Entrevista: Baleia fala sobre carreira, inspirações e planos para o futuro

Baleia
Foi em 2016 que a banda Baleia lançou o álbum “Atlas” que foi além do aspecto musical e ganhou uma versão física toda trabalhada nos detalhes do visual. Com uma jogada de criatividade e talento, o grupo agora continua na divulgação do disco e também fazendo suas apresentações pelo país – e até participaram do projeto AudioArena Originals.

No próximo sábado (5), eles se apresentação no festival CoMA, que acontece em Brasília entre os dia 4 e 6 de agosto – e você pode conferir todas as informações sobre o evento neste link. Por isso, a Nação da Música conversou com o Gabriel Vaz sobre como anda a carreira deles, os planos que eles têm para os próximos anos e o que os inspira na hora de compor.

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Entrevista por Maria Victoria Pera Mazza.

————————————————————————————————————— Leia a íntegra

Quando vocês lançaram o álbum “Quebra Azul”, lá em 2013, Baleia era considerada revelação musical. Hoje com o segundo disco “Atlas” vocês já se consolidaram como uma banda de rock nacional. Como foi esse processo até aqui?
Gabriel: Fico muito feliz que nos veem como uma banda consolidada no cenário musical. Ser artista independente no Brasil é uma batalha constante e a sensação é a de que nunca estamos pisando em terra firme. Nossa, difícil responder essa pergunta… Talvez seja mais fácil pra alguém de fora responder do que pra nós. Dentro da banda o processo é vivo, presente e constante. O que posso dizer é que lutamos muito, sacrificamos muito, nos divertimos e crescemos muito nesses quatro anos desde o lançamento do nosso primeiro álbum. Depositamos muito dos nossos sonhos e do nosso coração. Ao mesmo tempo, a sensação é de que está tudo em aberto. Ainda não enxergo um platô do qual podemos ter uma visão panorâmica do nosso caminho até aqui. Ainda estamos suados no meio da estrada (risos).

Baleia é composta por seis integrantes e, criativamente, vocês parecem se dar muito bem porque tudo o que fizeram até hoje tem uma singularidade sem tamanho. Mas na prática é fácil assim mesmo ter tanta cabeça pra pensar junto? Ou tem bastante discordância até chegar no resultado final?
Gabriel: Não é fácil. Nem um pouco. É muito legal estar num grupo de cabeças tão criativas e engajadas, mas isso resulta em muitas visões e opiniões contrastantes. O processo de criação da banda é, geralmente, um caos. Até encontrarmos a interseção de todos os pensamentos, é cansativo. Mas o trabalho vale a pena. Acaba-se criando algo que está além da individualidade de cada um, que nos parece vivo por si só.

O lançamento de “Atlas” na versão física foi feita de uma maneira bem diferente, como um livro ilustrado mesmo… Como foi a repercussão com a galera? Vocês acreditam que, com essa explosão de streaming, é necessário inovar para manter certas tradições, como a de adquirir um disco físico?
Gabriel:
A repercussão foi incrível. Temos muito orgulho desse trabalho. É, literalmente, uma extensão da música no disco. Vivemos num tempo onde muitas coisas estão perdendo a importância funcional. O disco físico é uma delas. Não há mais a necessidade de se ter um para escutar música. Estamos chegando num ponto onde a própria ideia de lançar um álbum está se enfraquecendo.

Porém, quando certas ideias perdem a necessidade prática, uma porta se abre. Podemos reconectar com a essência das coisas e ressignificá-las. Isso está acontecendo em campos que extrapolam o da música. Na literatura, no cinema, na gastronomia. Ninguém mais precisa ter um livro feito de páginas de papel, ninguém mais precisa ir ao cinema pra ver um filme com toda a qualidade possível, ninguém mais precisa ir a um restaurante pra ter uma refeição diferente. Tudo isso nos obriga a reentendermos o verdadeiro valor de cada coisa, despido de suas funcionalidades superficiais e mercadológicas. Libertos dessa responsabilidade mercadológica, podemos nos aprofundar muito mais nas possibilidades de qualquer coisa. Claro, a popularidade pode diminuir, porque a necessidade não está mais lá. Mas o significado há de se enriquecer. Fizemos um álbum-livro que custa mais caro, mas que contém muito mais valor artístico. Menos pessoas vão comprar, mas muitas estão dispostas a gastar mais por um objeto poético, um objeto que aproxime elas ainda mais do universo do disco.

Dois álbuns na conta, parcerias, show no Lollapalooza e indicações a prêmios. Imagino que mesmo com tantas conquistas, vocês ainda têm outros sonhos para serem concretizados com a banda. Então, o que mais almejam para os próximos anos profissionalmente?
Gabriel:
Honestamente, seria incrível um dia poder sobreviver apenas da banda. E poder, cada vez mais, investir e botar no mundo as nossas ideias. Só isso já tava bom demais! Mas sabemos a realidade do país versus a proposta da banda. Temos que ter paciência e ir crescendo um degrau de cada vez, sem nunca abrir mão dos nossos valores.

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Suas músicas têm todo um caráter poético e com diversas reflexões. Tudo isso é, necessariamente, resultado de experiências pessoais ou carrega um pouco de “ficção” também?
Gabriel:
É sempre fruto de experiências, reflexões e sentimentos pessoais. Só que transformados em uma linguagem mais poética. Que nada mais é do que uma espécie de mitificação da realidade. Transformar pensamentos e sensações mundanos em símbolos, personagens e pequenas fábulas psicodélicas – que são muito mais potentes ao serem absorvidas e reverberadas dentro da subjetividade de cada um. Até porque, nada escapa à subjetividade das pessoas. Nem o quadro do Picasso, nem essa entrevista, nem a cor azul. Ficção é eu achar que alguém vai entender absolutamente a minha experiência pessoal com qualquer coisa.

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Entre um álbum e outro, a gente já consegue perceber o amadurecimento da banda e quanto o som passa a ser ainda mais representativo em relação ao que vocês se propuseram a fazer. Vocês também se sentem dessa maneira? Ou quais sentimentos esse segundo disco passa em relação ao primeiro?
Gabriel:
O “Quebra Azul” é o som da banda se descobrindo e experimentando em todas as direções. O “Atlas” é um disco mais focado e bem intenso. Não à toa, o nome do disco, além da referência aos mapas, é o nome do titã da mitologia grega condenado a segurar os céus nos ombros. É um disco mais explosivo e compenetrado. A mim, hoje, percebo que ele acabou soando como uma purgação sonora necessária a banda.

Poderiam deixar um recado para os seus fãs que acompanham a Nação da Música?
Gabriel:
Antes de mais nada, se vocês estão lendo essa entrevista, vocês já merecem toda nossa gratidão. Obrigado pelo interesse, por apoiar não só a musica independente, mas o jornalismo musical também. Pouco a pouco, a música alternativa brasileira está ganhando o espaço que merece e isso é graças a vocês que buscam, compartilham, dançam, cantam e criam a nova cena brasileira.

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Maria Mazza
Maria Mazza
Formada em jornalismo, considera a música uma de suas melhores amigas e poderia facilmente viver em todos os festivais. Bandas preferidas? McFLY e Queens of the Stone Age.