Resenha: “Optimist” – FINNEAS (2021)

FINNEAS
Foto: Reprodução / Twitter

Mais conhecido como o irmão de Billie Eilish pelo público geral, além de seu produtor e co-compositor, FINNEAS soltou nesta última sexta-feira (15) o seu álbum de estreia, intitulado “Optimist”, como você pôde acompanhar aqui na Nação da Música. Mostrando seu talento para composição de letras emocionais e contando com um foco explícito nos versos e não na produção, o artista desenvolveu treze faixas sentimentais e que representam duas faces diferentes: a do produtor internacional e nome imenso na indústria da música, contra seu interno, emoções e seus relacionamentos.

FINNEAS consegue acertar no alvo com a primeira música, o single previamente revelado “A Concert Six Months From Now”. Sentimental e cru, começando com somente um violão, mas depois construindo com guitarras, efeitos vocais e até sons de uma plateia, a canção é um destaque. Sua voz entristecida combina surpreendentemente bem com a batida intensa mais próxima do fim – e também expressa perfeitamente a emoção contida nessa expectativa de um relacionamento que ele quis tanto que desse certo, mas que no fim acabou ruindo a sua frente, sem que pudesse fazer nada.

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The Kids Are All Dying” é uma das faixas que mais tiram o ouvinte da impressão de que está lendo o diário de FINNEAS – retirando qualquer intimidade ou relatabilidade que o artista tinha na faixa prévia. A produção é uma mistura de pop com música alternativa, conseguindo acompanhar as mudanças nos vocais do cantor – mas é nas letras que ele mostra sua distância de uma ‘pessoa comum’. O artista canta sobre sua vontade de que não fosse cobrado de sua posição política, entregando uma visão no estilo de ‘os dois lados são ruins’ e ironizando a questão de causas sociais no geral, que em sua posição como um homem branco rico acaba soando insensível ou como um certo vitimismo.

Em “Happy Now?”, no entanto, ele consegue resgatar um pouco de seu sentimentalismo – conseguindo equilibrar sua fama com o fato de que ele não está feliz. A faixa é um exemplo de que o artista tem preocupações válidas que merecem fazer parte de composições – mostrando inclusive um grande senso de autoconsciência, nunca tentando se retirar do mundo a sua volta. “Only a Lifetime” segue e voltamos ao FINNEAS sentimental e com composições emocionantes, começando com a frase “Como você sabe se você fez tudo certo?”. A produção é completamente focada em seu vocal e suas letras, nas quais ele expressa a ideia até meio clichê de que somente temos uma vida para viver, mas de uma forma única e que consegue tocar as emoções com versos como “Eu não estou preparado para que as pessoas que eu mais amo estejam perdidas / Ligo para eles vezes demais agora”.

O outro single previamente divulgado de “Optimist” foi a próxima faixa, “The 90s”, na qual FINNEAS expressa uma versão diferente da nostalgia pelos anos 90 que é constantemente vista na cultura pop. Desejando poder voltar para que pudesse realmente estar feliz durante essa década, além de criticar a hiperexistência e exposição que a internet proporciona. Um dos versos mais marcantes da canção é “Eu penso sobre os anos 90, quando o futuro era um testamento para algo belo e brilhante”, apontando a falta de esperança que ele, e de forma geral inúmeras pessoas hoje em dia, tem no futuro próximo ou mesmo distante.

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Love is Pain” é a segunda música explicitamente sobre amor do álbum, após a primeira faixa, e o artista consegue apontar diversos pequenos casos durante a trajetória de um relacionamento, no qual fica claro as dificuldades e obstáculos que o amor proporciona, junto de seus sentimentos positivos. A produção é basicamente uma série de teclas de piano, mas ele aprofunda os efeitos em sua voz na bridge da faixa, que explicita a negatividade da maior parte das experiências que FINNEAS teve com amor, especialmente no verso: “Se é fácil, se é divertido / Então algo está faltando”.

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A faixa “Peaches Etude” serve como um interlúdio para “Optimist” e expõe claramente o domínio completo de FINNEAS sobre as teclas de um piano – sendo ela tocada e não cantada em nenhum momento. A variação entre agudo e grave, além das pequenas pausas entre as melodias seguidas que ele apresenta na composição fazem dela um marco entre a tracklist do álbum – e sem falhar no sentimentalismo do projeto.

