Entrevista Exclusiva: The Used comemora 15 anos de banda e relembra momentos no Brasil

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O The Used comemora em 2016 o aniversário de 15 anos de carreira, acumulando muita história e lembranças. A convite da Hopeless Records, a Nação da Música conversou com o baixista Jeff Howard nesta quarta-feira (13), que relembrou alguns momentos marcantes da banda, o que inclui a passagem pelo Brasil – e ele garante que pretende voltar.

Como parte da comemoração, o grupo divulgou recentemente o “Live and Acoustic At The Palace”, unindo os seus maiores sucessos em performances ao vivo e acústicas. Não deixe de ler nossa resenha aqui. Confira a entrevista:

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Perguntas/Entrevista: Veronica Stodolnik

Leia na íntegra ———————————————————————————————————

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NM: 2016 marca o 15º aniversário da banda The Used. Olhando pra trás, como você sente que foi a jornada de vocês até agora?

Jeph Howard: Você sabe, tem sido uma loucura. Passou muito rápido; o tempo realmente voa quando você está se divertindo. Mas ao mesmo tempo nós tivemos tantos altos e baixos em nossa carreira que parece mesmo que 15 anos se passaram, sabe? Mas eu estou muito feliz de ainda estar fazendo música e por ainda estarmos juntos depois de tanto tempo.

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NM: Quais foram os maiores obstáculos que vocês enfrentaram até hoje?

Jeph: Cara, foram muitos (risos). Sabe, aprender a viver em grupo é muito interessante. É como se fosse um casamento, mas de um jeito diferente; imagina ser casado com múltiplas pessoas (risos). Fica complicado, entende? Tem certas personalidades que você precisa aprender a viver e a lidar com, mas honestamente, eu acho essa a melhor parte; saber lidar com as pessoas do jeito que elas são, e eu digo isso do jeito mais positivo possível. Por que quando você coloca quaisquer pessoas juntas, quando você coloca animais juntos numa gaiola, eles vão acabar brigando mais cedo ou mais tarde. Nós vivemos dentro de ônibus por anos, entende? Então tem dez pessoas no nosso ônibus, e nós vivemos desse jeito. Mas nós temos uma sintonia tão forte que é como se fôssemos uma máquina — todas as pessoas que estão no nosso ônibus são nossos amigos; a nossa equipe, todo mundo, nós faríamos de tudo uns pelos outros. E se demora muitos anos para alcançar isso.

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NM: É como se você criasse uma família.

Jeph: Exatamente como uma.

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NM: Como que o estouro das redes sociais ajudou a banda a crescer? Vocês estão na estrada por muitos anos, então puderam vivenciar o triunfo e a queda do Myspace, assim como o lançamento de muitas outros, como Snapchat e Instagram. Vocês usam bastante redes sociais?

Jeph: Cara, é loucura (risos). Eu diria que isso nos ajudou a atingir pessoas que nunca tinham ouvido o nosso som antes, mas ao mesmo tempo, nós não queremos depender de redes sociais; preferimos que nossa música seja mais orgânica. Nós temos um Myspace… Opa, não, não temos um Myspace (risos). Temos um Facebook, Instagram, e acho que também temos um Twitter, mas não tenho certeza. Nós usamos essas redes sociais para divulgar o que acontece com o gente, mas não queremos depender delas para ter uma carreira. Eu acho que a parte triste disso é que hoje em dia muitas pessoas vão a shows só para filmar e depois poderem postar dizendo que estavam lá, sabe? Elas acabam perdendo o show, quando o ponto de ir para um show em primeiro lugar é estar nele e aproveitar. Mas eu entendo; eu entendo mesmo, tirar fotos, fazer um vídeo, querer capturar aquilo para ter como lembrança. Isso é incrível, e nós amamos ver os nossos fãs o fazendo. Mas ao mesmo tempo, ESTEJA no show, entende?

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NM: Vocês estão celebrando o aniversário da banda com a turnê de dois dias, onde vocês tocam os CDs “Self-Titled” e “In Love and Death” por inteiro. Muitas das datas fora esgotadas, e vocês tiveram até que adicionar datas extras no calendário. Como vocês se sentem em saber que, depois de tanto tempo, os fãs continuam fiéis a banda?

Jeph: Nós amamos nossos fãs! É muito bom, nossos fãs são incríveis. Eu não sei, eu não estive em turnê em nenhuma outra banda, mas os nossos fãs, ao redor do mundo todo, são muito entusiasmados, e estão felizes apenas por estarem nos show. E os fãs mais fanáticos são os melhores — não por serem fanáticos, mas por que eles sinceramente entendem o que a gente está tentando fazer com a nossa música; nós conseguimos ajudá-los com ela de alguma forma. Nós sempre dizemos isso, mas a melhor parte da nossa banda, a melhor parte de estar numa banda por esse tempo todo, é que nossa música foi completamente mudada para algo totalmente diferente do que ela era; ela está além de nós agora. Nós não temos o menor controle sobre o que ela se transformou, entende? É como se nós fossemos hospedeiros criando música para esses fãs que amam demais aquilo que eles interpretaram e aprenderam a partir de nossas músicas.

