trabalhos? Com que tipo de público buscam dialogar hoje?
Lucas Silveira: Esse é um desafio, que é manter uma relevância até hoje, mas sem ficar sendo escravo do saudosismo, sem ser aquela banda que vai lá e repete o play nas músicas velhas e fazem o fã lembrar da adolescência. O nosso serviço não é esse, embora é claro que tenham músicas que marcaram a carreira da banda que a gente vai lá e toca nos shows que fazem o fã viajar, a gente batalha muito para que a luta da banda não seja essa. Porque senão é um negócio que a finalidade acaba em si mesma, vira uma coisa sem finalidade, então a gente procura de fato fazer com que o fã tenha curiosidade para o conteúdo novo. Inclusive para fazer com que a banda não se resuma ao saudosismo, e sim que a banda ofereça coisas novas para a galera.

A Fresno saiu em turnê com o último disco “Sua Alegria Foi Cancelada”. Como tem sido a recepção do público nos shows? Qual música não pode faltar?
Lucas Silveira: Está sendo muito bem recebido e essa opinião de qual é a grande música é muito dividida, porque tem músicas que às vezes elas são as preferidas da galera, mas não é necessariamente a mais animada. “Sua Alegria foi Cancelada” é a faixa título e ela é uma música que a gente fez de propósito para não ser nem um pouco animado e porque a gente tá falando ali de um outro sentimento, mas é uma música que ao vivo ela fica muito mais … do que ela é no álbum e o próprio arrocha que é para esse lado do melancólico, mais triste mesmo e no show aquilo ganhou uma outra força, a gente desenvolveu um outro arranjo tocando principalmente em festivais e shows maiores para trazer de fato uma nova personalidade para aquela música, para que as pessoas esperem aquela marcha fúnebre e vem aquele negócio pauleira. 

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Então a gente brinca muito com isso e “Cada Acidente” é uma nova revelação do álbum, é uma música que tocou em rádio e que a galera está gostando muito do clipe, toda vez que alguém fala que viu no canal, a pessoa está sempre se referindo à “Cada Acidente” então ela é o hit do disco e nos shows isso tem se mostrado também, é a que a galera mais canta.

Falando em festivais, a Fresno toca no Lolla no último dia. Como estão os preparativos para o show? O que os fãs podem esperar?
Lucas Silveira: As pessoas tem que ir de coração aberto, o fã pode esperar aquilo que ele gosta mesmo, mas eu acho que essas pessoas que estão lendo aqui, que conhecem a banda, mas não estão tão a par do que a gente ta fazendo atualmente é que ouça e vá de coração aberto, esperando ser surpreendido, porque é isso que a gente busca, mostrar quem a gente é hoje após 20 anos de banda e para que lado a gente ta apontando musicalmente. É justamente fazer com que a gente tenha mais 20 anos de carreira. 

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Vocês prepararam algo especial para o Lolla?
Lucas Silveira: Com certeza tem, mas eu não posso dividir (risos). Vai ser um show diferente de todos os que a gente já fez.

O festival é bem grande e reúne diversos artistas. Vocês vão ter tempo para assistir aos shows? Se sim, qual mais querem ver?
Lucas Silveira: Sem dúvida cara, eu acho que o show ali terminou e a gente está livre para curtir o festival mesmo, inclusive para ir nos outros dias, não sei se vou nos três, mas com certeza vou em algum outro dia e a ideia é justamente essa, aproveitar ali o momento do qual a gente ta fazendo parte. Prestigiar os shows que a gente quer ver, inclusive de amigos nossos, eu acho que isso é o que faz o negócio ser importante. 

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E por fim, gostaria de deixar um recado para os leitores do site, e também para os fãs da banda?
Lucas Silveira: Bom, acho que é que continue aí procurando não só na música da Fresno coisas novas, mas que o público continue não se pautando muito pelo o que está só na TV e no rádio e sim procure cada vez mais música nova. Eu acho que toda música nova que a gente ouve, mesmo não sendo artistas, tudo que a gente ouve de novo, tudo que a gente se identifica, acaba abrindo a nossa mente para várias outras coisas e nos transformar de fato em pessoas mais inteligentes. Então que as pessoas busquem e se inspirem pelo que tem de bom aí rolando. 

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Camila Gallate
Camila Gallate
Jornalista e cantora. Apaixonada por música, boas conversas e lugares incríveis. "Keep me where the light is"