Resenha: “Ofertório” – Moreno, Zeca, Tom e Caetano Veloso (2018)

Caetano Veloso
Créditos: Divulgação / Twitter

Caetano Veloso lançou em 2017 o projeto “Ofertório”, com os filhos Moreno, Zeca e Tom. No dia 25 de maio de 2018, o produto chegou oficialmente aos streamings em forma de CD ao vivo com 28 músicas, desde os maiores sucessos até as inéditas.

“Ofertório” oferece – com o perdão do trocadilho – ao público uma reunião de família na forma mais natural e verdadeira possível. Pelo menos é assim que vejo o que seria um almoço na casa dos Veloso. Tendo assistido ao show no João Rock também ajuda a aflorar o sentimento. Por isso indico que, além de ouvir, também assistam aos vídeos que estão disponíveis no canal do YouTube de Caetano.

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A abertura é com “Alegria, Alegria”, canção marcante do movimento Tropicalista e que foi lançada em 1967. Caetano puxa aqui a voz para si, deixando Tom no baixo, Zeca no piano e Moreno com o pandeiro. É no refrão que acontece quase que uma introdução aos herdeiros Veloso: em harmonia, os quatro cantam “eu vou, por que não?”.

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A primeira reação em “O Seu Amor” – canção do álbum “Gil Luminoso” (2006), de Gilberto Gil – é balançar a cabeça, porque é isso o que as harmonias causam. São pouco mais de 4 minutos de faixa com frases e arranjos vocais bem distribuídos, além do complemento entre os violões de Caetano, Moreno e Tom. Aqui ouvimos pela primeira vez o falsete incrível de Zeca, é bom guardar na memória para daqui a pouco.

“Boas Vindas”, do álbum “Circuladô” (1991), de Caetano, chama atenção por um detalhe especial nas mãos de Moreno: um prato e um talher, mostrando que para construir música não precisa de muito. Ela é seguida por “Todo Homem”, primeira inédita de “Ofertório”. Ela é linda, arrepia e deixa escancarado o talento de Zeca, na composição e na voz. Ele leva a música no piano e no falsete, acompanhado de baixo e violão de Tom, Caetano – que também conduz a melodia ao assobiar – e Moreno. Os quatro encerram juntos: “Todo homem precisa de uma mãe”.

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“Genipapo Absoluto” traz de volta às clássicas de Caê, essa de “Estrangeiro” (1989). Mais uma vez, as harmonias de violões e vozes são os destaques. “Um Passo à Frente” é composição de Moreno Veloso e Quito Ribeiro. Ela despe Caetano de seu violão e o empolga em alguns movimentos de dança. A barra da saia também levanta as palmas do público, que acompanha até Tom brincar solando no violão.

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“Clarão” é mais uma inédita, trazendo também um novo elemento ao palco: o violoncelo de Moreno. Na verdade, são dois novos detalhes, já que é aqui que o caçula Tom ganha destaque na voz, fazendo dueto com o pai. “De Tentar Voltar” é outra composição de Moreno, dessa vez em parceria com Domenico Lancelloti em 2014, feita sob medida para as melodias do primogênito. Ela é seguida por “A Tua Presença Morena”, do álbum “Qualquer Coisa” (1975), com um ar mais Brasil pandeiro.

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“Trem das Cores” (1982) prossegue com o dueto de Caetano e Moreno, dessa vez o patriarca se despe mais uma vez de seu violão para dar total atenção ao filho. Ele que, mais uma vez, usa de objetos ordinários para construir sonoridades: duas lixas se roçam criando o barulho de um trem enquanto Caê assobia.

“Um Só Lugar” é guiada pelo mais novo e pelo mais velho aos olhos do pai. Cézar Mendes e Tom são os compositores. “Alexandrino” é, até aqui, a maior surpresa de “Ofertório” – e uma das boas. Um funk composto por Caetano Veloso que ganha forma nos passos descalços e divertidos de Tom.

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“Oração Ao Tempo” (“Cinema Transcedental”, 1979) parece ser uma das músicas mais relevantes considerando o cenário do projeto. Caetano, de 75 anos, canta e dá show ao lados dos filhos Moreno, 45, Zeca, 26 e Tom, 21. É uma oração ao legado e talento dos Veloso. Zeca, que ficou escondido por algumas faixas, puxa “Alguém Cantando” (“Bicho”, 1977) mais uma vez com seu falsete herdado. O refrão é lindo em acapela, com a voz de Caetano em evidência, Zeca mais agudo, Moreno e Tom harmonizando.