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NM: Como é que surgiu a ideia de fazer a performance acústica no The Palace [teatro localizado em Los Angeles, Califórnia, onde foram gravados o CD e DVD acústicos da banda]?

Jeph: Nós queríamos fazer algo do tipo por muitos anos, mas nunca era o momento certo. Mas logo antes dessa turnê de comemoração de 15 anos, lançar um CD que é praticamente uma coletânea de melhores hits acústicos foi o momento perfeito. Eu queria que você pudesse ter estado lá — eu queria que todo mundo pudesse ter estado lá, pois a gravação que fizemos, o DVD, é ótimo, mas não faz justiça ao momento. Foi tão melhor do que aquilo, tinha tanta coisa acontecendo… Foi uma noite muito bonita.

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NM: Eu estava no show, e realmente foi muito bonito. O que eu mais gostei foi como tudo pareceu muito bem planejado; desde o set até os vocais de apoio, tudo estava muito lindo e bem organizado. 

Jeph: Que massa, fico feliz em saber que você estava lá! (risos)

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NM: E pelo que eu pude ver pelas críticas, as pessoas realmente gostaram do evento. Vocês estavam esperando por isso?

Jeph: Cara, nós não fizemos isso pelas críticas; nós fizemos o show para todos esses fãs que queriam estar lá. E nem fizemos isso por nós mesmos, mesmo que fosse algo que queríamos fazer por tanto tempo. Nós queríamos proporcionar aos fãs que puderam estar lá aquela noite, já que foi um evento isolado e não tivemos a oportunidade de alcançar uma escala mundial, uma nova versão do The Used em todos os sentidos. Em outras palavras, quando nossos fãs vem nos ver, eles não estão esperando por cadeiras; não faz o menor sentido. Nós queríamos os assentos lá, isso foi planejado. Quando nossos fãs chegaram, eles estavam esperando por um set animado e por uma bagunça, mesmo que fosse um show acústico; eles estavam esperando por aquela animação e algo a mais, sabe? Então eles chegaram, se depararam com cadeiras, e de repente, o que eles esperavam do show foi completamente mudado; suas expectativas foram todas embora. Também tinha um panfleto em todos os assentos, não sei se você chegou a ver; eles descreviam todas as pessoas que estavam tocando, o que foi engraçado. E isso fazia parte também, por que nós não somos pessoas muito sérias. Mas nós queríamos que a galera sentisse mesmo como se estivessem indo a uma peça de teatro, e não como a um show do The Used.

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NM: Bandas como The Used, Taking Back Sunday e My Chemical Romance foram responsáveis por terem inspirado o movimento “emo” do começo dos anos 2000, e hoje podemos ver eventos de “noites emo” serem lançados ao redor do mundo numa tentativa de trazer de volta o movimento. Porém, vocês obviamente ainda estão na estrada, e continuam fazendo música do mesmo jeito que faziam a 15 anos atrás. Como vocês se sentem perante a isso?

Jeph: Você sabe, isso é bem esquisito. Eu sinto que fomos pegos no meio dessa cena emo mas que nunca fizermos parte dela, entende? Nós sempre fomos uma banda de rock que estava tentando fazer, honestamente, músicas de rock. Eu amo todas essas bandas, elas são bandas incríveis, mas não acho que fizemos parte do movimento mesmo que fôssemos conectados a ele. E eu não quero dizer isso como algo negativo, por que eu realmente amo todas essas bandas. Mas é bem legal ver essa tentativa de trazer o movimento de volta, como você disse, as “noites emo”. Eu sei que tem uma em Silverlake [bairro de Los Angeles] em que nós estivemos, foi insano (risos). A gente fez um show acústico surpresa lá uma vez, e foi muito legal.

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NM: O que você acha sobre o que tá rolando na indústria da música atualmente? Bandas de rock perderam um pouco a importância enquanto a música pop e hip hop se tornaram os maiores gêneros do momento. Isso os desencoraja a continuar escrevendo músicas e lançando CDs ou você acredita que tem o efeito oposto na banda?

Jeph: Todas essas músicas que você vê na TV agora, em premiações, todas elas são falsas, e isso é muito triste. Esses caras, outras pessoas escreveram as músicas deles, entende o que eu quero dizer? Não digo isso de todo mundo, mas você vê essas pessoas ganhando prêmios, e para que exatamente elas os estão ganhando? Elas estão ganhando prêmios por que uma terceira pessoa escreveu as músicas delas. Isso é estranho. Eu não tenho problema em uma pessoa escrever letras para outra, mas quando isso se torna num grande teatro elas viram músicas falsas, que não são reais. Infelizmente, os Estados Unidos tem muito disso, onde eles colocam algo na sua frente e insistem que é verdadeiro, mas não é (risos). Nós não nos associamos com isso, e também não nos importamos. Nós estamos escrevendo músicas, saindo em turnês, tocando com bandas incríveis, e temos fãs que vem aos nossos shows e entendem a mesma coisa; eles não se importam com esse mundo ilusório. Eles não querem viver num mundo falso, eles querem viver num mundo de verdade. E é incrível saber que tem uma espécie de movimento underground que vai contra isso.

