Entrevistamos Day sobre o novo álbum “Bem-Vindo Ao Clube”

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Foto: Reprodução/Facebook

A cantora Day lançou o primeiro álbum da carreira, intitulado “Bem-Vindo ao Clube”, no dia 29 de julho. Com doze faixas e quatro videoclipes (até agora), a artista mostra sua influências do pop punk e cria seu destaque na cena com letras relacionáveis com a nova geração e um contexto que acompanha o repertório.

Após dois EPs e parcerias que fortaleceram ainda mais o estilo da cantora, o primeiro disco chega para mostrar mais facetas que se caracterizam como “seu som é tão Day”. A Nação da Música teve a oportunidade de conversar com Day sobre o novo trabalho, saber as histórias por trás das faixas, a parceria com Lucas Silveira e o lado pop punk explorado em “Bem-Vindo ao Clube”.

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Entrevista por: Mariana Calheiros
—————————————— Leia a íntegra:
Day, primeiro queria me parabenizar pelo álbum, está demais! Te acompanho há um tempo e da para ver como você evoluiu e como parece mais o seu jeito nesse projeto.
Que incrível, eu fico muito feliz quando as pessoas falam isso. Significa que de alguma forma eu permiti com que elas me conhecessem, né? Então é muito legal quando as pessoas escutam a minha música e falam “Nossa, isso é tão Day, né?”. Então, para mim, é como um objetivo alcançado. Obrigada mesmo.

Falando sobre o título do álbum, “Bem-Vindo Ao Clube”, e a primeira faixa já se chamar “Clube dos Sonhos Frustrados”, tem essa relação da mensagem do Pop Punk também, de acolher quem se sente meio deslocado? Como surgiu todo o conceito do álbum, desde o título?
Cara, eu comecei a escrever “Clube dos Sonhos Frustrados” no início da pandemia. Foi como uma forma de aumentar a situação que a gente tava vivendo, porque, naquela época, eu achava que ia durar uns trinta dias no máximo, e aí eu coloquei o trecho: “traçando metas enquanto o mundo finda”.

Eu lembro de querer fazer um disco meio na pegada da mensagem de “Boulevard of Broken Dreams”, do Green Day, e também baseado na minha história, que tem tudo a ver com o sonho desde sempre. Só que, de repente, virou uma coisa muito maior do que eu tava prevendo e acabou tendo ainda mais a ver com tudo que a gente tá vivendo e se tornando ainda mais acessível, né? Então, basicamente, eu aumentei aquela situação que acabou não sendo tão irreal assim.

Você sempre fala que o álbum tem uma ordem e realmente dá para perceber. Você compôs as faixas já pensando nessa ordem ou você viu as músicas e pensou que teria um sentido ali?
Sim, cara, a primeira frase escrita de “Bem-Vindo ao Clube” foi: “eu sei que eu sou de lua, dilúvio, difícil”, ainda no início do ano passado, em paralelo à produção do EP “A Culpa É do Meu Signo”. Eu achei aquela letra muito boa e pensei em guardar para o meu disco. E aí, quando eu fui compondo as outras faixas, eu já tinha escrito “Finais Mentem”, que era em outro arranjo, mas a história era meio que a mesma, e já pensei que essa iria para o final.

Conforme eu compunha, eu fui só encaixando o quebra-cabeça, porque já sabia qual história eu queria contar, era a minha história. Então foi meio que escrevendo e vendo o que eu precisava. Pensava “Bom, agora eu preciso disso, essa música precisa ter relação com essa música” e foi meio que brincar de quebra-cabeça. Esse lado foi bem divertido, mas, ao mesmo tempo, foi mais direto ao ponto. Eu não escrevi várias músicas para talvez entrar na história, eu escrevi para encaixar.

Cada pessoa que ouve o disco pode se relacionar com essa história de uma maneira. Mas, para Day como pessoa, qual é a história contada no álbum?
Eu acho que conforme o tempo vai passando, as entrelinhas vão ficando cada vez mais claras, mas eu acho que, pra mim, significa basicamente alguém que desde sempre sonhou muito alto e o seu primeiro sonho ali era de viver na luz, de poder ser quem realmente é, de poder gritar. O fato de ser mulher e sentir atração por outras mulheres, esse era um sonho que era frustrado e pôde ser realizado ao meio de muito caos. É um primeiro amor que ela [o eu-lírico] acha que vai durar a vida inteira, mas começa a ter altos e baixos quando ela fala que quer mudar de cidade e ir viver o sonho.

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E aí a outra garota vê que ela já não é mais o centro das atenções, o “eu-lírico” está buscando outras coisas e o relacionamento começa a dar aquela esfriada, mas, ao mesmo tempo, eu tô dependente desse relacionamento. Até chegar um momento em que finalmente percebo a minha dependência, reconheço que me faz mal, mas não quero abrir mão. Só aí falar não, isso tá me fazendo mal, não vou sobreviver e eu realmente decido abandonar, por mais que doa.