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“Ofertório”, música que dá título ao disco, funciona quase que como um interlúdio em violão e voz de Caetano. A canção foi composta por ele em 1997 para a missa em homenagem aos 90 anos da mãe Dona Canô. Ela fala diretamente a Deus, de forma belíssima, e veio das mãos de um ateu.

“Reconvexo” chega para deixar tudo mais em família. A música foi um presente de Caetano para a irmã Maria Bethânia, que a gravou no álbum “Memória da Pele”, de 1989. Ela passeia pela Bahia com diversas referências, inclusive à Dona Canô, que é ovacionada pelo público quando mencionada.

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“Você Me Deu” é composição de Zeca com o pai. Gal Costa, madrinha artística dele, interpretou a canção em 2015 no álbum “Estratosférica”. Aqui ela ganha nova versão na voz do filho do meio que harmoniza com Caetano e o caçula.

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O álbum “Bicho” é mais uma vez lembrado, dessa vez seguidamente. Primeiro, Caê canta os nomes de “Gente”. Depois, “O Leãozinho” é feita de sorrisos e assobios. Ela é cantada quase que em totalidade por Moreno. Enquanto isso, Caetano assobia e canta a última estrofe. “Ninguém Viu” é a próxima, enriquecendo o repertório de inéditas. Ela é também composição de Moreno e Quito Ribeiro.

“Ela E Eu” (“Mel”, Maria Bethânia, 1979) é a vez de Tom assobiar ao som do pandeiro, mais um presente de Caetano à irmã. A vencedora do Grammy latino, “Não Me Arrependo” (“Noites Do Norte”, 2000), traz o afeto familiar já tão evidente no palco.

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“Um Canto de Afoxé Para o Bloco do Ilê” teve a influência de Moreno já lá em 1982, quando ele ainda era uma criança. Baiano como o pai, complementou “Ilê Ayê” com “como você é bonito de se ver”. O canto é uma homenagem ao carnaval da Bahia e o agudo que canta o nome do bloco, agora feito pelo jovem Tom, já foi da voz de Moreno.

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A clássica “Força Estranha” é entoada pelos quatro de forma bela, sinalizando o fim. Moreno é também o destaque de “How Beautiful Could a Being Be”, última música antes do bis e um samba bem baiano e Veloso de 1997. Foi um presente que ele deu ao pai, segundo as próprias palavras de Caetano. O primogênito até mesmo se levanta, com prato e faca em mãos e o samba no pé. É seguido pelo patriarca logo depois.

O desfecho estava feito e perfeito. Mas o violoncelo sinaliza “Canto de Um Lugar / Um Tom” e a volta da família Veloso. Pai e filhos cantam, juntos, ao sol, para depois, Zeca e Caetano usarem o falsete característico também em união, pela primeira vez. “Deusa do Amor” é cantada na voz e sorriso de Moreno, pronta para encerrar mais uma vez, só que de verdade.

“Tá Escrito”, composição de Xande de Pilares, Gilson Bernini, Carlinhos Madureira e do repertório do Grupo Revelação, é puxada pelo tímido Zeca para encerrar “Ofertório”. Caetano oferece a música aos filhos, assim como faz com o show. Ele usa seu legado da melhor maneira possível, mostrando ao mundo o talento que ele já conhece e incentiva.

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“Ofertório” entrega ao público uma reunião de família de maneira belíssima. Não tem o que tirar, não tem o que pôr. O álbum é apenas o áudio retirado de um grande show dos Veloso, que foram premiados por talento, cada um à sua maneira, mas todos com influência de Caetano. A mistura dos clássicos consagrados com o novo de qualidade fazem o truque, assim como um dos maiores nomes da MPB dando voz ao funk.

A recomendação é: assista ao vivo se possível. A agenda pode ser encontrada no site oficial de Caetano. A turnê está concentrada na Europa atualmente, mas tem algumas datas no Brasil para o final do ano.

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Giovana Romania
Giovana Romania
Música é uma das minhas coisas favoritas do mundo. Formada em Jornalismo, amante da cultura pop e little monster sofrida.
"Ofertório" dá o gostinho do que seria uma reunião familiar dos Veloso. Reunião muito bem feita por sinal. Caetano dá aos filhos Moreno, Zeca e Tom um destaque merecido: são compositores, passeiam pelos instrumentos do palco e têm na voz características muito parecidas com a do pai. Vale a pena ouvir uma, duas e mais uns milhões de vezes.Resenha: "Ofertório" - Moreno, Zeca, Tom e Caetano Veloso (2018)