Entrevista: Detonautas fala sobre novo trabalho e vinte anos de carreira

Detonautas
Foto: Fabiano Santos / Divulgação.

Vinte anos de estrada e muito sucesso na conta trazem o Detonautas para o ano de 2017 com um disco novo e diversas histórias para contar. O álbum intitulado de “VI”, além de ser uma grande comemoração, contará com a faixa já lançada “Nossos Segredos“.

A Nação da Música conversou com o vocalista Tico Santa Cruz sobre esse trabalho, algumas polêmicas e a cena atual do rock nacional.

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Entrevista feita por Maria Victoria Pera Mazza.

————————————————————————————————————— Leia a íntegra

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Detonautas está para lançar um novo álbum… O que podemos esperar desse trabalho? E como tem sido essa produção?
Tico Santa Cruz: É um álbum muito bonito. Com músicas que tocam a alma das pessoas. Com mensagens de amor, saudade, superação, liberdade, reconciliação. Questões confessionais e existenciais. Um álbum leve, que foi produzido por nós mesmos ao longo dos últimos 8 meses. Um trabalho que determinou muita disciplina e muita dedicação de todos. Contamos com participações de artistas importantes como o Leoni na Faixa “Dias assim”, Regis Leal em “Nossos segredos” e Fabrício Iorio em “Você Vai Lembrar De Mim” e “Na Sombra de uma Arvore”, música de Hyldon que regravamos.

Já são vinte anos de Detonautas e imagino que muita coisa rolou desde o começo. Quais momentos mais marcaram durante todo esse tempo de estrada?
Tico: Acho que poderíamos lançar uma biografia desses 20 anos se quiséssemos, pois passamos por muitas experiências boas e outras nem tanto. Nosso primeiro show em São Paulo, por exemplo, foi no Pacaembu onde abrimos o Red Hot Chili Peppers para mais de 50 mil pessoas ou a primeira vez que ouvimos uma música nossa nas rádios. Quando subimos por duas vezes no palco do Rock In Rio para grandes e memoráveis apresentações. Perdemos nosso companheiro de banda para a violência do Rio de Janeiro. Tivemos altos e baixos, lançamos um DVD acústico que não teve a devida atenção da gravadora mas explodiu espontaneamente na internet. São muitas histórias, desafios e superações que nos tornou uma das bandas mais importantes do rock nacional.

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Sempre rola uma discussão sobre a questão do rock, uns dizem que ele “morreu”, que está totalmente modificado. Enquanto veteranos do rock nacional, como vocês enxergam isso? E as novas bandas que estão tentando um espaço na cena brasileira?
Tico: O rock perdeu espaço nas mídias tradicionais. Nos Estados Unidos e Inglaterra foi praticamente trocado pelo hip hop pelos mais jovens, que adotaram o estilo como principal manifestação musical. Estamos diluídos em nichos, mas bandas veteranas como o Guns N’ Roses ou o Pearl Jam fazem turnês muito rentáveis e acessam os primeiros lugares entre as mais importantes do mundo dentre todos os segmentos. O fato é que a internet mudou a forma como as pessoas passaram a consumir e a conhecer os artistas, por um lado isso democratizou os espaços e tornou acessível a qualquer um uma vitrine para exibir seus talentos, por outro praticamente matou o iconísmo que sempre foi uma característica do estilo! Não temos mais figuras como o Kurt Cobain ou mesmo como o Axl Rose surgindo para alimentar o imaginário da molecada! Hoje eles se identificam com o Jay Z ou com algum ícone do rap. O que afastou um pouco o estilo da massa.

No Brasil, a situação é ainda mais difícil! Não temos mais quase nenhum espaço em rádios, as rádios de rock que resistem, se esforçam para manter no dial o estilo, porém o fazem por idealismo, pois a parte comercial sempre fica prejudicada. Já deve ter uns bons 15 anos que o sertanejo vem fazendo a trilha sonora dessas mais recentes gerações e isso cria uma memória emocional para quem nasceu e cresceu nestes tempos fazendo com que artistas de rock tenham uma dificuldade enorme de criar vínculos mais profundos com a juventude atual.

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E a meu ver, o rock ainda vem se tornando um estilo cada vez mais conservador, elitista e com uma visão bem ultrapassada das demais manifestações que estão presentes na cultura brasileira ou que o joga num gueto ainda menor. Morrer não morre nunca, mas está respirando por aparelhos! O que não quer dizer que não possa se levantar a qualquer momento, se situar e voltar a dialogar com a massa de jovens sedentos por novidades.