Em paralelo a estar em uma cidade também em busca dos sonhos e tendo suas expectativas frustradas. No final, é entender que a vida é isso, você cresce, você vai cair, levantar, se frustrar, você vai se realizar, algumas coisas que você achou que iam se realizar, não se realizam como você gostaria e outras coisas que você nunca imaginou ou cogitou gostar, acabam se realizando muito mais. E a vida é essa descoberta, a gente só sabe se vivemos um dia de cada vez e eu acho que a história toda culmina para isso em que muita gente consegue se relacionar.

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Sobre as composições, você disse que a maioria aconteceu durante a pandemia, nesse um ano e meio desde o seu último EP. Como é escrever essas letras que trazem sentimentos tão pessoais e sensíveis e levar para os produtores, para as outras pessoas comporem com você e abrir tudo o que se passa na sua mente para a música?
Eu acho que eu sempre fui muito natural em relação a expressar meus sentimentos. Acho que isso vem muito do meu ascendente em Câncer, eu sou muito intensa (risos). Eu sou muito emocionada realmente, então tudo para mim precisa ter um sentido quase romântico para eu poder entender ou me relacionar. Acaba que eu faço isso naturalmente, entendendo que tem gente que também se relaciona desse jeito.

Para mim, é meio que uma necessidade poder ser vulnerável, poder falar abertamente sobre os meus sentimentos para me libertar também. As pessoas se conectarem com isso é um bônus, porque gera uma conexão que faz as pessoas quererem ter mais disso e ir para os shows. É algo que acaba acontecendo muito naturalmente para mim, no final das contas. Eu gosto de falar sobre as minhas emoções.

Você lançou quatro clipes até agora, eles seguem a mesma ordem das músicas no álbum? Como foi pensar nessa produção?
Os clipes não necessariamente seguem a ordem exata, isso é uma coisa que as pessoas ficam tentando encaixar para contextualizar o que se passa. Acho que agora, com o disco, conseguem entender um pouco mais, como em ‘Dilúvio’ ela tá com os amigos falando de sonhos, um deles está com um caderno de desenho, o outro tirando foto, eu tô tocando violão, mas, ao mesmo tempo, dá pra perceber que tenho alguma insatisfação com a menina do meu lado, a gente tem alguma coisa, mas está meio sem definição e isso me deixa triste.

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Em “Não Gosto de Mim”, a gente contextualiza ainda mais em que você pensa “pô pera aí, elas estão juntas, mas ela tem um namorado escondido ou ela não é assumida? Ata, entendi, por isso que a Day está sofrendo, talvez um dos motivos seja esse”. Então é para gerar essa dúvida, e aí “Finais Mentem” também para contextualizar já ali mais para o final, eu tô mais frustrada e tudo deu errado.

É como se você colocar o clipe de “Diluvio” no começo que tem a roda de amigos com todo mundo falando dos sonhos, sobre o que quer ser quando crescer. E em “Finais Mentem”, a primeira imagem que você se depara sou eu com um monte de gente frustrada em um grupo de apoio a sonhadores frustrados. Aquele relacionamento que me fazia mal aparentemente acabou e me deixou daquele jeito, é meio que pra contextualizar.

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Os clipes não seguem uma historinha, senão eu teria feito realmente um filminho, mas eu queria mudar a estética, eu queria realmente brincar um pouquinho com isso para não fazer uma coisa muito óbvia.

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Às vezes é mais legal inovar do que você ter que seguir um padrão em todos.
E acabar deixando as pessoas pensarem e criarem! Eu gosto muito de possibilitar as pessoas a criarem suas próprias histórias. Então, para mim, é muito interessante ver as pessoas montando seus quebra-cabeças que não necessariamente é o que eu montei na minha cabeça. Ver as pessoas indo até muito mais além e acho legal, porque acaba fazendo as pessoas entrarem no meu universo, mas criando o delas.

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Uma das faixas do álbum tem a participação do Lucas Silveira e imagino que pra você, como uma boa emo, deve ter pirado com isso! Haha. O que você acha que essa parceria agrega para o seu álbum?
Cara, eu costumo brincar de ser quase um selo de verificação, é um respaldo muito grande, né? O Lucas é uma das maiores referências que a gente tem quando se fala de emocore e pop punk no Brasil. Ele realmente fez e continua fazendo história, um dos grandes produtores que a gente tem aí no Brasil e é muito versátil, ele é muito querido, muito talentoso, eu falo que ele é um gênio para mim.

É muito legal [ter essa parceria] especialmente por ser uma música tão fresca, porque nós poderíamos ter simplesmente feito um pop punk escrachado anos 2000, igualzinho, sem tirar nem por. Mas não, ele realmente produziu e fez uma coisa nova, botou lá um trap, que é algo super atual e que eu também gosto e me relaciono bastante.

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Musicalmente falando, gosto de colocar esses elementos nas minhas músicas e acabou que a música ficou bem surpreendente por ser com o Lucas. Para mim, é de uma satisfação imensa ter ele especialmente nessa música e nesse álbum, que explora e bebeu tanto da fonte dele mesmo, ele é o cara que sabe o que eu odeio e que viveu na pele.

