Na última sexta-feira (19), Lana Del Rey apresentou ao mundo um lado cansado dos holofotes no sétimo disco de estúdio da carreira, intitulado “Chemtrails Over The Country Club”. Durante uma conversa com Annie Mac, ela revelou: “Esse é o primeiro álbum no qual, eu diria, eu sabia o que eu queria que ele fosse, mas eu… Eu não sabia se tinha chegado lá”.
Em 2020, a cantora foi alvo de acusações de racismo após declarar que é sempre crucificada por, supostamente, “glamorizar abusos”, quando outras cantoras fazem a mesma coisa. Contudo, não há como negar completamente que as letras de Lana, especialmente no início de sua carreira, romantizavam relacionamentos conturbados. Não há nada errado em gostar delas, mas é necessário ter noção de certo e errado.
O sucessor de “Norman Fucking Rockwell” começou a ser idealizado também em 2019, de acordo entrevista concedida ao The Times, de Londres. Na ocasião, Del Rey havia declarado que ele se chamaria “White Hot Forever” (frase que aparece na letra de “Tulsa Jesus Freak”, conforme falaremos em breve).
Conforme mencionamos no início dessa resenha, a cantora expressou em duas conversas diferentes, com Jack Antonoff e Annie Mac, que não fazia ideia de qual seria o tema principal desse projeto inédito. Ela co-assina a produção, ao lado de Antonoff e Rick Nowels, com quem ela já havia trabalhado anteriormente em “Lust For Life” (2017) e “Ultraviolence” (2015), por exemplo.
Com Antonoff, ela também falou sobre o quanto as pessoas a conhecem realmente, respondendo de certa forma às críticas que sempre ouve sobre suas letras serem problemáticas e romantizar relacionamentos potencialmente abusivos: “O que é insano sobre a pandemia é o fato de ter trazido à tona todos essas crises envolvendo problemas mentais e domésticos que sempre estiveram lá, eu sempre cantei a respeito e as pessoas tinham tanto a dizer, como ‘ela estava fingindo fragilidade emocional’. E, tipo, ‘bom, na verdade não. Você está fingindo união emocional apesar do fato de você ser doido de segunda a sexta'”.
Durante a previamente citada conversa com Mac, a autora de “Born To Die” declarou “algumas pessoas são obcecadas com crescimento e aprendizado, enquanto eu estou apenas tentando encontrar onde sou mais feliz” e, talvez, ela esteja trilhando esse caminho no momento apesar de ainda sentir o peso de todas as críticas negativas que recebe ao longo de toda a sua carreira. “É muito complicado para mim, porque quando você está promovendo um álbum, você recebe tanta crítica mesclada”, finalizou.
“Chemtrails” é composto por 11 canções, todas escritas por Lana e seus produtores, com exceção da última “For Free”, de Joni Mitchell. Pelo visto, esse não será o único material inédito dela que conheceremos em 2021. No Instagram, ela divulgou o título “Rock Candy Sweet” para o dia 1º de junho, sem dar informações adicionais. E, ainda bem que essa resenha pode soar tão pessoal quanto eu gostaria pois, ouso dizer que ela inovou novamente.
Quando ouço um disco pela primeira vez, eu geralmente presto mais atenção nos aspectos técnicos (melodias, harmonias e afins) do que nas letras, por exemplo. A princípio, eu pensei que ela estava apostando completamente em algo novo o que, depois de ouvir mais de 4 vezes, e estudar um pouco mais, entendo que estava errada. Embora seja um som menos comercial, que investe no folk, country e até mesmo no trip-hop, não é nada absolutamente novo pra quem é fã da artista (e, quanto ao último gênero mencionado, ela deveria investir novamente no futuro!).
Inclusive, Lana declarou em entrevista à MOJO que considera “Ride” e “Video Games” canções country, antes de passarem pelo processo de remasterização que as tornou sonoramente mais pop. “Chemtrails” evoca completamente o sentido de interior, a vontade de comprar um rancho, passar o dia ouvindo Joni, Bob Dylan, Neil Young, Leonard Cohen, entre outros ícones do gênero e essa necessidade está presente em todas as canções dele.
As melodias são baseadas principalmente no piano, guitarra acústica, com aparições do tamborim, bongo, cordas e tudo que um bom disco de folk precisa ter. Liricamente falando, relacionamentos e seus diversos aspectos continuam sendo um tema forte, além de religião e reflexões acerca da vida em geral.
“White Dress” abre essa viagem, faixa na qual Lana fala um pouco sobre seu passado como garçonete, quando tinha 19 anos, ouvia The White Stripes e Kings of Leon. Existe um senso de nostalgia e liberdade sobre o qual ainda ouviremos bastante ao longo de todo esse álbum. À MOJO, ela disse:
“Eu tenho certeza que a grama é sempre mais verde, mas eu me diverti bastante sonhando com o que estava por vir. Além disso, eu realmente gostava de ser prestativa e eu ainda gosto disso – eu faço muitas coisas em meu tempo livre que me colocam, de certa forma, de volta nessa posição”, revelou. “Às vezes eu sinto que, com a fama, você é colocado em precipícios no qual os abutres podem te pegar. É perigoso ficar nas bordas”, desabafou.