Aliás, você sempre foi de dar sua opinião sobre os mais diversos assuntos, inclusive de questões sociais e políticas. O cenário brasileiro atual pode acabar sendo uma “inspiração” para as próximas músicas do grupo como uma crítica, por exemplo?
Tico: Nesse disco tem uma canção chamada “Brother”, que aborda de forma bem carinhosa a questão social, não do ponto de vista político institucional, mas da forma existencial das relações que estamos experimentando! Principalmente em relação aos direitos individuais que estão em pauta diante de um olhar de intolerância, ignorância e ódio por parte da sociedade. Ela é um chamado aos irmãos e irmãs para que olhem pra o próximo com mais empatia. Estamos num momento de grave crise de representatividade política, grandes fraturas sociais e econômicas, então é natural que isso possa influenciar ainda mais para que no futuro novas canções surjam dentro desse contexto! Mas procurei abordar nesse álbum de uma maneira menos reativa e mais amorosa!

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Já fez alguma declaração polêmica que se arrependeu depois? Porque a gente sabe o quanto as coisas na internet parecem infinitas e deve ser até um pouco chato algumas vezes…
Tico: Muito do que falo por diversas vezes já gerou polêmicas! Com algumas eu aprendi e aprendo, com outras vejo que é o exercício de alguns em travar comigo um embate ou crítica, ainda que estejamos falando quase a mesma coisa! Quem se expõe a dar opiniões na internet deve estar consciente das consequências disso e eu nunca fugi das minhas responsabilidades como artista. Se me consideram formador de opinião é porque se importam com o que eu penso e, se se importam, minha parte está sendo feita na reflexão coletiva. Concordando ou não.

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Foram feitas diversas apresentações com o projeto Tico canta Cazuza… Como foi pra você fazer essa homenagem para um grande nome da nossa música e que é ídolo de tanta gente e de tantas gerações?
Tico: Foi uma homenagem e também uma utilização da obra do artista que de forma atemporal representa através de suas canções inúmeras questões e abordagens que servem para o momento que estamos vivendo no Brasil! Uma tentativa de chamar atenção das pessoas para palavras que já estavam sendo ditas lá nos anos 80 e, que depois de mais de 30 anos, ainda servem ao que estamos vivenciando! Uma maneira de gritar ‘gente, isso que estamos vivendo já aconteceu e ainda não fomos capazes de resolver os mesmos problemas, as mesmas insatisfações, os mesmos desejos!’ Cazuza, Renato, Raul fazem muita falta nos dias de hoje. Então trazê-lo para essa realidade atual é como mostrar a sociedade a importância de não nos determos à música apenas como entretenimento, mas também como alerta para resguardar nossas memórias e não continuarmos repetindo os mesmos erros.

De uma banda de rock consagrada para escritor de livros… Como é essa experiência? Rola meio que duas personalidades: a do Tico que canta e a do Tico que escreve? E qual tem sido o seu maior desafio enquanto escritor?
Tico: Escrever canções passa pelo processo da literatura, da poesia, da utilização das palavras para manifestar sensações, percepções, motivações, propósitos para a vida. Sempre gostei de ler e de escrever, então as duas formas estão dentro da minha mente como uma coisa única. Porém, na música, eu exerço uma estética diferente e procuro atingir as pessoas com uma linha de escrita mais poética, se posso por assim dizer, e nos livros eu uso a livre narrativa, não me enquadro em nenhum estilo literário, pois meus livros foram todos intuitivos.

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Manifestações da minha mente e do meu espírito na ânsia de colocar pra fora o que vivo e experimento. Eu preciso me expressar se não sufoco! Então, tanto a música como a literatura são canais para escoar todos os meus conflitos e minhas questões existenciais. Em outubro eu lanço um livro infantil e recebi um convite para escrever sobre a minha visão dos acontecimentos políticos dos últimos anos, algo que pretendo também publicar.

Poderia deixar um recado para os fãs do Detonautas que curtem a Nação da Música?
Tico: Conhecimento é poder!

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Avatar de Maria Mazza
Formada em jornalismo, considera a música uma de suas melhores amigas e poderia facilmente viver em todos os festivais. Bandas preferidas? McFLY e Queens of the Stone Age.