Se a gente fizer um retrospecto no seu trabalho, os primeiros álbuns ainda eram um pouco mais pop, em um início de carreira. Mas desde o último EP, já deu para sentir um pouco mais das suas características do pop punk. Como você enxerga essa sua evolução dos seus trabalhos até chegar nesse primeiro álbum?
Eu costumo falar que eu finalmente entendi uma coisa em relação a mim, a minha arte e a minha vida de modo geral: eu realmente não posso me prender a nada. Em 2018, eu fiz o som que a Day queria fazer, a Day que eu era. Eu não cogitava botar bateria, por mais que fosse algo que me acompanhou por tempos. Aquela Day de 2018 queria fazer aquele EP do jeito que saiu, e a de 2019 viveu as coisas que ela precisava viver e escrever do jeito que ela queria.

Uma coisa que eu acho muito recorrente é que em todo lançamento meu as pessoas falam a mesma coisa, tipo “nossa, tá muito você”. Porque realmente é muito eu, então eu me enxergo hoje como inúmeras, talvez infinitas. O que eu mais quero é ficar testando cada uma delas e nenhuma dessas possibilidades vai deixar de ser eu. Isso é o que eu senti de fazer no meu coração nos últimos dois anos, é uma coisa que me reconecta com a minha vontade de sonhar, com a minha vontade de fazer música.

Esse gênero, essa sonoridade, tudo que tá acontecendo é uma coisa que eu precisava para mim, para me dar gás, me dar força, e é algo que tá batendo muito forte no meu coração agora. Eu enxergo só a Day do momento, eu vou sempre ser a Day do momento e eu sempre só vou poder falar pela Day de agora. Eu não consigo falar pela Day de amanhã e eu finalmente entendi e aceitei isso.

De uns dois anos pra cá, o pop punk teve um revival na gringa, e uma coisa que eu não posso deixar de comentar é que senti uma referência no seu álbum com o último disco do Yungblub, com essas letras relacionáveis que mais pessoas conseguem se conectar falando de aceitação.
Eu acho que é uma pauta recorrente, a gente tá precisando muito ouvir essa coisa de aceitação, e é na mesma vibe, né? Você falou e é verdade, é uma coisa que todo mundo sofre meio coletivamente. O Machine Gun Kelly com o álbum que chama “ingressos para a minha queda”, a minha música “Clube dos Sonhos Frustrados”. O Youngblud abraça todas as suas personalidades e auto-aceitação, que real no meu também tem isso muito forte. A Will Smith também tem seus questionamentos e no caso da Olívia Rodrigo, que não é pop punk, mas também incluiu um pouco ali, ela fala de uma adolescência que não é a dos sonhos dela, e é uma coisa recorrente. Como eu falei lá do “avenida dos sonhos despedaçados”, do Green Day. Então, é uma coisa que a gente acaba abraçando muito, é de quem vive mesmo. Tem toda essa relação do mundo e com o Yungblub, com toda certeza.

E como foi lançar o seu álbum, mais voltado para cena do pop punk, agora nesse momento que está numa crescente?
Cara, ano passado eu estava com medo, gerando expectativa. E aí, quando eu vi que o gênero tava realmente dando as caras aqui no Brasil também, eu fiquei um pouco mais esperançosa. Mas eu creio que a gente ainda tá plantando a semente e isso vai expandir.
Espero muito que isso reverbere nas bandas independente que estão aí também há muito mais tempo e que nunca deixaram de fazer seus sons, seja pop punk ou não. E que isso traga muitos frutos também no próximo ano nos shows. Eu creio muito nisso e eu quero muito fazer parte, eu tô plantando isso para virar um negócio monstruoso nos próximos anos aqui no Brasil, como já foi e tomara que seja mais. Meu Deus, eu só espero shows logo, porque eu não aguento mais. Hoje eu chorei pensando, eu tava ouvindo o meu disco imaginando a cena no show e eu chorei.

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Também não vejo a hora dos shows voltarem, quero essa vacina logo.
Graças a Deus vou vacinar essa semana, to animada!

Day, essas eram as perguntas que eu separei para a nossa conversa. Queria muito te agradecer pelo tempo e te parabenizar de novo pelo álbum que está incrível! Agora para finalizar, você pode deixar uma mensagem pro pessoal do Nação da Música que acompanhou a entrevista?
Posso sim! Pessoal do Nação da Música que tá vendo essa entrevista, um beijo pra vocês. Quero pedir encarecidamente para vocês irem lá ouvir meu disco, “Bem-Vindo ao Clube”. Que vocês se sintam compreendidos, se sintam abraçados e saibam que não estão sozinhos. Espero que, acima de tudo, vocês também possam curtir as músicas genuinamente e ter a experiência que eu sonhei que vocês tivessem. Bora escutar, espero que vocês gostem. Um beijo e obrigada aí pelo espaço!

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Mariana Calheiros
Mariana Calheiros
Estudante de jornalismo, tendo shows como habitat natural e uma boa trilha sonora da vida