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Hurt Locker” é marcada por batidas que soam como batimentos cardíacos, aumentando em certos momentos e servindo como base da produção em outro, e estas representam muito bem a emoção que o artista insere em seus vocais. Quase gritando em certas passagens do refrão, quase sussurrando em outras seções, o cantor versa sobre um relacionamento que está caindo aos pedaços, no qual ele sente medo de ser completamente esquecido e no qual ele ressente as brigas – até expressando isso em uma das melhores metáforas do projeto inteiro: “Como se eu nunca tivesse aprendido a deixar uma guerra / Eu continuo voltando para mais”.

A seguinte faixa “Medieval” tem uma das produções mais interessantes de “Optimist”, com palmas constantes, guitarras e um talento para entender em que momentos diminuir as batidas e deixar sua voz ser a protagonista. No entanto, as letras são um tópico de incerteza: FINNEAS descreve uma conexão entre o destronamento de um monarca com o esquecimento ou crítica constante de uma celebridade – criticando a ideia de que as figuras públicas têm sempre de estar bem e que tem manter uma aparência perfeita. No entanto, o artista volta à ideia de que expressar-se politicamente é uma armadilha para celebridades, o que pode ser lido como uma ideia questionável, especialmente considerando que existem pessoas cuja própria existência é um ato político.

Someone Else’s Star” é a próxima e pode ser interpretada de diversas maneiras – mas nenhuma é menos triste e emocional. Com versos como “Foi em um passeio com a família inteira / Que você decidiu que era tão feliz”, a faixa pode ser lida como uma descrição de infância ou adolescência – na qual as outras famílias parecem tão perfeitas, enquanto a sua é tão falha. Mas em geral, a canção fala sobre não-pertencimento, a própria ideia de ser a estrela de outra pessoa, ou de estar desejando para a estrela de outra pessoa, é uma metáfora que correlaciona esse sentimento de não se sentir correto onde está, mas não saber como encontrar a si mesmo.

A seguinte música do álbum é a menos séria do projeto, “Around My Neck” é sexy, sensual e faminta. Nela, FINNEAS descreve o puro desejo que alimenta a relação sexual entre ele e sua parceira – descrevendo o que ele quer fazer com ela e como ela é, enquanto a batida repetitiva se mantém a mesma (pelo menos até o último refrão, quando tudo é intensificado, até mesmo seu tom de canto, que se torna bem mais alto.

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Sentindo como uma faixa digna de um musical, “What They’ll Say About Us” é regada ao piano e acompanhada de vocais de fundo que a dão uma profundidade única na produção – como se ela estivesse destinada a tocar em um grande show. As letras são frágeis e completas, tratando sobre uma pessoa em perigo ou doente, com ele certo que ela irá acordar até a última estrofe: “Se você não acordar, eu saberei que você tentou / Eu queria que você pudesse vê-lo, ele é igualzinho a você”.

Encaixando perfeitamente no final do álbum, a música “How It Ends” é uma das mais divertidas do álbum, transbordando de esperança, surpreendentemente – mas expressada de um jeito diferente, como esperado de FINNEAS. Ele afirma com certeza que esse não é o final, não tem como ser, que ainda eles “não irão abaixar suas canetas” e descreve a liberdade que isso oferece às quem percebe isso, “Se você quer dançar de novo, você pode dançar de novo”.

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FINNEAS em “Optimist” é sentimental, honesto e íntimo – pelo menos na grande parte das faixas do álbum. Em geral, o projeto envolve produções interessantes que marcam momentos profundos de suas letras, além de conseguir desenvolver composições emocionais que tocam o ouvinte.

Onde FINNEAS erra é nas temáticas de algumas das faixas – que acabam soando, ao invés de honestas e pessoais, como uma pessoa ‘reclamando de boca cheia’, se podemos dizer dessa maneira. As críticas à suposta cultura do cancelamento ou ao fato de que o público exige posicionamento político e social dele nos dias atuais sai de suas cordas vocais como certa insensibilidade ou falta de atenção ao que passa à sua volta. No entanto, quando fora dessas poucas faixas desconfortáveis, o artista floresce e consegue mostrar um projeto versátil e interessante, especialmente em suas produções.

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Pedro Paulo Furlan
Pedro Paulo Furlan
Estudante de jornalismo, não-binárie e apaixonade por música. Sempre aberte para ouvir qualquer gênero, artista ou década. O universo do pop, principalmente hyperpop, k-pop e synthpop, é onde eu vivo e sobrevivo.
Nas treze faixas de “Optimist”, FINNEAS é profundo e sentimental - conseguindo criar um projeto que é íntimo, amoroso e cheio de coração, mesmo que ele deslize nas temáticas de algumas das faixas.Resenha: "Optimist" - FINNEAS (2021)