NM: O que vem depois da turnê de 15 anos de aniversário da banda? Vocês estão planejando entrar em uma nova turnê ou começar escrever um novo álbum?

Jeph: Eu tenho quase certeza que essa turnê em que estamos agora vai ser estendida. Eu sei que temos umas datas na Austrália, e definitivamente vamos anunciar novas datas americanas logo mais. E… Cara, temos conversado sobre ir para a América do Sul, mas é tão difícil de ir para lá. Eu queria muito poder voltar; eu realmente espero poder levar essa turnê para lá, mas ainda não temos certeza. Eu quero muito mesmo, mas depende de promoters e muitas outras coisas.

NM: Vocês não vem ao Brasil já tem um tempo, certo?

Jeph: Sim, a última vez que estivemos aí foi com o Evanescence, e a única razão da gente poder ter ido foi por que o Evanescence nos levou junto.

NM: Qual é a sua memória favorita de ter tocado no Brasil?

Jeph: No Brasil? Cara, eu amo o Brasil. Eu sempre me diverti muito aí. Uma vez nós tivemos uma semana de folga entre turnês, o que é bem raro de acontecer. A gente estava no Brasil, e nosso próximo show era uma semana depois na Cidade do México. Muitos dos caras voltaram pra casa, por que todos temos famílias e tudo mais, mas eu fiquei com alguns amigos — ficou eu, o nosso técnico de bateria, o técnico de guitarra, e o responsável pela turnê. E nós fomos para… Está na ponta da língua! Não consigo me lembrar do nome, mas acho que em inglês significava “crocodilo” ou algo parecido. Mas de qualquer jeito, fomos para essa cidade — você provavelmente vai saber da onde estou falando se já esteve lá ou ouviu falar. Nós dirigimos umas três horas da onde estávamos… Cara, onde foi isso? Não era Curitiba.

NM: Você lembra aonde era? Talvez Sul, Sudeste, Norte…?

Jeph: Foi no Norte! (risos) Nós dirigimos três horas desse lugar, e de lá nós pegamos uma pick up e dirigimos por mais duas ou três horas. E aí o asfalto se tornou numa estrada de terra, que então se tornou numa areia amarela até virar areia branca; até que, de repente, a gente estava dirigindo no topo de dunas de areia. E aí tinham burros, e pessoas atravessando essas dunas não só neles como a pé também, e esse deserto foi algo que eu nunca tinha visto nada parecido antes. Era uma linda cidade pequena, totalmente cercada por areia, completamente alheia do resto do mundo. Foi realmente incrível (risos).

NM: O que te inspira mais durante o processo criativo de um álbum novo?

Jeph. Isso varia; depende do que está se passando em nossas vidas no momento. Em nosso dia a dia, todo mundo — humanos sempre tem problemas, bons e ruins. E todas essas pequenas coisas estão esperando para serem (ou não) criadas. É difícil dizer exatamente da onde a inspiração vem; ela pode vir da música que estamos ouvindo no momento, do que quer que seja que esteja acontecendo com nossas famílias, em nossas vidas pessoais, ou até mesmo do que está passando na TV. Criatividade é uma daquelas coisas que você não pode mandar acontecer; ela simplesmente acontece.

NM: Quais bandas você tem ouvido no momento? Você tem alguma recomendação legal?

Jeph: Tudo que eu tenho ouvido nos últimos dois anos são músicas afro cubanas (risos). Ebo Taylor, Fela Kuti, Seun Kuti… Todos os Kutis. E eu tive uma fase de Bob Marley (risos). Meu gosto musical está por toda parte; eu cresci ouvindo black metal, e de algum jeito isso se transformou em hip hop, que agora se transformou num gosto por músicas afro cubanas. Mas eu gosto de tudo, e estou sempre aberto para novos estilos alternativos e músicas diferentes.

NM: Você tem alguma mensagem para os fãs brasileiros?

Jeph: Sim! Nós não esquecemos de vocês! Nós os amamos muito, e eu prometo que realmente não nos esquecemos. Eu mesmo não me esqueci, e estou lutando muito para trazer a banda pro Brasil logo — e vou continuar tentando!

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Avatar de Veronica Stodolnik
Veronica Stodolnik: Paulista que mora nos Estados Unidos desde 2011, e colabora no Nação da Música com entrevistas e cobertura de eventos internacionais. Amante de música e literatura, atualmente cursa um mestrado de comunicações, não vive sem seu PS4 e assiste muitas séries de TV nas horas vagas.