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Em seguida, ouvimos “Chemtrails Over The Country Club”; single divulgado pela cantora em janeiro, juntamente com um clipe no qual ela passa por uma transformação, tanto interior quanto exterior, após ser levada por um furacão, tal qual a Dorothy em “O Mágico de Oz”. Aqui ela ainda faz trocadilhos astrológicos e referências a trabalhos anteriores como “hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but i have it” (2019) na qual ela dizia: “Don’t ask if I’m happy / You know that I’m not / But at best you can see I’m not sad” em contraposição com a versão 2021: “I’m not unhinged or unhappy, I’m just wild”.
“Eu ouço o álbum e penso ‘trabalho’, mas eu também penso nas minhas belas amigas, sobre quem tanto falo aqui, e minhas lindas irmãs. ‘Chemtrails’ é a faixa-título porque menciona todas elas e o desejo de querer ser normal, junto com a percepção de que quando você tem uma mente hiperativa e excêntrica, é um álbum assim que você vai conseguir fazer”, revelou na já citada conversa com Jack Antonoff.
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Lana volta a fazer paralelos entre relacionamentos, lealdade e religião em “Tulsa Jesus Freak”. Essa é a faixa na qual ouvimos o termo “white hot” que ganha diversos significados de acordo com diferentes dicionários, mas no contexto da canção está ligado ao sentimento de “excitação” e “entusiasmo”. Na sequência temos o carro-chefe, “Let Me Love You Like a Woman”: primeiro single promovido dessa obra inédita. Aqui a autora fala sobre a necessidade de sair de Los Angeles, personagem tão presente ao longo dos seus seis álbuns anteriores e uma das cidades mais populares dos Estados Unidos, o centro do culto à celebridades.
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Lana continua abraçando sua natureza livre e selvagem em “Wild At Heart”, que também pode ser uma referência ao filme de 1990 do diretor David Lynch (“Twin Peaks”), estrelado por Nicolas Cage e Laura Dern. Na produção, o casal formado pelos atores previamente citados fogem de casa para viver o romance sem a interferência de seus pais. “Dark But Just a Game” é a faixa que mais me surpreendeu quando ouvi pela primeira vez: eu nunca esperei ouvir esse estilo musical aqui e foi uma ótima surpresa. A frase que dá nome à faixa foi dita por Antonoff, de acordo com o Genius, após ele ouvir a cantora desabafar sobre o quanto a fama pode levar um artista a locais terríveis e chegar à conclusão de que nunca mudaria pois, ela ama a pessoa que é.
Em “Not All Who Wander Are Lost” o tom vocal de Del Rey está suave, quase angelical. Aqui ela confidencia ao ouvinte sobre a sensação de desorientação que todos experienciam em algum momento da vida, colocando em palavras que “not all those who wander / all those who wander / all those who wander are lost / it’s just wanderlust”. A faixa também faz referência à mesma frase de autoria de J.R.R.Tolkien, presente na trilogia “O Senhor dos Anéis”.
“Yosemite” deveria ter sido revelada no álbum “Lust For Life” porém, em conversa com Zane Lowe pouco antes do lançamento do trabalho previamente citado, Lana inicialmente brincou dizendo que a faixa “era muito feliz e não estamos lá ainda” e posteriormente se corrigiu, revelando que ainda estava chegando no local sobre qual fala nessa letra então, não fazia sentido apresentá-la ao público naquele período. Assim como em “Mariners Apartment Complex”, onde ela afirma “I ain’t no candle in the wind”, aqui ela diz “You make me feel I’m invincible / Just like I wanted / No more candle in the wind”.
Em “Breaking Up Slowly”, Lana recebe a artista country Nikki Lane e as duas cantam sobre a vida de Tammy Wynette, refletindo sobre os infortúnios que a vida sob os holofotes causam às pessoas. “Dance Till We Die” é a penúltima música dessa obra e faz menção à Stevie Nicks, Joan Baez (com quem Lana dividiu o palco durante sua turnê em 2019), Courtney Love e mostra, mais uma vez, um lado de Del Rey que quer apenas aproveitar a vida e sossegar, longe das luzes brilhantes da cidade grande. O trecho “We’ll keep walkin’ on the sunny side / And we won’t stop dancin’ ‘til we die” conversa com “When the World Was at War We Kept Dancing” (2017).
Nada melhor do que fechar um álbum que passeia bastante pelo folk do que um cover de Joni Mitchell. Aliás, melhor que isso só se ela mesma aparecesse nessa colaboração. De qualquer forma, Zella Day e Weyes Blood abraçam esse papel lindamente, finalizando com essa reflexão sobre talento e fama. “For Free” foi originalmente lançada em “Ladies of the Canyon”, de 1970.
Vale lembrar que essa não é a primeira vez que Del Rey finaliza um álbum falando sobre “liberdade”. Há quase quatro anos vimos esse mesmo cenário com a música “Get Free” (2017), a diferença aqui é o contexto. Enquanto no cover, Mitchell reflete sobre a própria vida ao ver um artista de rua exibindo seu talento sem cobrar nada por isso, na faixa de “Lust”, Lana fala sobre se libertar da depressão: “out of the black / into the blue”.
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